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    Corrupção no futebol

    Advogado de Marin é especializado em crimes de colarinho branco

    THAIS BILENKY
    DE NOVA YORK

    10/11/2015 12h00

    Em 1959, Charles Stillman era um estudante de direito que estagiava na Corte de Nova York. Assistente de juiz, atuou no julgamento que levou à condenação de 20 líderes da máfia no chamado caso Bufalino.

    Já formado, em 1962, Stillman começaria a carreira como promotor do Estado, especializado em crimes de colarinho branco. Foram inúmeras arguições nos principais processos de fraude de então, ele aponta em seu currículo.

    Alguns anos depois, Stillman resolveu mudar de lado e passou a atuar contra sentenças como a que ele ajudara a elaborar no caso Bufalino.

    Ao longo de cinco décadas, o americano criou uma reputação de advogado competente, que abraça causas difíceis e controversas sem embaraço.

    Com esse gabarito, Stillman foi contratado pelo ex-presidente da CBF José Maria Marin para comandar sua defesa no processo nos Estados Unidos por suposto envolvimento no escândalo de corrupção do futebol mundial.

    O estilo durão foi imposto nas primeiras horas após a extradição de Marin: o americano centralizou a defesa, orientou os colegas brasileiros a não comentarem questões processuais e ele próprio não se pronunciou publicamente. A reportagem o procurou duas vezes, sem retorno.

    Nesta segunda-feira (9), Stillman conseguiu sua primeira vitória simbólica no caso: a prorrogação do prazo para completar a publicação das garantias da fiança acertada com a Justiça. Fazendo jus à fama de aguerrido, ele fez o pedido, na semana passada, antes mesmo de ter formalizado sua atuação na defesa do réu.

    Num processo que deve durar ao menos um ano, Stillman precisará convencer o juiz de que Marin é inocente no esquema de propinas investigado pelo FBI (a polícia federal americana).

    "Está em excelentes mãos. É um profissional exemplar, extremamente dedicado às causas que lhe são confiadas", observou Paulo Peixoto, advogado brasileiro de Marin.

    Nos anos 1980, quando crimes de colarinho branco eram recusados pela maioria dos advogados, Stillman ganhou fama ao defender o reverendo sul-coreano Sun Myung Moon, fundador da Igreja da Unificação.

    Milionário, dono de empresas no mundo inteiro, o reverendo Moon fundou no Brasil o Clube Esportivo Nova Esperança e comprou o Atlético Sorocaba, além de terras.

    No país, ele foi acusado de lavagem de dinheiro. Nos EUA, foi condenado por fraudes fiscais a um ano e meio de cadeia.

    Apesar da derrota judicial, Stillman se beneficiou da notoriedade de seu cliente e outros casos igualmente polêmicos começaram a aparecer. Um deles comprovou que Stillman se envolve mesmo com seus clientes. O advogado chegou a empregar um ex-executivo da seguradora Tyco para que ele pudesse ter direito a liberdade condicional, segundo contou em entrevista ao site "Philly".

    É uma questão de ponto de vista.

    Em um artigo de 2011, o advogado observou que, enquanto as penas estavam mais curtas para crimes em geral, para casos de colarinho branco, estavam cada vez mais longas.

    "A verdade", concluiu, "é que sempre haverá crime e, enquanto houver crime, haverá discordância sobre como punir".

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