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    Tenistas brasileiros dizem ter sofrido ameaças de apostadores após partidas

    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO
    DO UOL

    18/01/2016 17h04 - Atualizado às 18h29

    Rodrigo Buendia/AFP
    Brazil's tennis player Rogerio Dutra Silva returns the ball to Ecuador's Emilio Gomez during their Davis Cup match in Guayaquil, Ecuador, on April 6, 2014. AFP PHOTO /Rodrigo BUENDIA ORG XMIT: RBH767
    Rogerinho rebate durante jogo contra o Equador pela Copa Davis, em 2014

    Em meio a revelações sobre manipulação de resultados, os tenistas brasileiros André Ghem (152º) e Rogério Dutra da Silva (116º) afirmaram à Folha que já sofreram ameaças de apostadores por causa de resultados no circuito profissional.

    O gaúcho Ghem, 33, profissional desde 2003, disse que rumores sobre combinação de resultados são corriqueiros no tênis, sobretudo em torneios de menor porte. Porém, ele contou nunca ter sido assediado para perder deliberadamente uma partida.

    O que ocorre, ele relatou, é sofrer perseguição depois de partidas conforme o placar final. "Houve vezes em que eu perdi um jogo em que, em tese, era o favorito e recebi mensagens nas redes sociais. Principalmente, o Facebook. E são de apostadores, são desse perfil. Eu tenho que levar o desaforo", disse.

    Segundo o tenista, em certos casos os recados são fortes. "Um vez me escreveram 'espero que você tenha câncer, e que você e sua família morram'."

    Ele se recordou de um torneio no qual era o segundo cabeça de chave e acabou derrotado por um rival cujo ranking era bem inferior. Poucas horas depois do duelo, visualizou xingamentos em suas páginas nas redes sociais.

    "Em outra ocasião, me escreveram dizendo que eu merecia levar um tiro na cabeça", complementou. Para Ghem, a maior incidência de apostadores vem do Leste Europeu. "Lá, existe uma cultura de aposta que não tem paralelo com o Brasil."

    Mais conhecido por Rogerinho, Dutra da Silva, 31, também foi vítima de coação na sequência de seus jogos. "Eu já recebi e-mail de pessoa me xingando após perder um jogo, digamos, que eu não deveria", afirmou o paulista.

    A exemplo de Ghem, Rogerinho contou nunca ter sido procurado por aliciadores para entregar um confronto. Mas que versões que dão conta de manipulações correm pelo circuito. "Escuto falar de combinações, mas é suposição, nada concreto. Nunca tive nada com isso, mas acho que isso tem que ser averiguado", opinou. "O tênis é um esporte íntegro."

    Ex-número um do mundo, Gustavo Kuerten disse que nunca foi assediado, mas que "o assunto já assombra o tênis há bastante tempo". Guga também pediu punição rigorosa para os responsáveis.

    "Nos anos em que eu estive no circuito, a ATP sempre combateu o caso com muita seriedade. O assunto é extremamente preocupante, porque compromete a essência do esporte, a competição limpa, plena, o respeito às regras. Pela decência e justiça cultivadas pelo universo do tênis, acredito que sejam casos isolados, em que a punição deve ser severa."

    INVESTIGAÇÃO

    A emissora britânica BBC e o site de notícias "Buzzfeed News" revelaram, neste domingo (17), que possuem documentos secretos que contêm evidências de partidas combinadas entre jogadores da elite do tênis mundial nos últimos anos.

    Os documentos obtidos fazem parte de um inquérito amplo sobre uma suposta rede formada entre apostadores e atletas de nível internacional. As investigações começaram após uma partida entre o russo Nikolay Davydenko, então o número 4 do mundo, e o argentino Martin Vassallo Arguello, disputada em agosto de 2007. O jogo atraiu milhões de libras em apostas suspeitas, a maioria delas provenientes de Moscou.

    De acordo com a BBC, os documentos revelam que, ao longo da última década, 16 jogadores pertencentes ao top 50 da ATP (Associação de Tenistas Profissionais), teriam sido investigados sob suspeita de se envolverem em combinação de resultados.

    Ao todo, mais de 70 jogadores estariam envolvidos na rede de apostas, que partiriam majoritariamente de grupos localizados na Rússia e na Itália.

    Segundo o "Buzzfeed News", autoridades do mundo do tênis já estariam cientes dos resultados arranjados há pelo menos sete anos, incluindo a (UIT) Unidade de Integridade do Tênis, criada em 2008 e responsável por ações anticorrupção no esporte.

    A BBC afirmou que nenhum dos tenistas citados nos documentos foi punido pela UIT. Eles não tiveram seus nomes revelados pela emissora inglesa, mas incluem até vencedores de Grand Slam, de acordo com o canal. Oito deles estariam disputando o Aberto da Austrália, que começou neste domingo (17).

    Em entrevista ao UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha, o brasileiro Bruno Soares diz que o problema que mais uma vez veio à tona não é uma novidade para o esporte.

    "A grande verdade é que não é de hoje que todo mundo sabe que existem suspeitas e tem gente envolvida com isso, mas se não citar nomes dos envolvidos fica difícil falar algo. Mas para mim, é algo bem simples. Se descobrir quem é, tem de punir", afirmou o duplista brasileiro.

    Número 1 do ranking mundial e maior favorito ao título na Austrália, o sérvio Novak Djokovic disse nesta segunda-feira (18) que já recebeu uma oferta de US$ 200 mil (aproximadamente R$ 800 mil, na cotação atual) para entregar uma partida em 2007.

    "Eu não me aproximei diretamente. Eu fui abordado por pessoas que trabalhavam comigo naquela época. É claro que recusamos imediatamente. Isso nem chegou a mim. A pessoa que estava tentando falar comigo não falou diretamente", disse Djokovic logo após derrotar o sul-coreano Hyeon Chung, por 3 sets a 0 (6/3, 6/2 e 6/4), na estreia do torneio, que ocorre em Melbourne.

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