• Esporte

    Saturday, 27-Apr-2024 23:01:49 -03

    Logo do Especial Rio-2016

    Obra olímpica 'secreta' é mais rápida sem licitação, diz prefeito do Rio

    ITALO NOGUEIRA
    DO RIO

    08/11/2015 14h55

    Felipe Hanower/Folhapress
    Pavilhão 6, que vai sediar as competições de boxe na Olimpíada, está em obras há quase dois meses
    Pavilhão 6, que vai sediar as competições de boxe na Olimpíada, está em obras há quase dois meses

    O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), afirmou neste domingo (8) que o acordo sem licitação com a empresa francesa GL events para erguer a arena de boxe da Olimpíada de 2016 foi vantajoso para o município. Para ele, uma concorrência pública "ia demorar muito mais".

    Ao aceitar custear investimentos de R$ 72 milhões no Riocentro –dos quais R$ 50 milhões referem-se ao novo pavilhão que será sede do boxe nos Jogos– e na Arena Olímpica do Rio, a empresa teve estendido por mais 30 anos a concessão do segundo espaço, que também administra.

    "A gente tinha uma negociação possível e mais rápida. Foi um belo ganho. Se eu faço um processo licitatório ali ia demorar muito mais", disse o prefeito, na entrega do prédio do IBC, centro de transmissão das imagens da Olimpíada de 2016.

    O contrato original, assinado em 2007, previa uma concessão de nove anos –término previsto para o ano que vem. A renovação quadruplicou o prazo da HSBC Arena, como é chamada, sob administração da GL.

    "Todo contrato de concessão tem uma cláusula que prevê uma renovação. Se não tivesse essa possibilidade, não teríamos feito. Passou pela Procuradoria [Geral do Município], pela Controladoria, pelo Tribunal de Contas do Município. [...] A gente renovou a concessão e economizamos dinheiro público e do comitê organizador e ganhando um equipamento permanente.", disse o peemedebista.

    Inicialmente, a arena de boxe seria uma instalação provisória erguida pelo comitê organizador. O novo pavilhão 6 será permanente e explorado pela GL após os Jogos.

    Com o acordo, o município vai receber ao menos 20% menos pelo "aluguel" da Arena, que gera uma receita de R$ 18 milhões anuais à GL events.

    O primeiro contrato assinado com a empresa francesa previa o pagamento de R$ 27 milhões em parcelas mensais ao longo do período –uma média de R$ 3 milhões ao ano. A extensão do acordo por 30 anos foi feito em troca de um investimento imediato de R$ 72 milhões –média de R$ 2,4 milhões ao ano.

    Paes afirmou que não se pode comparar o somatório de parcelas ao longo de nove anos com um gasto imediato. "Não pode fazer conta de regra de três", disse.

    SECRETA

    O prefeito disse que o novo pavilhão 6 do Riocentro não foi incluído na atualização da Matriz de Responsabilidade, em agosto, porque o contrato ainda não havia sido assinado. Formalizado no dia 3 de setembro, o acordo para a construção de uma instalação permanente estava decidido desde março, de acordo com a GL events –os seis meses seguintes foram tomados por processos burocráticos no município, segundo a empresa.

    "A gente só vai incluir na matriz de responsabilidade depois que a gente bate o martelo. Se eu colocar na matriz tudo o que eu estiver pensando... A matriz é séria. É um instrumento formal que a gente quer tratar com seriedade", disse Paes.

    A metodologia da Matriz permite a inclusão de obras definidas como necessárias para os Jogos, ainda que um acordo não tenha sido formalizado. Nesse caso, ela é listada sem definição do gasto.

    Foi o que ocorreu, por exemplo, com a reforma da Marina da Glória feita pela concessionária BR Marinas. Ela está presente na matriz desde sua primeira versão, divulgada em janeiro de 2014, embora o acordo que a viabilizou tenha sido assinado apenas em julho de 2014.

    Em agosto, a Folha revelou que governos omitiram mais de R$ 400 milhões em gastos com os Jogos na atualização da Matriz. A ausência do pavilhão 6 do Riocentro, cuja identificação não era possível à época, foi o primeiro caso de ocultação de gasto com uma arena.

    Com ela, o gasto com obras para a Olimpíada não registrada nos documentos oficiais chega a R$ 489 milhões. O custo oficial dos Jogos é, até o momento, R$ 38,7 bilhões.

    A Matriz foi criada pela APO (Autoridade Pública Olímpica) como forma de prestação de contas à sociedade sobre o prazo das obras e seus custos. Ela também é usada como orientador para a fiscalização de órgãos de controle, como o TCU (Tribunal de Contas da União). A omissão dificulta cobranças sobre eventuais atrasos ou estouro de custo.

    IBC

    Paes participou da entrega do prédio do IBC, no Parque Olímpico da Barra. O "estádio da imprensa televisiva", como chamou o prefeito, é o local de onde parte a transmissão das competições olímpicas. O prédio vai abrigar cerca de 70 emissoras internacionais.

    O comitê organizador será o responsável por realizar o acabamento da estrutura, que custou R$ 300 milhões. A obra foi feita por meio da PPP (parceria público-privada) do Parque Olímpico, de R$ 1,7 bilhão. Dois terços desse valor é dinheiro privado financiado pela Caixa Econômica Federal, e outro terço pago pelo município com a transferência dos terrenos para o Consórcio Rio Mais, que toca a obra.

    O edifício principal do IBC foi construído em um terreno com 34 mil m² e tem 21 metros de altura e dois andares. No total, são 12 estúdios de aproximadamente 5 mil m² de área cada um, com 12 metros de altura no térreo e oito metros no segundo pavimento. Após os Jogos, o local será um edifício comercial.

    Edição impressa
    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024