Homem forte das negociações de direitos de transmissão esportivas desde os anos 1990, Marcelo Campos Pinto deixará na próxima semana suas funções na Globo Esportes, braço do Grupo Globo que cuida da compra dos direitos de torneios de futebol e de outros esportes, inclusive dos Jogos Olímpicos.

A empresa diz que Campos Pinto vai se aposentar ao final do ano, mas até lá permanecerá dando apoio à organização da nova estrutura da área de esportes.

Em comunicado interno distribuído nesta quinta-feira (5), Roberto Irineu Marinho, presidente do Grupo Globo, informou que a Globo Esportes passa a ser subordinada ao Comitê de Direitos Esportivos, que já existia e é formado por Carlos Henrique Schroder (diretor-geral da Globo), Alberto Pecegueiro (diretor-geral da Globosat) e Jorge Nóbrega (membro do conselho administrativo do grupo).

	Márcio Neves-16.mar.2011/Grêmio.Net
	Marcelo Campos Pinto (esq.), executivo da Globo Esportes

No comando da Globo Esportes ficará Pedro Garcia, atualmente diretor dos canais e produtos de esporte da Globosat.

A Folha apurou que Garcia já protagonizou as últimas reuniões entre a Globo e clubes de futebol. No dia 27 de outubro, quando a empresa apresentou aos cartolas números de venda de pacotes de pay-per-view e o valor da premiação do Campeonato Brasileiro, foi Garcia quem comandou o encontro, apesar de Marcelo Campos Pinto estar presente.

"As causas das mudanças já foram explicadas em comunicado interno: alteração na estrutura de negociação de direitos esportivos e o processo de aposentadoria de Marcelo Campos Pinto. Qualquer coisa além disso é mera especulação. A estrutura da nova Globo Esportes englobará as equipes e atividades de TV Globo e Globosat já envolvidas nos processos de aquisição de direitos esportivos", informou comunicado do Grupo Globo.

O último grande contrato fechado por Marcelo Campos Pinto foi a renovação do acordo da Globo com a Federação Paulista de Futebol, em outubro, para a aquisição dos direitos de transmissão do Campeonato Paulista até 2021. Houve desgaste na negociação, principalmente na assinatura para a TV fechada, já que a empresa enfrentou concorrência do Esporte Interativo. O valor total acertado ficou em R$ 170 milhões por ano.

Segundo comunicado do Grupo Globo, a mudança tem como objetivo "aprimorar sua competitividade num mercado de enorme concorrência internacional". A empresa destaca ainda que dessa forma poderá "oferecer produtos de qualidade crescente para os torcedores brasileiros", além de "manter relações fortes com os clubes, sempre aberta ao diálogo e às parcerias em busca dos melhores formatos e do fortalecimento do futebol e do esporte brasileiros".

Marcelo Campos Pinto se tornou um dos homens mais influentes do futebol brasileiro a partir dos anos 2000, quando Ricardo Teixeira comandava a CBF, já que a TV Globo foi por bastante tempo a principal fonte de renda dos clubes ao comprar os direitos de transmissão dos principais campeonatos do país, como o Brasileiro, estaduais e a Copa do Brasil. Na época, alguns presidentes de clubes apostavam, até, que Campos Pinto poderia se tornar o próximo presidente da CBF.

A influência diminuiu com a diversificação do rendimento dos clubes, que passaram a ganhar mais com patrocínios e rendas de jogos e de sócios torcedores. Em maio de 2015, durante festa de encerramento do Campeonato Paulista 2015, Campos Pinto deu depoimento emocionado no palco e elogiou o então presidente da CBF, José Maria Marin.

Menos de um mês depois, o cartola foi preso na Suíça acusado de pagar propina para vender direitos comerciais de torneios como a Copa América e a Copa do Brasil para empresas de marketing esportivo. A investigação do Departamento de Justiça dos EUA não incluiu as emissoras de TV que adquirem esses direitos das empresas investigadas.

Procurado, Marcelo Campos Pinto não atendeu às ligações ou respondeu às mensagens por celular.