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    Nobre conta que não viu pênaltis do título e projeta 'meia dúzia' de reforços

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    19/12/2015 02h00

    "Esconde os papéis, senão ele vai ver o nome do Messi e depois como eu vou explicar?". É assim que Paulo Nobre, presidente do Palmeiras, recebe a reportagem da Folha em seu escritório no centro de treinamento do clube.

    Empolgado e aliviado ao fim da temporada, ele mostra uma réplica da placa da rua Palestra Itália que instalará na parede e exibe com orgulho uma foto de 1993 em que aparece com os cabelos longos, com um porquinho de metal na mão e uma faixa na cabeça, comemorando o título paulista daquele ano.

    Ao fim do terceiro ano de mandato, ele conta como foi acompanhar a final da Copa do Brasil contra o Santos, comenta polêmicas, fala dos filmes que marcaram sua cinefilia e dá algumas pistas sobre a próxima temporada da equipe.

    *

    Folha - Como você avalia sua gestão até aqui?
    Paulo Nobre - Como torcedor e presidente, faço boa avaliação. Nos dois primeiros anos, fizemos a lição de casa. O Palmeiras estava falido. Você não sai dessa situação com passe de mágica. O remédio é amargo. A gente plantou muita coisa boa nesses anos, mas foram questões estruturais. Como dizem do político, foram obras debaixo da terra, que ninguém vê, mas o povo se beneficia delas. Tivemos que arregaçar tudo, limpar, para começar a plantar.

    Como torcedor, porque ganhamos a Copa do Brasil, fiquei satisfeito. Para 2016, tiramos o peso das costas e os rivais vão nos respeitar mais.

    Como foi para você acompanhar o Prass batendo o pênalti decisivo da Copa do Brasil?
    Eu não assisti aos pênaltis, por superstição. Aos 30 minutos, desci para o vestiário e fiquei rezando. Eu repetia: 'eu abro mão do prazer de ver o Palmeiras campeão. Mas por favor, meu Deus, não tira isso do Palmeiras'.

    Não vi os dois últimos gols. Nos pênaltis, ouvi que a torcida comemorou duas vezes seguidas, então entendi que estávamos com a vantagem. Ouvi incentivos ao Prass. Nos treinos, ele era o sexto a bater, então achei que tínhamos perdido a vantagem.

    Mas a comemoração não acabava. Aí entraram aos berros: "é campeão, presidente". Foi a beatificação do Prass. Ele teve um dia de São Marcos.

    Do que você se arrepende?
    De não ter visto que não existe consideração no futebol. De talvez não ter feito trocas mais cedo do que deveria. O que um presidente não pode fazer nunca é se omitir. É algo que me incomoda profundamente isso, a omissão. A responsabilidade de tudo que acontece no clube é dele.

    Quais foram seus sacrifícios como presidente?
    Eu abri mão completamente da minha vida pessoal e da profissão. Pessoas têm cuidado do meu patrimônio de maneira super conservadora, e eu sou bem agressivo nos negócios. Abri mão do meu hobby, que era correr de rali. Eu não fui a nenhum show no Allianz Parque até agora, pois os momentos do Palmeiras não permitiam. Adoraria ter visto o Paul McCartney, mas o time estava flertando com a zona de rebaixamento. "Tá cantando o quê?", é o que eu ouviria naquele momento.

    Ouvi 35 mil pessoas me xingando em coro em 2014. "Ei, Nobre, vai tomar suco de caju." Isso me destruiu por dentro. Mas não me arrependo das decisões. A Copa do Brasil foi a prova definitiva de que estamos no caminho certo.

    Na foto do título, você fez a careta em provocação ao Ricardo Oliveira junto dos jogadores. Foi o Nobre torcedor?
    Cem por cento. Não condiz com a postura de um presidente. Mas eu sou um ser humano. Foi uma resposta coletiva do elenco à provocação do Ricardo. Acabou até motivando o elenco, que ficou ainda mais aguerrido. Mas o Ricardo não foi desrespeitoso. Ele apenas tentou desestabilizar os jogadores.

