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    Agronegócio banca times de futebol no Sul e Centro-Oeste

    SÉRGIO RANGEL
    ENVIADO ESPECIAL A CHAPECÓ (SC)

    10/01/2016 02h00

    Orçamentos enxutos, executivos de sucesso na iniciativa privada no comando e jogadores desconhecidos ganhando salários "realistas".

    Na contramão dos gigantes da bola, times pequenos bancados pelo agronegócio deixaram de ser surpresas e estão firmando uma nova realidade no futebol brasileiro.

    A Chapecoense-SC, financiada com a ajuda da indústria da carne da cidade, e a Luverdense-MT, idealizada num dos principais centros produtores de soja do país, são os principais exemplos do novo modelo de sucesso.

    Com orçamento de R$ 45 milhões neste ano (o do Flamengo é de R$ 400 milhões), o time catarinense vai medir forças pela terceira vez consecutiva com as milionárias equipes da Série A do Brasileiro.

    Já a Luverdense, de Lucas do Rio Verde, cidade de cerca de 50 mil habitantes no interior de Mato Grosso, vai jogar a Série B pela terceira vez.

    Futebol e agronegócio

    "Não tem segredo. O negócio é trabalhar com seriedade e não dar calote nem nos jogadores nem na sociedade. No futuro, todos os clubes terão que ser assim. Não cabem mais aventuras no futebol", disse Neivor Canton, vice-presidente da Aurora, frigorífico que estampa seu logo no uniforme da Chapecoense.

    Terceiro maior conglomerado industrial do setor de carnes do Brasil, a companhia vai pagar R$ 3,5 milhões por ano ao time. A Caixa, que também financia o agronegócio, é o patrocinador principal -investe R$ 5 milhões.

    O time também deve receber R$ 25 milhões da TV e outros R$ 5 milhões pagos pelos seus cerca de 8.000 sócios.

    Apesar das receitas modestas, o time conseguiu ter sucesso dentro de campo (chegou às quartas de final da Copa Sul-Americana) e fechar com lucro nos últimos anos -em 2014, o superávit financeiro foi de R$ 877 mil.

    A média salarial do elenco é de R$ 30 mil. Já o teto é R$ 100 mil mensais -ou 1/8 do salário de Fred, do Fluminense, de R$ 800 mil neste ano.

    Desde 2008, quando os executivos da cidade decidiram investir no futebol seguindo o modelo adotado em suas empresas, a Chapecoense teve uma ascensão rápida. A equipe pulou da Série D para a A em cinco anos.
    "Sempre fui otimista, mas nunca sonhei que chegaríamos tão longe", afirmou o meia Neném, 33, que chegou à cidade de 200 mil habitantes em 2008 e participou da histórica arrancada do time.

    Para este ano, os dirigentes querem manter a equipe na Série A e conquistar pela quinta vez o Catarinense.

    Apesar das metas esportivas, os executivos não abrem mão do controle dos gastos.

    No final do ano, eles mudaram o estatuto do clube para limitar o poder do presidente. Contratações de atletas e empréstimos bancários precisam ser aprovados também pelos conselheiros.

    "Administramos o clube com responsabilidade fiscal", disse o presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense, Plínio David De Nes Filho, o Maninho, ex-executivo do extinto frigorífico Chapecó, responsável por montar grandes times de vôlei na cidade nos anos 90.

    LUVERDENSE

    Comandado por dirigentes que são empresários do agronegócio na cidade, a Luverdense foi fundada em 2004 e já venceu duas vezes o Estadual do Mato Grosso.

    Com uma média de 920 torcedores por jogo na Série B de 2015, o clube vai gastar cerca de R$ 10 milhões em 2016.

    A remuneração dos jogadores é definida de acordo com o desempenho em campo. Se o atleta for titular em todas as partidas, pode receber até R$ 20 mil.

    Já as contratações são definidas levando em consideração o esquema tático do time (4-4-1-1) estabelecido pelos cartolas. Veteranos, nem pensar. A idade média nesta temporada vai ser de 25 anos.

    "Trabalhamos com a realidade. Não queremos enganar ninguém e não vendemos ilusão", disse o diretor-executivo da Luverdense, Maico Gaúcho.

    A principal fonte de receita é a venda de jogadores. O time da temporada passada foi praticamente desfeito. Este ano, o clube contratou pelo menos 15 novatos.

    O objetivo é se manter na Série B. O salto para a Série A está planejado para acontecer até o final da década.

    PETRÓLEO

    Assim como agronegócio, o petróleo foi o combustível para uma série de clubes de cidades do interior sonharem com a elite do futebol brasileiro nos últimos anos.

    Bancados por prefeituras de cidades beneficiadas pelos royalties do petróleo, alguns times chegaram a se destacar, mas não conseguiram se segurar no topo.

    O Potiguar e o Baraúnas, ambos de Mossoró (RN), e o Coari, do Amazonas, chegaram a conquistar títulos estaduais. As duas cidades servem de base para a Petrobras.

    Um dos principais centros da indústria do petróleo no país, Macaé (RJ) também investiu alto no futebol. O time chegou à Série B do Brasileiro em 2014, mas não resistiu à crise financeira da região.

    Com dificuldade para receber os repasses do município, o time caiu de produção na reta final no ano passado e foi rebaixado para a Série C.

    "Dinheiro demais também pode atrapalhar. O importante é saber gastar e conseguir se sustentar sem depender dos outros", disse o presidente do Conselho Deliberativo da Chapecoense, Plínio David De Nes Filho, o Maninho.

    O time manda os seus jogos no estádio municipal, mas não recebe verbas do governo. "O nosso modelo evita depender dos cofres públicos. Acreditamos que a prefeitura não precisa investir no futebol", afirmou.

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