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    OPINIÃO

    Só os operários que fundaram o Corinthians estão acima de Tite

    EDUARDO SCOLESE
    EDITOR DE "COTIDIANO"
    LEANDRO COLON
    DE LONDRES

    08/11/2015 02h00

    Se a diretoria do Corinthians pensa em preservar a história do clube, deve providenciar algo especial para Tite na sala de troféus do Parque São Jorge.

    A campanha para o hexacampeonato brasileiro consolida o gaúcho Adenor Leonardo Bachi ao patamar de personagem mais importante dos 105 anos de história corintiana. É o maior nome de todos os tempos.

    Não há, desde 1º de setembro de 1910, jogador, dirigente ou treinador que tenha um papel tão relevante como ele em termos de conquistas.

    Até a volta de Tite ao Corinthians, no final de 2010, Oswaldo Brandão figurava como o técnico mais importante. Não era por menos: Brandão dirigiu o time em duas das principais conquistas do século 20: 1) no Campeonato Paulista de 1954, no célebre troféu conquistado já no início de 1955 em cima do maior rival, no quarto Centenário do aniversário da cidade de São Paulo; 2) e coincidentemente, no título seguinte, em 1977, pondo fim ao histórico jejum de 22 anos de fila.

    Muitos dirão que os tempos são outros e que não se pode comparar momentos distintos do futebol.

    Aceitemos o argumento, igualando, por exemplo, as conquistas da Libertadores de 2012 e do Paulista 77, pela expectativa e pressão que as antecederam.

    Mesmo assim, Tite foi além: levou o pentacampeonato brasileiro meses antes e, em dezembro de 2012, recolocou o clube no topo do planeta, com a conquista do bicampeonato Mundial, no Japão. Ali, Tite deixou Brandão para trás e virou definitivamente o maior treinador mosqueteiro.

    Tite, porém, tem sido mais do que um simples treinador. É um comandante. Um líder que não se omite e acumula uma longa lista de decisões duríssimas e acertadas.

    Em 2011, por exemplo, sacou do time o então irregular zagueiro Chicão, mesmo ciente que se tratava de um dos líderes do time desde a campanha da segunda divisão, três anos antes. Mesmo sob risco, fez o que tinha de ser feito.

    Outra decisão complicada, mas também correta, veio em 2012, quando sacou o goleiro Julio César e escalou Cássio como titular dos mata-matas da Libertadores. Agora, em 2015, para remontar o time, colocou o experiente e líder Ralf no banco.

    Tite ganhou cada vez mais o respeito do grupo e da torcida. Criou uma casca de comandante. Casca que usou de forma brilhante em Yokohama. Primeiro quando olhou nos olhos de cada jogador e fez cada um deles acreditar que era possível, sim, jogar de igual para igual contra o Chelsea ("Vai Corinthians, é nóis, mano", disse na última coletiva antes da finalíssima). E, segundo, quando sacou Douglas, titular da semifinal, e escalou o polivalente Jorge Henrique na grande decisão para jogar como uma espécie de segundo lateral-direito no auxílio ao capitão Alessandro.

    Enumerar ídolos é complicado. Alguns jogadores figuram na galeria de importância pelas conquistas e pelo papel desempenhado dentro e fora do campo. Assim foi Marcelinho Carioca na década de 90, sendo o jogador que mais ganhou títulos com a camisa alvinegra.

    Assim foi Sócrates no começo dos anos 80, com os títulos Paulistas e o movimento da Democracia Corintiana. Como importante também foi Neto ao ganhar praticamente sozinho o primeiro Brasileirão, em 1990, ou Luizinho, o Pequeno Polegar, maior ídolo dos anos 50. Sem falar de Neco (o primeiro grande ídolo), Teleco, Baltazar.

    Rivelino foi um dos melhores (senão, o melhor) que passou pelo campo, mas a geração de times medíocres que carregou nas costas o deixam de fora de qualquer lista de protagonismo em termos de conquistas.

    Talvez somente os operários do Bom Retiro que fundaram o clube em 1910 estejam acima de Tite. Afinal, sem eles, não haveria Corinthians. Mas é certo que nem esses italianos e espanhóis imaginavam que 105 anos depois um treinador faria tanto em tão pouco tempo. Certamente pediriam uma estátua para ele.

    Eduardo Scolese e Leandro Colon se conheceram na arquibancada há mais de uma década. Estiveram juntos com outros 30 mil torcedores na invasão ao Japão

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