    Em campo, eu me permiti um momento de torcedor, sem faltar o respeito com o Santos. Eu procuro conter o lado torcedor ao negociar, fazer contratos. Mas nos jogos, em campo, me desculpem, mas não tem jeito. Não consigo me conter.

    O ex-presidente do São Paulo, Carlos Miguel Aidar, voltou a aparecer nos holofotes após a recente divulgação da gravação da conversa com Ataíde Gil Guerreiro. Houve um episódio em que você se recusou a apertar a mão dele...
    Quando aconteceram os problemas [as contratações de Alan Kardec e Wesley], dei uma declaração dizendo que tinha achado antiética a postura, e ele respondeu de maneira muito desrespeitosa ao Palmeiras e ao presidente do Palmeiras. Então eu dei uma declaração rompendo relações.

    Então, em um seminário antes da Copa do Mundo, eu estava sentado e uma mão tocou meu ombro e me cumprimentou. Eu reagi automaticamente e depois vi que tinha sido ele [Aidar]. Não achei legal. No dia seguinte, em um jantar, nos encontramos, mas ele nem chegou perto.

    Depois, no jogo de estreia do Brasil na Copa, a Globo convidou todos os presidentes para assistirem à partida. Eu estava conversando com o Marco Polo Del Nero [presidente licenciado da CBF] e ele [Aidar] chegou, fez menção de me cumprimentar e ficou ironizando: "pô, Paulo, mas você me deu a mão ontem". Nossa senhora. Aí eu respondi: "Eu só te cumprimentei porque estava no escuro, senão não tinha dado. Que parte de relações cortadas o senhor não entendeu? E tem mais: não me dou com gente da sua laia. Aí ele saiu da rodinha. O Marco Polo ainda tentou apaziguar. Foi isso que aconteceu, nada demais. A natureza marca quem não presta. Vamos deixar quieto. Bola para frente.

    Como está a situação financeira do Palmeiras? Qual o tamanho da dívida?
    Eu não comento números. O Palmeiras vive hoje uma situação econômica super estabilizada, mas está a bilhões de anos luz de sobrar dinheiro aqui. A dívida ainda é grande, mesmo que outros clubes tenham o dobro ou o triplo disso. Mas hoje podemos planejar nosso futuro, algo que, por incrível que pareça, não conseguíamos fazer antes. A gente provou que pode trabalhar com responsabilidade. O que o Palmeiras não pode voltar a fazer é populismo, ou seja, gastar mais do que arrecada. Por que criar uma bolha para que o clube pareça mais forte do que é? Adianta, adianta, adianta receita para parecer mais forte? Um dia a conta vem. Veja 2009 [quando o Palmeiras investiu muito na contratação de jogadores como Cleiton Xavier, Diego Souza e Vagner Love e perdeu a chance de ganhar o Brasileiro na reta final]. E o que acontece? O malandrão que fez os adiantamentos fica no bem bom e os outros pagam a conta enquanto o torcedor sofre como louco.

    E os reforços para 2016?
    Deve vir meia dúzia [o clube anunciou o goleiro Vagner, o zagueiro Roger Carvalho e o meia Régis; o volante Rodrigo deve ser o próximo]. Mas pode ser meia dúzia de cinco ou de sete [risos].

    Para quais posições?
    Se eu te falar a posição, como não estão contratados, vou inflacionar o mercado. Se eu disser "massagista", todos os massagistas vão ficar mais caros. Assim que chegarem vocês saberão as posições.

