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    Ídolos rebatem fala de Roberto de Andrade sobre Democracia Corintiana

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    16/10/2015 02h00

    As declarações do presidente do Corinthians Roberto de Andrade sobre a Democracia Corintiana na CPI do Futebol nesta quarta (14) repercutiram negativamente.

    "Aquilo [Democracia Corintiana] pouco contribuiu ao clube. Foi um ato dos atletas, que não trouxe benefício algum. Chamou a atenção da mídia porque não tinha concentração e se ouvia dois, três jogadores, que mandavam no elenco. Ficou cravado como ato fora de série, mas não entendo assim. Ao clube, trouxe muito pouco benefício", afirmou.

    Em entrevista à Folha, os ex-jogadores Wladimir, Zenon e Biro Biro rebateram a fala do presidente do Corinthians.

    "Queria saber se ele sabe o que é uma democracia. Além disso, ele não tem condição de falar sobre a Democracia Corintiana. Quem era Roberto de Andrade no universo do Corinthians? É uma pessoa totalmente ignorante no assunto", disse o ex-lateral Wladimir, uma das principais lideranças do grupo, ao lado de Sócrates e Casagrande.

    Gestado no processo de abertura política do país, no início dos anos 1980, a Democracia defendia a participação ampla na definição da agenda do clube, das contratações ao local da concentração.

    Ao tomar decisões pelo voto, com inclusão de todos os funcionários, o movimento pretendia apresentar um modelo político democrático em período de autoritarismo no Brasil.

    "Em um país que sempre foi muito alienado, a gente queria demonstrar que a consciência política teria contribuição nos destinos do Brasil", acrescentou Wladimir.

    O ex-meia Zenon vê "atrevimento" no depoimento.

    "A Democracia fez o time ser mais conhecido mundialmente. Ouvi o [ex-jogador francês] Cantona dizer que gostaria muito de ter participado do movimento. O Corinthians passou a ser muito mais reconhecido fora do país", disse.

    Biro Biro adotou tom mais comedido, mas também divergiu do presidente corintiano.

    "Eu não ouvi as declarações, mas os títulos conquistados pela Democracia foram muito importantes. Além disso, para o país, o movimento foi maravilhoso, uma novidade, acabou pegando. Anos depois, o país passou pela abertura democrática", contou.

    Ele também refutou a análise de que "dois ou três mandavam no elenco".

    "O grupo tinha seus cabeças, que todos conhecem: Casagrande, Wladimir, Sócrates. Mas nós tínhamos reuniões, das quais todos participávamos. Não obedecíamos aos três. Eram decisões tomadas em reuniões", explica.

    Nesse ponto, Zenon é enfático.

    "De jeito nenhum, de forma nenhuma [que obedeciam a alguns]. Todos faziam parte, sim. O peso do voto do Sócrates era o mesmo do voto do mordomo. O grupo era uma unidade", apontou.

    Ao lado do também goleiro Emerson Leão, Rafael Camarata opôs-se à Democracia no período. Hoje, ele vê razão nas declarações de Andrade.

    "Eu penso igual a ele. Eu sofri na carne. Não era uma democracia de verdade, muitos não participavam. Assim como eu, muitos ficavam de fora das decisões. Mas as pessoas têm medo de falar", disse o ex-goleiro.

    Um dos principais mentores do Bom Senso, movimento de atletas pela melhoria do futebol, o zagueiro do Cruzeiro Paulo André também se posicionou criticamente.

    "Não sei em que contexto a frase foi dita, então fica difícil de emitir uma opinião. De qualquer forma me parece uma declaração infeliz que demonstra desconhecimento de um momento importante da história do clube e do país", disse.

    "O time corintiano, bicampeão paulista no período da Democracia, ajudou a quebrar o pensamento único e dominante de que só modelos autoritários de gestão podiam ser vitoriosos nos clubes de futebol. Infelizmente, ele não se estendeu à participação de atletas, treinadores e torcedores nas federações e na CBF. Essa é uma luta que deve ser empunhada pela geração atual", completou.

    "A falta de democracia nas entidades de administração do desporto é um dos principais problemas do esporte brasileiro", concluiu o zagueiro que foi campeão mundial pelo Corinthians em 2012.

    Procurado pela Folha, Roberto de Andrade não respondeu as declarações

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