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    Judoca do Kosovo vai à Rio-2016 por ouro e reconhecimento diplomático

    DANIEL CASTRO
    DE SÃO PAULO

    27/12/2015 02h00

    Assim como muitos atletas, a judoca kosovar Majlinda Kelmendi, 24, precisou superar dificuldades para poder defender seu país em Olimpíadas. No caso dela, porém, os principais desafios não vieram dos tatames, mas da política.

    Majlinda é a principal aposta de medalha de Kosovo, nação que foi reconhecida pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) no ano passado e fará sua estreia em Jogos Olímpicos no Rio.

    Bicampeã mundial em 2013 e 2014 na categoria até 52 kg (a mesma da brasileira Érika Miranda), a atleta também participou da Olimpíada de Londres, em 2012, quando defendeu a Albânia e acabou eliminada na segunda luta.

    Vasily Maximov/AFP
    A judoka Majlinda Kelmendi posa com a medalha de ouro após vencer o Mundial de Judô na categoria até 52 kg
    A judoca Majlinda Kelmendi, 24, após vencer o Mundial de Judô, em 2014, na categoria até 52 kg

    Um ano depois, na conquista do Mundial realizado no Rio, o primeiro grande feito esportivo da jovem nação, Majlinda já trajava um quimono com as iniciais "KOS", em vez de "ALB". A bandeira no peito era a que ela escolheu defender.

    No bicampeonato, porém, questões diplomáticas arranharam a conquista. A competição foi disputada na Rússia, que assim como o Brasil não reconhece Kosovo como um país independente.

    Majlinda foi obrigada a competir com a sigla IJF, da Federação Internacional de Judô, nas costas. Ao vencer o torneio, ela não pôde ver a bandeira de Kosovo no pódio, nem escutou o hino nacional.

    "Foi uma sensação tão ruim para mim. Espero não ter que passar por situações como essa novamente", disse à Folha.

    Agora, a atleta quer ir além. Ela acredita que a estreia de Kosovo nos Jogos pode influenciar a posição do governo brasileiro.

    "Talvez depois da minha medalha de ouro na Olimpíada...", afirmou, confiante.

    DIPLOMACIA

    O técnico da judoca, Driton Kuka, 44, chegou a participar dos conflitos entre separatistas albaneses e as forças comandadas pelo então líder sérvio Slobodan Milosevic, iniciados no fim dos anos 1990 e que ficaram conhecidos como Guerra do Kosovo.

    "Nós fomos forçados a proteger nossas famílias, nossas casas, e eu sempre protegerei meu país dos inimigos", declarou o treinador.

    Em 2008, Kosovo proclamou sua independência da Sérvia de forma unilateral e foi reconhecido pelos EUA e pela maioria dos principais países da União Europeia. Rússia, China, Brasil, além da própria ONU, por outro lado, não reconhecem a nação.

    De acordo com o Itamaraty, "a posição do Brasil é de reconhecer aqueles países que são membros das Nações Unidas".

    Assim como Majlinda, Kuka vê nos Jogos Olímpicos a possibilidade de mudança nas relações internacionais. "Eu acho que nós merecemos ser reconhecidos pelo Brasil, temos uma cooperação muito boa com as pessoas do país", afirmou.

    A judoca contou que atletas brasileiros costumam fazer temporadas de treinos em Kosovo: "Eles são tão bons conosco, nós temos ótimas relações".

    O presidente do comitê olímpico do país, Besim Hasani, endossa a opinião da dupla. "Eu serei o homem mais feliz do mundo se o esporte influenciar o governo brasileiro", declarou.

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