O homem mais rápido do mundo parou. Ao menos por um instante e antes do previsto, o jamaicano Usain Bolt, 29, anunciou nesta segunda (7) que não vai mais competir em 2015, com vistas aos Jogos Olímpicos do Rio.

Bolt volta a treinar em outubro e deve competir a partir de maio, quando disputará uma vaga na Rio-2016. Apesar de todos os títulos e recordes recentes, o jamaicano ainda não tem vaga garantida nos Jogos.

No momento, ele e mais 14 jamaicanos já alcançaram o índice estabelecido pela IAAF (federação internacional que rege o atletismo) para os 100 m na Olimpíada (10s16). Mas, pelas regras, só são permitidos três atletas por país em cada prova na Rio-2016.

A data da seletiva da Jamaica, que deve definir o trio, ainda não foi marcada. Se repetir 2012, será cerca de um mês antes dos Jogos. Naquela ocasião, Bolt perdeu as finais dos 100 m e 200 m para o companheiro Yohan Blake. O que não se repetiu nos Jogos de Londres.

Já entre os brasileiros, nenhum atleta fez o índice de 10s16 até o momento. Os tempos já estão valendo desde 1º de maio de 2015 e precisam ser estabelecidos até 11 de julho de 2016. Os Jogos do Rio serão de 5 a 21 de agosto.

Bolt já têm o índice para os 200 m também (20s50). Aliás, ele e mais seis jamaicanos. Entre os brasileiros, nesta distância, Bruno Barros (20s41) e Aldemir da Silva Júnior (20s44) já alcançaram tal tempo neste ano.

Os revezamentos jamaicanos, assim como os brasileiros, já estão garantidos no Rio também.

Cada comitê olímpico nacional pode estabelecer as formas de qualificação que desejarem para a Olimpíada, desde que tenham os tempos de classificação exigidos pela IAAF.

No caso brasileiro, se houver quatro ou mais atletas que atendam às condições de classificação para cada prova, a convocação será realizada da seguinte forma: o campeão do Troféu Brasil de 2016, depois os dois primeiros do ranking brasileiro de adultos, no período de 1º de de janeiro até 3 de julho de 2016.

Usain Bolt

No anúncio que fez via Facebook, nesta segunda, de que não competirá mais em 2015, Bolt alegou que precisa descansar.

"Já estou pensando no próximo ano e na Olimpíada de 2016, onde vou tentar defender os meus títulos nos 100 m, 200 m e no revezamento 4 x 100 m. Vou desfrutar de uma curta pausa de treinamento agora para recarregar antes de voltar aos treinos no próximo mês", escreveu Bolt em sua conta no Facebook.

Após ganhar três ouros no Mundial de Pequim, em agosto, ele desistiu de participar dos 200 m na etapa de Bruxelas (Bélgica) da Liga Diamante, na sexta (11). "Estou feliz de terminar a temporada sem lesões e pronto para 2016".

Nos últimos meses, Bolt sofreu com problemas físicos que o tiraram de boa parte da temporada de 2014 (lesão no pé) e de algumas provas em 2015 (inflamação no quadril).

Por esse motivo, técnicos ouvidos pela Folha acreditam que a decisão é correta.

"Bolt mais uma vez provou que é o velocista com o maior domínio [das provas que disputa] em todos os tempos. Seu técnico, Glenn Mills, fez um tremendo trabalho trazendo-o de volta das lesões e levando-o à forma para um grande 2016", avalia o treinador norte-americano George Cleare, da Universidade da Geórgia (EUA).

Técnico da atual vice-campeã mundial dos 400 m, Shaunae Miller, de Bahamas, Cleare acredita que as grandes competições é que definem Bolt. "Uma vez saudável, vejo algo muito especial vindo de Bolt e um recorde mundial nos 200 m [19s19, do próprio jamaicano] acho que vai acontecer", projeta.

Treinador da seleção brasileira, Katsuhico Nakaya aprova a decisão. Para ele, aos 29 anos, Bolt já não é "tão jovem", o que "aumenta o risco de lesão". Nakaya lembra também que "o objetivo dos patrocinadores foi atingido com os três ouros no Mundial", e o velocista já não precisa mais competir em 2015 "por questões financeiras" (o que aconteceria com outros atletas).