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    Agência antidoping pede suspensão da Rússia de competições de atletismo

    DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

    09/11/2015 12h36 - Atualizado às 00h22

    Matt Dunham/Associated Press
    A russa Mariya Savinova, campeã olímpica dos 800 metros e que está envolvida em caso de doping
    A russa Mariya Savinova, campeã olímpica dos 800 metros e que está envolvida em caso de doping

    Um relatório de 323 páginas divulgado nesta segunda-feira (9), em Genebra, por uma comissão independente criada pela Agência Mundial Antidoping (Wada, na sigla em inglês) apontou que a Rússia desenvolveu cultura "profundamente enraizada de fraude" em seu esporte, sobretudo o atletismo.

    Após 12 meses de investigação, a força-tarefa encontrou evidências de que governo (por meio de seu serviço secreto), federação esportiva, médicos, atletas e técnicos participaram do esquema.

    O estopim para a investigação foi o documentário "Top Secret Doping: How Russia makes its Winners" ("Doping Secreto: Como a Rússia faz seus Vencedores"), levado ao ar pelo canal alemão ARD em dezembro de 2014. O filme denunciou as irregularidades.

    A Interpol disse que vai coordenar uma ação global contra corrupção e doping.

    Os desdobramentos podem tornar esse caso o mais escandaloso da história do esporte desde a fundação da Wada (1999), que criou código antidoping internacional.

    A Wada é uma entidade independente criada pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). O objetivo da agência é, em associação com organizações intergovernamentais, autoridades públicas e entidades privadas, liderar a luta mundial contra o doping.

    Tamanha é a dimensão da denúncia que a comissão recomendou à Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo) a suspensão de todas as competições internacionais da modalidade. A sanção incluiria também os Jogos do Rio, em 2016.

    A Rússia é potência no atletismo -foi a segunda em medalhas em Londres-2012.

    A comissão também pediu à Wada o descredenciamento do laboratório de Moscou, cujo diretor, Grigory Rodchenko, foi apontado como colaborador do esquema.

    Ele admitiu ter destruído 1.417 testes antidoping para limitar a ação da auditoria.

    Ian Macnicol-26.jan.2013/AFP
    A russa Ekaterina Poistogova, medalhista de bronze na prova dos 800 metros na Olimpíada de Londres, em 2012
    A russa Ekaterina Poistogova, medalhista de bronze na prova dos 800 metros em Londres, em 2012

    Ainda segundo o relatório, foi identificada a presença de agentes do serviço secreto FSB (órgão que sucedeu a KGB) tanto no laboratório de Sochi, que serviu aos Jogos Olímpicos de Inverno-2014, como no de Moscou.

    O olhar vigilante da FSB criava "uma atmosfera de intimidação" para a realização dos testes.

    Além disso, o governo russo interferia diretamente nos dois laboratórios, cujos resultados das análises foram tidos como suspeitos. O de Moscou teria recebido pagamento para esconder testes que poderiam revelar doping.

    A comissão disse ter descoberto um segundo laboratório na capital russa, com estrutura idêntica ao do credenciado, que seria usado para acobertar testes positivos.

    Outras irregularidades, como coação e pagamento de propina a oficiais de coleta, também foram apontadas.

    ENVOLVIMENTO ESTATAL

    Para Richard Pound, que chefiou a Wada e presidiu a comissão independente, seria inconcebível que o ministro do Esporte do país, Vitaly Mutko, não estivesse a par do esquema. Mutko lidera a organização da Copa-2018. "É pior do que pensávamos", disse Pound, na Suíça.

    A comissão disse que os Jogos de Londres foram "sabotados" devido à inação de autoridades esportivas nacionais e internacionais. A afirmação está ligada à Rússia.

    Cinco técnicos e cinco atletas do país estavam envolvidas no esquema, como Mariya Savinova, ouro nos 800 m em 2012 (veja nomes acima). Elas podem ser banidas. Não está claro qual seria o papel delas no esquema.

    "Estes são dias obscuros", afirmou Sebastian Coe, presidente da Iaaf desde agosto, que deu até o fim de semana como prazo final para que a Federação Russa de Atletismo responda às acusações.

    O conselho da entidade se reunirá entre os dias 25 e 27, em Monte Carlo, onde deve deliberar sobre a sanção ao atletismo russo.

    Seu antecessor, Lamine Diack, é investigado pela Justiça francesa por conivência com doping e corrupção. Nesta segunda, o Comitê de Ética do COI (Comitê Olímpico Internacional) recomendou sua suspensão provisória do posto de membro honorário.

    No Brasil, o secretário nacional da ABCD (Autoridade Brasileira de Controle de Dopagem), Marco Aurélio Klein, disse que o caso é lição.

    "Para nós, reacende o alerta de que há muito a fazer até os Jogos do Rio", disse. A meta da ABCD é que a Olimpíada não tenha caso positivo.

    Medalhas conquistadas pela Rússia

    OUTRO LADO

    O ministro do Esporte da Rússia, Vitaly Mutko, disse que a Wada "não tem direito" de suspender o país e que não há provas contra a Federação Russa de Atletismo. "Não importa o que fazemos, tudo é ruim", afirmou.

    O ministro também disse que a Wada é que teria pedido a destruição das 1.417 amostras no laboratório de Moscou e que esse procedimento não teria servido para limitar a ação da auditoria, como afirmou o diretor do laboratório, Grigory Rodchenko.

    Por fim, Mutko ameaçou cortar as verbas governamentais para ações antidoping. "Se tivermos que fechar todo o sistema, melhor. Só vamos economizar dinheiro".

    Para Vladimir Uiba, chefe da Agência Médica e Biológica Federal, que presta assistência médica aos atletas russos, o relatório tem "motivação política" e faz parte de uma campanha contra o país devido à crise na Ucrânia.

    Fabrice Coffrini/AFP
    Membro da Wada distribui relatório do caso de doping da Rússia para jornalistas
    Membro da Wada distribui relatório do caso de doping da Rússia para jornalistas
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