    Há jogadores de impacto nesse pacote, como foram Arouca e Dudu?
    Outro dia, um torcedor me perguntou: "você vai trazer um jogador bom?". Eu respondi: "e você acha que eu contrato jogador achando que é ruim?". O Messi é bom? Quando ele foi com 12 anos para o Barcelona, ele era bom? O Dudu é bom? Quando ele estava no Cruzeiro ainda, ele era super bom? Não, mas se tornou. O Robinho, quando chegou, foi chamado por um jornalista de "genérico". "Quando o Palmeiras vai deixar de contratar medíocres?". Ele paga a língua até hoje. Acho todos os jogadores que estamos trazendo bons. O que o torcedor vai achar? Não sei. Mas quando formos competitivos em campo, o torcedor vai gostar dos jogadores.

    Mas vão causar impacto, Paulo?
    Não sei te responder isso.

    E o Jean, volante do Fluminense, que está próximo [fez exames médicos nesta sexta]?
    Ele é um grande jogador, muito bom mesmo. Mas só comento depois de confirmado.

    O que significa voltar a disputar Libertadores?
    É um torneio importante, internacional, que te credencia a disputar o Mundial. Mas mesmo sem ela, o Palmeiras teria que chegar forte em 2016.

    Representantes da Crefisa queixaram-se de atitudes recentes do Palmeiras, como o projeto de camisa retrô com a marca da Parmalat e o suposto não-convite para a festa do título. A relação está estremecida?
    Não comentamos a relação com patrocinadores. A Crefisa, a FAM e a Prevent Senior proporcionam o maior patrocínio da história do Palmeiras logo depois de quase termos sido rebaixados. Não fossem eles, dificilmente teríamos tanto sucesso neste ano. O dinheiro investido virou um time forte, que impulsionou o Avanti, que permitiu reforçarmos mais o elenco, o que por sua vez aumentou a bilheteria. Eles ajudaram a trazer jogadores e pagar salários em 2015 sem obrigação alguma de fazer isso. Acho até uma injustiça quando esperam que eles formem um "dream team". Temos somente que agradecer a eles.

    Você é a favor da renúncia do Marco Polo Del Nero da CBF?
    Acho difícil pré-julgar. Todos sabem que eu tenho uma relação pessoal com ele, estudei com a filha dele no ginásio, virei sócio do Palmeiras em 1983 pelas mãos dele. Agora, eu sei separar as coisas. Gosto muito dele e vou continuar gostando. Mas acho que tudo tem que ser super apurado. Quanto mais transparência no futebol, melhor. Mas acho errado pré-julgar. Ele tem total e amplo direito de defesa. Não cabe a mim julgar isso.

    Você é uma pessoa mais de filme, música ou literatura? Que obra usaria para definir este ano?
    Eu era muito cinéfilo, mas nos últimos três anos não sei nem o que é cinema. Gosto de rock n'roll, mas não fui a nenhum show do Allianz Parque. Literatura não é muito meu forte. Sobre a obra, não sei, não sei.

    Vou falar alguns filmes que eu gostei e que não têm necessariamente a ver com o ano. Adorei "Maldito Futebol Clube", que é sobre um técnico inglês que no começo dos anos 1970 pega um time que era o penúltimo da terceira divisão e acreditava muito nele mesmo. Eu brinco que ele era mais autoconfiante que o Luxemburgo e o José Mourinho juntos.

    Outro filme inglês, "Fever Pitch" ["Febre de Bola", 1997], sobre um garoto que não gostava de futebol e cujos pais eram divorciados. Em um final de semana, o pai dele leva a um jogo do Arsenal e o olho dele brilha quando ele entra no estádio. Me lembra muito de 1977, quando entro no Pacaembu pela primeira vez com o tio Jamil, Palmeiras e Santos, e penso: "é isso, nossa senhora, descobri o grande amor da minha vida".

    Se formos falar de outros filmes: "A Lagoa Azul", com a Brooke Shields, perdidamente apaixonado por ela na minha adolescência; "Sociedade dos Poetas Mortos", "Cinema Paradiso"... Gosto de filme bom.

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