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    'Vencemos a batalha da vida e a do surfe', diz mãe de Mineirinho

    ÉDER FANTONI
    ENVIADO AO GUARUJÁ

    19/12/2015 02h00

    Moacyr Lopes Junior/Folhapress
    Irmão, mãe e sobrinha de Mineirinho posam para foto na casa de Ângelo, no Guarujá
    Mãe, irmão, e sobrinha de Mineirinho posam para foto na casa de Ângelo, no Guarujá

    Luzimar Maria de Souza, 55, não acompanha o surfe tão atentamente. Na quinta-feira (17), porém, ela não se desgrudou da televisão. Não era para menos. O seu filho, Adriano de Souza, o Mineirinho, 28, estava a poucos minutos de se tornar campeão mundial da modalidade pela primeira vez na sua carreira.

    "Meu coração quase saiu pela boca. Era o grande sonho dele. E ele conseguiu. E eu até chorei", disse à Folha Luzimar, com um olhar sereno e um sorriso tímido.

    Chorou porque enquanto a televisão passava os melhores momentos de Mineirinho na temporada, ela se lembrava dos momentos difíceis que passou.

    Nascida em Mossoró, Rio Grande do Norte, Luzimar veio para Guarujá, litoral de São Paulo, em 1981 com o marido, Jonas Bernardo de Souza, 61, e o seu outro filho, Angelo de Souza, 40.

    Mineirinho nasceu em fevereiro de 1987 e foi criado na favela Santo Antônio.

    Luzimar, que hoje é dona de casa, chegou a trabalhar como faxineira de um supermercado para ajudar nas despesas de casa, enquanto o seu marido trabalhava num navio. Já Angelo foi servir o exército.

    E Mineirinho? Como qualquer criança da sua idade, gostava de ficar na rua.

    Preocupado com o caminho que o irmão poderia tomar, Angelo escolheu o surfe para lhe mostrar uma boa saída.

    "Havia um fácil acesso para as drogas e para outras coisas ruins. E o que eu queria era mostrar as coisas certas, para que ele pudesse ter caráter quando crescesse", disse Angelo. "E para fazer isso eu escolhi o esporte. Eu fiz um papel de cidadão. Vi uma criança que poderia ir para o lado errado e coloquei no caminho correto", afirmou.

    Mineirinho surfava com a prancha de Angelo, mesmo que ela fosse grande e pesada demais para o seu tamanho.

    Foi aí que Angelo comprou uma prancha de R$ 30 para o seu irmão, apesar de ter saído caro, na época –a família não podia se dar ao luxo de comprar uma prancha melhor.

    "Ela era mais leve e do tamanho dele, o que permitiu que ele se desenvolvesse mais. Eu fiz um esforço e paguei R$ 30 por ela. Valeu a pena", afirmou.

    A tal prancha foi feita por um dos filhos de Isaac de Souza Vaz, 56, que hoje é aposentado e tem uma loja de pranchas de surfe perto de onde morava Mineirinho.

    Vaz foi, inclusive, um dos grandes mentores do atleta.

    Era ele quem o levava para as competições. E desde aquela época, segundo ele, já era perceptível o interesse e aptidão do garoto pelo surfe.

    "Enquanto os outros moleques ficam jogando areia um no outro durante as outras baterias, o Mineirinho ficava olhando no meu relógio, focado, perguntando quantas ondas estavam vindo por minuto. Ele analisava tudo. Já era um atleta desde pequeno", conta.

    O surfe, de fato, já estava na veia de Mineirinho.

    "O Angelo levava ele para surfar nas horas vagas. Mas às vezes, ele fugia e ia sozinho. Ou então deixava de ir para o colégio para ir surfar. Aí a gente dava uma prensa nele", afirmou Luzimar.

    E não demorou muito para Mineirinho fazer sucesso no surfe.

    Em 2006, com apenas 19 anos, ele já participava do Mundial da modalidade.

    Em sua primeira etapa, em Gold Coast, na Austrália, já ficou na terceira colocação.

    "Todos viam que ele era diferenciado. Tinha um surfe próprio e muito refinado. Eu poderia apostar que ele seria campeão mundial", disse Wellington Silva Sales, 37, um dos primeiros instrutores do atleta numa escolinha de surfe, em Guarujá.

    E assim foi. Até mais que isso.

    "Vencemos a batalha da vida e a do surfe", disse Luzimar.

    CONFIRA AS PRINCIPAIS MANOBRAS DO SURFE

    Manobras do surfe; Crédito Ilustrações Lydia Megumi; Infográfico Alex Kidd e Pilker/Editoria de Arte/Folhapress

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