Nas duas últimas partidas do Corinthians no Paulista, contra Capivariano e São Paulo, a torcida organizada Gaviões da Fiel chamou atenção por levantar faixas de protesto em que criticava a Rede Globo, a CBF, o presidente da Assembleia Legislativa paulista, Fernando Capez (PSDB), e a própria direção do clube.

No clássico, a partida chegou a ser interrompida pelo árbitro e o zagueiro Felipe pediu que as faixas fossem retiradas diante da arquibancada apinhada de apoiadores.

A coletânea "Os Gaviões da Fiel: Ensaios e Etnografias de uma Torcida Organizada de Futebol", coordenada por Bernardo Buarque de Hollanda e Plínio Labriola Negreiros, aborda as diversas facetas da uniformizada fundada em 1969. Um dos seus fios condutores é, justamente, a relação ambivalente com o time. "Os Gaviões são ao mesmo tempo um alento e um transtorno para o Corinthians", diz o prefácio.

À Folha Hollanda apresenta interpretação dos episódios mais recentes da organizada, que foi proibida temporariamente de entrar no estádio com seus adereços após disparar sinalizadores na Copa São Paulo e então passou a fazer protestos públicos.

"Acuada e com os deveres cobrados, a Gaviões partiu para o ataque, com um gesto de politização, para que as instâncias que estão lhe punindo também respondam por suas responsabilidades", analisa.

Lançado em dezembro de 2015, o livro não contempla as recentes faixas de protesto, mas aborda outros episódios em que a inquietude da torcida se expressa.

"A história da Gaviões e a ligação de uma parcela de seus membros com partidos e movimentos de esquerda têm um papel na constituição desses protestos", acrescenta.

O livro reúne textos acadêmicos que tratam de fatos e ações marcantes, como a "invasão corintiana" de 1976 ao Maracanã, quando o Corinthians enfrentou o Fluminense pela semifinal do Brasileiro; da participação nas redes sociais; da relação cambiante com os atletas da Democracia Corintiana, ora perseguidos, ora idolatrados; entre outros.

No conjunto, destaca-se o ensaio do antropólogo Benedito Tadeu César, que dá dimensão precisa dos rituais da Gaviões, marcados por violência e machismo ("Outra garota estava estendida no chão e seu rosto cobria-se de sangue [...] 'Bem que me avisaram para não me meter com os Gaviões. São todos uns cavalos' [...] Trombadinha explicava: 'Me disseram que ela tava botando fogo na bandeira do Corinthians, então eu dei um murro na cara dela!'", relata César, que em outras passagens também descreve provocações e insinuações sexuais agressivas pelas quais passam as mulheres no âmbito das organizadas), mas também por sentido de integração, discurso democratizante, fiscalização do clube e Carnaval.

OS GAVIÕES DA FIEL

Organizadores: Bernardo B. de Hollanda e Plínio L. Negreiros

Editora: 7Letras

Quanto: R$ 49

Avaliação: ótimo