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    Vice

    Por que um goleiro velho e reclamão é o ídolo do título palmeirense

    PEU ARAÚJO
    DA VICE

    03/12/2015 17h47

    É tudo nosso. Um a zero na Vila Belmiro, time empenhado, descansado. Tá tudo certo pro enredo da final da 27ª Copa do Brasil consagrar o Santos Futebol Clube. Temos Lucas "Reus" Lima, Gabigol —o Super Sayajin do Santos—, Marquinhos Gabriel e ele, o pastor mais matador do mundo, Ricardo Oliveira. Do outro lado tem um time bem mais ou menos, cheio de falhas, com a zaga lenta, mais pesado, sem tantos talentos e com um goleiro velho e reclamão.

    Tá tudo certo. Metemos 1 x 0 no primeiro jogo e fomos para o Allianz Parque com o título quase ganho. Uma editora até soltou antes da hora o pôster do Santos campeão. Não gostamos de admitir, mas bem que apreciamos a provocação. Estamos com o título quase ganho, só falta carimbar. O problema é o quase. É quando entram todos os clichês do futebol ser uma "caixinha de surpresas", do jogo "só acabar quando termina" e as delongas que narrador adora repetir.

    Do lado de lá tem um time mais ou menos e um goleiro velho e reclamão. Ele chamou nosso pastor de mau caráter, disse que ninguém do nosso Santos seria honrado pra vestir a camisa verde do Palmeiras e nos provocou. Tudo que queríamos era vê-lo buscar bolas no fundo do gol uma, duas, três, meia dúzia de vezes.

    Mas, sabe como é, futebol é uma caixinha de pandora. O goleiro velho e reclamão quase não teve trabalho durante os 90 minutos. Viu lá de longe Dudu, o menino briguento e emocionalmente problemático, marcar duas vezes. E foi buscar a bola no fundo do gol só uma vez —num gol de Ricardo Oliveira aos 41 minutos do segundo tempo, diga-se. Ainda estamos vivos, vai pros pênaltis e na última vez que rolou isso, fomos campeões do Campeonato Paulista. É tudo nosso.

    O goleiro velho e reclamão assistiu à bola de Marquinhos Gabriel passar por cima do gol, defendeu a segunda cobrança santista, batida pelo zagueiro Gustavo Henrique. E, como se não bastasse, se apresentou para o quinto chute do Palmeiras. Ajeitou a bola com calma, arrumou as chuteiras, os meiões. Deu sete passos para trás. Respirou fundo, emendou uma corridinha e estufou a rede do lado direito de Vanderlei.

    Prass, o goleiro velho e reclamão, foi o grande responsável pelo tricampeonato palmeirense na Copa do Brasil. O velho reclamão, frio, talentoso e experiente gaúcho de Viamão carimbou na noite desta quarta-feira (2) sua ficha de ídolo do Palmeiras e rendeu uma vitória muito mais importante: deu um cala boca em toda a zoeiragem santista. Fez mais. Deu alegria a torcida alviverde e foi eleito o melhor goleiro de toda competição.

    Fernando Prass, o velho e blá blá blá, aos 37 anos e com os cabelos brancos multiplicando na cabeça, defendeu pênalti, fez gol e mostrou que não está de brincadeira. Provou que tem tamanho para ser odiado por todo santista que se preze.

    Além disso, o encrenqueiro do Prass é o único do elenco que esteve na campanha da Série B, em 2013. Ele foi o cara que se manteve no time em meio a uma troca inteira de elenco neste ano. Virou o DNA do novo Palmeiras, essa é a real. O título serviu para estreitar ainda mais sua relação com o torcedor palmeirense. Fez ele ter mais moral pelas ruas da Pompeia/Barra Funda e com que arrumasse um ninho quentinho na hora de se aposentar.

    O camisa 1 do Palmeiras, mesmo velho, reclamão e encrenqueiro, é um puta de um goleiro foda e entrou de vez no hall da fama dos guarda-metas palmeirenses junto de Oberdan, Valdir, Leão, Veloso e Marcos.

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