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    Não querem mexer na estrutura, diz CEO demitido duas vezes do São Paulo

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    11/11/2015 02h00

    "Foi muito rápido. O Leco [Carlos Augusto Barros e Silva, presidente do São Paulo] me chamou, disse que gostava do meu projeto, que era ótimo, mas que não tem condições de implementá-lo, e que o cargo seria extinto. Eu então agradeci", diz Alexandre Bourgeois, ex-CEO do São Paulo que foi demitido da função duas vezes em dois meses. A última delas aconteceu na segunda-feira (9).

    À Folha, Bourgeois explica que o principal impeditivo para que pudesse implementar seu projeto de profissionalização do clube foi a rigidez da estrutura de poder, que não seria um problema exclusivo do São Paulo.

    Bruno Poletti - 29.jan.2013/Folhapress
    são Paulo, 29.01.2013 - SP - Brasil - Juliana Carreira e Alex Bourgeois, empresários - Jantar no apartamento da Cila, O jantar teve uma apresentação do projeto Sonho Brasileiro. (Foto: Bruno Poletti/Folhapress - FSP Mônica Bergamo)
    Alexandre Bourgeois, ex-CEO do São Paulo, durante evento

    "Eles não conseguem e não querem mudar a estrutura de poder. Grande parte dos dirigentes do futebol brasileiro está na faixa dos 70 anos, o que não é um problema em si, mas eles têm a cabeça do futebol dos anos 1980. Mas as coisas mudaram. O futebol brasileiro vive uma crise porque não tem gestão, profissionalização ou governança", argumenta.

    "Eles [dirigentes do São Paulo] mantêm a gama de colaboradores voluntários, que não recebem para desempenhar suas funções, mas também não conseguem entregar um projeto estruturado, profissional", continua.

    O projeto de Bourgeois no São Paulo, segundo o próprio, estava centrado na ideia de "eficiência". Como os recursos financeiros são cada vez mais escassos no futebol brasileiro e o abismo em relação ao esporte europeu tende a aumentar, só consegue se sobressair quem investe de maneira planejada, diz ele.

    "Montar um time com bons nomes e caro não é garantia de resultado. O país é muito dependente de uma ideia de salvador da pátria, daquele que vai chegar e resolver tudo. O que eu posso fazer? É algo cultural. Mas veja os exemplos de Santos, Grêmio, Ponte Preta, que estavam cotados para brigar para não cair e estão na frente do São Paulo. O Atlético-PR está sempre disputando alguma coisa, e o São Paulo investe cinco vezes mais", analisa, apontando o Corinthians como o "melhorzinho" em termos de gestão profissional entre os times paulistas.

    "O São Paulo vai receber R$ 60 milhões a menos que o Corinthians de cotas de televisão no próximo ciclo. Qual a chance de competir com o Corinthians? Somente investindo o dinheiro que têm com critério, de maneira eficiente."

    Segundo apuração da reportagem, Bourgeois sofreu com críticas internas ao seu trabalho por ser "muito racional". Ele confirma, e diz a resposta que tem dado a quem lhe aponta isso.

    "Paixão não resolve. No futebol de hoje, ninguém trabalha por paixão, nem jogadores nem treinadores. O que a sua emoção vai fazer contra os 700 milhões de euros de faturamento do Real Madrid? No Brasil, somos atrasados que achamos que sabemos de tudo. E aí acontece o 7 a 1 para a Alemanha e acham que está tudo bem. Sou do tempo em que a seleção brasileira metia 9 na Bolívia. Estraçalhávamos Chile, Colômbia... Não tinha a menor chance nem de empate. Hoje temos medo de jogar contra eles, que evoluíram, enquanto nós estacionamos", afirma.

    Para ele, os clubes brasileiros só tomarão a guinada rumo à profissionalização quando houver "desejo político" ou quando as finanças chegarem próximas do colapso.

    "No mundo globalizado, ou você se torna eficiente para competir ou assume de vez que quer ser amador. Para ter eficiência, você precisa se profissionalizar. Basta lembrar o que aconteceu durante o período das privatizações no Brasil. Muita gente reclamou na época, mas imagine o que seria a Telebras hoje se não tivesse sido privatizada. Veja a Petrobras, esse antro de roubalheira", compara.

    "A política faz parte do sistema, mas não pode ser predominante. No São Paulo, 95% é política e só 5% é gestão. E eles não querem mexer nessa estrutura de poder", conclui Bourgeois.

    Diretor de empresas internacionais ao longo de sua carreira, Bourgeois atualmente negocia com dois clubes para implementar projetos de profissionalização, um de São Paulo e outro de fora do estado.

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