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    Viúva de atleta morto por terroristas luta por homenagem na Rio-2016

    DANIELA KRESCH
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM TEL AVIV (ISRAEL)

    13/12/2015 02h00

    Daniela Kresch/Folhapress
    Ilana Romano, 69, viuva do levantador de pesos Yoseph Romano, uma das vitimas do atentado terrorista na Olimpíada de Munique-1972. Foto: Daniela Kresch/Folhapress
    Ilana Romano, 69, viúva do levantador de pesos Yoseph Romano

    Ilana Romano, 69, luta há 43 anos por um objetivo: que o COI (Comitê Olímpico Internacional) realize um minuto de silêncio na cerimônia de abertura de cada Olimpíada em homenagem ao seu marido, o levantador de pesos Yoseph Romano, e outros dez atletas israelenses vítimas de atentado terrorista nos Jogos de Munique-1972.

    Até hoje, o COI não realizou uma cerimônia oficial em memória das vítimas. Isso mudará no Rio. A organização anunciou que haverá um "local de luto" na Vila Olímpica e um "momento" na cerimônia de encerramento para lembrar todos que perderam a vida durante os Jogos.

    Além dos israelenses, sete atletas morreram competindo ou treinando desde 2012. Também houve casos como o da bomba em Atlanta-1996, que matou uma turista.

    Ilana Romano elogia o esforço tardio, mas diz que não é suficiente. Para ela, o COI deve condenar com mais clareza o terrorismo e fazer uma homenagem especial às vítimas.

    Ela revelou recentemente ao jornal "The New York Times" uma foto inédita e chocante de seu marido após o atentado, mostrando que ele foi castrado pelos terroristas.

    Agonizou na frente dos outros reféns, que também foram torturados. O jornal americano decidiu não publicar a imagem. A Folha viu a foto, mas, a pedido da viúva, não a reproduziu.

    *

    Folha - Por que a senhora não revelou a existência dessa foto de seu marido antes?
    Ilana Romano - Ela e outros documentos me foram entregues em 1992. Antes, os alemães diziam que não existiam. Na época, eu e a Ankie [Spitzer, outra viúva] decidimos nos calar. A foto era terrível demais, e eu entrei em choque. Disse às minhas filhas que não falaria mais sobre isso.

    Por que esconder algo assim por 20 anos?
    Havia a família do meu marido, os Romano. O pai de Yoseph já estava idoso, a família passou por muitas tragédias. Decidi proteger os envolvidos, incluindo a minha própria família. Mas agora decidimos revelar. Há muita gente que, até hoje, diz que os atacantes eram "lutadores da liberdade". Não. Eles eram terroristas que entraram na Vila Olímpica para matar.

    A senhora acredita que a revelação influenciará o COI a realizar um minuto de silencio na abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016?
    Thomas Bach, o novo presidente do COI, deu um passo enorme e elogiável. Ele levará para o Rio de Janeiro uma pedra da Grécia antiga na qual serão gravados os nomes dos mortos e haverá uma cerimônia oficial na Vila Olímpica.

    É uma vitória com a qual nem tínhamos sonhado! Mas realizar um minuto de silêncio na abertura da Olimpíada ainda é importante. Esperamos que algo diferente aconteça no Rio. Até agora tudo o que ouvimos foi: "não, não, não, não, não".

    Vai haver uma cerimônia na Prefeitura do Rio com um minuto de silêncio. Mas não será algo oficial do COI. Vamos continuar lutando.

    Por que esse minuto de silêncio é tão importante?
    Porque é uma maneira de o COI condenar com veemência, mesmo que tardiamente, o ataque terrorista de Munique, que aconteceu dentro da Vila Olímpica com atletas olímpicos. O terrorismo moderno nasceu em 1972. Veja como o mundo está hoje. Paris, Londres, San Bernardino [EUA].... O COI precisa condenar publicamente o que aconteceu, sem subterfúgios ou considerações políticas.

    O que a senhora diria ao público brasileiro?
    Antes de Munique, os Jogos Olímpicos eram uma experiência maravilhosa, um momento de paz e amizade durante o qual as guerras eram suspensas. Hoje, gasta-se milhões com segurança. Peço que os Jogos do Rio tragam de volta essa fraternidade. Mas, antes que isso seja possível, peço que me ajudem a condenar o terrorismo.

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