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    Com marketing, internet e talento, surfe tenta ser mais que uma onda

    DANIEL CASTRO
    DE SÃO PAULO

    20/12/2015 02h00

    O mar está bom para o surfe brasileiro. O título mundial conquistado por Adriano de Souza, o Mineirinho, na quinta-feira (17), foi o segundo raio a cair no mesmo lugar.

    No caso, a praia de Pipeline, no Havaí, onde Gabriel Medina faturou o primeiro troféu do Brasil, em 2014.

    O rótulo de país do surfe nunca fez tanto sentido. Em 2016 serão dez brasileiros na elite mundial —menos que os 11 atletas de 2001, mas as expectativas são superiores.

    Em 2015, quatro dos sete representantes nacionais terminaram a temporada entre os dez primeiros: Mineirinho, Medina (3º), Filipe Toledo (4º) e Italo Ferreira (7º) —este eleito o estreante do ano.

    Caio Ibelli, Alex Ribeiro e Alejo Muniz subiram da divisão de acesso e tornarão a "tempestade brasileira", como os atletas do país são chamados, mais forte em 2016.

    A média de idade dos dez representantes é 23,8 anos. Aos 28, Mineirinho é o "veterano" entre os brasileiros, ainda que seja 15 anos mais novo que o americano Kelly Slater, em atividade aos 43.

    Quando Medina fez história, houve quem comparasse o fenômeno do surfe com as expectativas criadas no tênis após Gustavo Kuerten ser tricampeão de Roland Garros e chegar ao topo do ranking.

    Para o presidente do Ibrasurf (Instituto Brasileiro de Surfe), Alexandre Zeni, uma das explicações está na diferença de apelo comercial.

    "Cerca de 90% das pessoas que compram roupas de marcas de surfe não praticam o esporte. Elas compram para se sentir parte de um universo. Agora, ninguém que não pratica vai comprar a camiseta de um tenista", diz Zeni.

    Segundo ele, a partir do momento em que os surfistas deixaram de ser associados à imagem de "maconheiros que ficam o dia todo na praia", empresas de outros segmentos quiserem se associar ao esporte. Hoje, marcas de automóveis, aparelhos eletrônicos e universidades patrocinam eventos e atletas.

    "Essa geração mostrou que os atletas do surfe são saudáveis, focados e profissionais. As empresas querem que eles representem suas marcas para o público jovem", afirma.

    As verbas de patrocínio ajudaram os brasileiros a superarem a diferença financeira e técnica que existia para americanos e australianos, principais potências do mar.

    "Mesmo com essa crise, em nenhum momento pensamos em cortar o patrocínio do Mineirinho", diz Tico Aquino, coordenador de marketing da brasileira Hawaiian Dreams.

    O campeão mundial é o único entre os brasileiros a ter uma empresa nacional como principal patrocinadora.

    As peculiaridades do surfe dificultam a transmissão pela TV. A duração de um dia numa etapa varia conforme as condições do mar, podendo ser cancelada ou chegar a oito horas de competição.

    Por esse motivo, o sucesso alcançado no Brasil e no mundo está diretamente ligado à internet. O site da WSL (Liga Mundial de Surfe) transmite todas as etapas ao vivo. Também é possível acompanhar em celulares e tablets por meio de um aplicativo.

    "A internet é nossa galinha dos ovos de ouro. O Brasil virou líder de audiência, ultrapassando os EUA", diz Renato Hickel, diretor da WSL.

    BASE

    Nem tudo, porém, é um mar de rosas. Para o presidente da Ibrasurf, falta um trabalho em nível nacional para desenvolver a base. Hoje, os três principais surfistas do país são paulistas.

    "Aqui, o maior mérito é do atleta. É cada um por si, na base do talento e da garra", critica Zeni.

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    Manobras do surfe; Crédito Ilustrações Lydia Megumi; Infográfico Alex Kidd e Pilker/Editoria de Arte/Folhapress

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