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A espanhola Marina Alabau durante competição de vela em 2014 |
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Esporte
Thursday, 21-Nov-2024 06:40:12 -03Minha História
Ouro em 2012, velejadora espanhola foi diagnosticada com o vírus da zika
(...) Depoimento a
FERNANDA GODOY
COLABORAÇÃO PARA FOLHA, EM MADRI17/02/2016 02h00
A espanhola Marina Alabau, 30, campeã em Londres-2012, foi diagnosticada com o vírus da zika ao retornar do Brasil doente, no início de janeiro (análises vão comprovar se ela, de fato, contraiu o vírus). Ela havia acabado de se classificar para os Jogos Olímpicos do Rio na categoria RS: X da vela em competição na baía de Guanabara. Retornou para casa, em Cádiz, onde se recuperou. Diz que os sintomas foram mais fracos que os de uma gripe. Mas desistiu de levar a filha à Olimpíada.
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Estive no Rio em dezembro para participar da Copa do Brasil, em Niterói. Era a última etapa de classificação para os Jogos Olímpicos. Depois da competição, passei uns dias em Búzios treinando.
Tive febre um dia, assim, do nada, nem sequer me sentia mal. Simplesmente me sentia um pouco cansada.
No dia seguinte, saíram erupções vermelhas por todo o corpo e pensei que fosse uma reação alérgica, porque havia trocado de repelente de mosquitos na véspera.
Não dei muita importância. Meu marido tinha passado quatro dias gripado, e quando ele ficou bom começou minha febre. Pensei que fosse a mesma coisa.
Aí começaram as dores articulares. Amigos mexicanos que também estavam treinando lá me alertaram sobre a chance de ser chikungunya.
Nunca havia ouvido falar dessa doença. Disseram que eu deveria ir a um hospital. Foi aí que vi que todos os sintomas, as manchas vermelhas, as dores articulares, a febre, estavam ligados.
Em vez de ir a um hospital no Brasil, preferi voltar para casa, em Cádiz, onde me sinto mais segura e mais cômoda. Passo três meses por ano treinando no Brasil e nunca tive uma má experiência de atendimento médico.
O que acontece é que, na Espanha, tenho meu seguro médico privado, e me dava mais confiança estar na minha casa, com minha médica. E tampouco estava me sentindo tão mal para precisava ir a um hospital.
Fui embora pensando apenas que, se a coisa piorasse, preferiria estar na minha casa. Voltei no dia 2 de janeiro. Cheguei e não fui ao hospital. Falei com minha médica por telefone, descrevi os sintomas, e ela me disse que, por todos os sintomas que tive, é 99% seguro que fosse o vírus da zika. Foi a primeira vez que escutei essa palavra.
Ela me disse que não adiantava ir ao hospital porque não há remédio para esse vírus, que esperasse porque os sintomas passariam dentro de alguns dias.
Os sintomas foram mais fracos que os de uma gripe. Tinha dores articulares e nada mais. As manchas tinham desaparecido em dois dias. Tive dores de cabeça esquisitas, iam e vinham. Uma ou duas horas de dores fortes, que logo desapareciam.
Os sintomas sumiram em 10 de janeiro. No dia 15 voei para Miami, onde participei do Mundial, sem sequela.
Parece que só se pega esse vírus uma vez e já se fica imunizado. Antes de saber da imunidade, pensávamos um pouco em como programar, em quando chegar ao Rio, porque a doença fica incubada uns 15 dias antes de aparecerem os sintomas.
Então, se você chegar ao Rio faltando poucos dias para os Jogos, ainda que você receba uma picada de mosquito, os sintomas só vão aparecer depois da competição.
Eu tinha pensado em chegar com mais antecedência e em levar minha filha de 2 anos e meio, mas agora estamos preferindo não levá-la.
Se eu estivesse grávida, não iria ao Brasil. Não correria um risco tão grande.
Outra coisa que me preocupa são as condições da água na Baía de Guanabara. Sei que estão trabalhando muito na limpeza da baía, mas um companheiro argentino sofreu um corte e teve infecção na perna. É preciso tomar precauções. Estão trabalhando, mas a despoluição de uma baía não é algo que se possa fazer em meses. É uma conscientização, não é fácil mudar os hábitos das pessoas. É uma pena porque o lugar é uma beleza.
Não me sinto segura no Rio. Para os que gostam de esporte ao ar livre, não dá para sair de bicicleta tranquilamente, como se faz na Europa, pelo medo de assalto.
Mas entendo que haja gente que roube no Brasil, onde há tanta desigualdade entre as classes sociais, tanta riqueza ao lado de tanta pobreza.
Felizmente nunca fui assaltada, mas tenho amigos que passaram por isso. É preciso ter muito cuidado.
OUTRO LADO
O comitê organizador da Olimpíada de 2016 afirmou que adota medidas para proteção e esclarecimento dos atletas envolvidos nos Jogos e nos eventos-testes que têm acontecido na cidade.
Segundo a entidade, o departamento médico da Rio-16 está esclarecendo atletas sobre o que é o vírus da zika.
Para a organização, o fato da OMS (Organização Mundial da Saúde) não ter recomendado que se evite vir ao Brasil faz com que não exista um temor em relação à desistência de atletas.
O comitê está distribuindo repelentes para atletas que participam do evento-teste de saltos ornamentais, no Parque Aquático Maria Lenk, que fica dentro do Parque Olímpico, na Barra da Tijuca.
De acordo com a entidade, a medida será tomada sempre que necessário.
A Rio-16 acredita também que não será necessária a distribuição dos repelentes durante os Jogos, visto que a disseminação do mosquito é, historicamente, menor nos meses de agosto.
Contudo, o comitê organizador afirma estar preparado caso seja necessário implementar essa medida.
Sobre as críticas que a velejadora espanhola Marina Alabau faz à Baía de Guanabara, a organização dos Jogos Olímpicos diz que a qualidade das raias de competição na baía é adequada para a prática de vela.
Benoit Tessier/Reuters A espanhola Marina Alabau com a medalha de ouro conquistada em Londres-2012 Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br
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