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    Morre Joaquim Mamede, polêmico chefão do judô brasileiro por 21 anos

    DE SÃO PAULO

    02/11/2015 19h11

    Roberto Price - 15.mar.01/Folhapress
    Joaquim Mamede segura placa oferecida pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) no seu último dia de trabalho na sede da Confederação Brasileira de Judô, no Rio, em 15 de março de 2001
    Joaquim Mamede segura placa oferecida pelo COB (Comitê Olímpico do Brasil) no seu último dia de trabalho na sede da Confederação Brasileira de Judô, no Rio, em 15 de março de 2001

    Morreu neste domingo (1º), aos 86 anos, o polêmico ex-presidente da CBJ (Confederação Brasileira de Judô) Joaquim Mamede de Carvalho e Silva.

    Chefão do judô nacional por mais de duas décadas, ele ocupou o cargo de presidente da entidade entre os anos de 1985 e 1990 e foi superintendente da CBJ de 1979 a 1984 e, depois, de 1991 ao início de 2001.

    Segundo informou a CBJ no início da tarde desta segunda-feira (2), ele faleceu no Rio de Janeiro. A causa da morte não foi informada. O sepultamento ocorreu nesta segunda, no cemitério da Cacuia, na Ilha do Governador, no Rio.

    "O professor Mamede foi um dirigente marcante no esporte brasileiro, em especial no judô. Se autointitulava como 'rude', sempre em tom de brincadeira e, adepto da 'democratura' que, segundo suas palavras, unia a democracia –consultava seus os aliados– e 'ditadura' –não mudava a decisão tomada. Uma das suas marcas positivas foi a abertura do espaço para o judô difundir-se nas regiões Norte e Nordeste do Brasil e o incentivo ao judô feminino competitivo", disse o atual presidente da CBJ, Paulo Wanderley Teixeira, por meio da assessoria de imprensa da entidade.

    Durante a presidência de Mamede, o Brasil conquistou o primeiro ouro olímpico no judô com Aurélio Miguel, em Seul-1988, e os primeiros ouros de mulheres em Jogos Pan-Americanos, na edição de Indianópolis-1987, com Mônica Angelucci e Soraia André.

    POLÊMICO

    A trajetória vitoriosa de Mamede, porém, não resultou em popularidade para o dirigente entre os atletas. Seu confronto com o campeão olímpico Aurélio Miguel se arrastou até sua saída da CBJ.

    Os conflitos entre Mamede e Miguel começaram por causa do sistema de seletivas para a formação das seleções brasileiras. Problemas relacionados com dinheiro também ajudaram a azedar o relacionamento.

    No início dos anos 90, a CBJ foi acusada de irregularidades pelo TCU (Tribunal de Contas da União) e condenada.

    Com a CBJ sem patrocínio e sem receber verbas do governo federal por causa da pendência no TCU, os judocas passaram a ter que arcar com os custos em torneios internacionais -com exceção de Pan-Americanos e Olimpíadas, bancados pelo COB.

    Surgiram então as acusações de superfaturamento dos preços das viagens por parte da CBJ.

    Mamede entrou na CBJ em 1979, como ele mesmo diz no "cargo de nada que fazia tudo". Segundo o dirigente, o então presidente da entidade, Miguel Martinez, "só assinava".

    Em 1981, com mudança de presidente, Mamede foi convidado para o cargo de diretor técnico. O dirigente chegou à presidência e cumpriu dois mandatos. Como o estatuto da CBJ não permitia mais uma reeleição, ele resolveu inscrever Joaquim Mamede Júnior, seu filho, para concorrer.

    Em 1991, Mamede Júnior obteve o primeiro de seus três mandatos. Seu pai passou então a ocupar o cargo de superintendente. Se Mamede não era presidente de direito, era de fato.

    Paulo Wanderley assumiu a entidade em 2001, conseguiu regularizar a situação no tribunal e voltou a receber verba pública, mas também já teve dor de cabeça por causa de dinheiro.

    Sob a administração da família Mamede, ocorreram grandes crises entre os judocas e o comando da CBJ, como contou à Folha o campeão olímpico de 1992, Rogério Sampaio.

    "Participei de um movimento com a seleção principal que lutava por melhores condições para o judô [contra a confederação] e fomos afastados de todas competições internacionais de outubro de 1989 a janeiro de 1992. Para se ter uma ideia, em 1991, eu e alguns atletas fomos jantar em uma churrascaria em São Paulo com o representante do Comitê Olímpico da Bolívia. Houve um convite e a gente quase se naturalizou boliviano. Mas acabou não dando certo", disse o judoca no especial "Meu Momento Olímpico".

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