Assim como muitos atletas, a judoca kosovar Majlinda Kelmendi, 24, precisou superar dificuldades para poder defender seu país em Olimpíadas. No caso dela, porém, os principais desafios não vieram dos tatames, mas da política.
Majlinda é a principal aposta de medalha de Kosovo, nação que foi reconhecida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) no ano passado e fará sua estreia em Jogos Olímpicos no Rio.
Bicampeã mundial em 2013 e 2014 na categoria até 52 kg (a mesma da brasileira Érika Miranda), a atleta também participou da Olimpíada de Londres, em 2012, quando defendeu a Albânia e acabou eliminada na segunda luta.
Vasily Maximov/AFP | ||
A judoca Majlinda Kelmendi, 24, após vencer o Mundial de Judô, em 2014, na categoria até 52 kg |
Um ano depois, na conquista do Mundial realizado no Rio, o primeiro grande feito esportivo da jovem nação, Majlinda já trajava um quimono com as iniciais "KOS", em vez de "ALB". A bandeira no peito era a que ela escolheu defender.
No bicampeonato, porém, questões diplomáticas arranharam a conquista. A competição foi disputada na Rússia, que assim como o Brasil não reconhece Kosovo como um país independente.
Majlinda foi obrigada a competir com a sigla IJF, da Federação Internacional de Judô, nas costas. Ao vencer o torneio, ela não pôde ver a bandeira de Kosovo no pódio, nem escutou o hino nacional.
"Foi uma sensação tão ruim para mim. Espero não ter que passar por situações como essa novamente", disse à Folha.
Agora, a atleta quer ir além. Ela acredita que a estreia de Kosovo nos Jogos pode influenciar a posição do governo brasileiro.
"Talvez depois da minha medalha de ouro na Olimpíada...", afirmou, confiante.
DIPLOMACIA
O técnico da judoca, Driton Kuka, 44, chegou a participar dos conflitos entre separatistas albaneses e as forças comandadas pelo então líder sérvio Slobodan Milosevic, iniciados no fim dos anos 1990 e que ficaram conhecidos como Guerra do Kosovo.
"Nós fomos forçados a proteger nossas famílias, nossas casas, e eu sempre protegerei meu país dos inimigos", declarou o treinador.
Em 2008, Kosovo proclamou sua independência da Sérvia de forma unilateral e foi reconhecido pelos EUA e pela maioria dos principais países da União Europeia. Rússia, China, Brasil, além da própria ONU, por outro lado, não reconhecem a nação.
De acordo com o Itamaraty, "a posição do Brasil é de reconhecer aqueles países que são membros das Nações Unidas".
Assim como Majlinda, Kuka vê nos Jogos Olímpicos a possibilidade de mudança nas relações internacionais. "Eu acho que nós merecemos ser reconhecidos pelo Brasil, temos uma cooperação muito boa com as pessoas do país", afirmou.
A judoca contou que atletas brasileiros costumam fazer temporadas de treinos em Kosovo: "Eles são tão bons conosco, nós temos ótimas relações".
O presidente do comitê olímpico do país, Besim Hasani, endossa a opinião da dupla. "Eu serei o homem mais feliz do mundo se o esporte influenciar o governo brasileiro", declarou.
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