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    Opinião

    Dar credibilidade à entidade é desafio quase impossível do suíço

    JUCA KFOURI
    COLUNISTA DA FOLHA

    27/02/2016 02h00

    O suíço Gianni Infantino é um homem de sorte.

    Estava no lugar certo na hora certa, na secretaria geral da Uefa, quando Michel Platini, o favorito para suceder Joseph Blatter, foi pego pelos escândalos da Fifa.

    Agora, aos 45 anos, é o novo presidente da transnacional do futebol e o mais novo cartola a chegar ao posto, exceção feita a Robert Guérin, primeiro presidente, em 1904, com apenas 28 anos.

    A seu favor, duas constatações: tem nome limpo e era o segundo homem da confederação que administra o continente onde se joga o melhor e mais bem organizado futebol do planeta, a Europa.

    Seu desafio é quase impossível: dar credibilidade à Fifa e aos que votaram nele, entre estes as federações que compõem a Conmebol, CBF inclusive.

    De cara, um problemão: o que fazer com o Qatar, sede da Copa-2022, um absurdo que a corrupção tornou realidade.

    Sua vitória sobre o xeque do cheque, o do Bahrein,que preside a federação asiática, terceiro maior colégio eleitoral com 46 votos e peça-chave para que o Qatar fosse escolhido, dá uma pontinha de esperança ao mesmo tempo em que o coloca diante de missão quase sobre-humana.

    Outra decisão que precisará tomar diz respeito ao famoso relatório Garcia, do procurador americano que a Fifa encomendou e engavetou sob pressão das confederações de todos os continentes menos o europeu. Publicá-lo integralmente revelará suas intenções. Não fazê-lo também.

    Sempre haverá quem diga, no Brasil, que saudar uma vitória europeia é típica do nosso complexo de vira-lata. Mas não.

    Tivéssemos no país um pouco que fosse do jeito europeu de tratar o esporte mais popular da Terra e não seríamos meros exportadores de pé de obra, nem estaríamos submersos no mar de corrupção que é marca registrada do futebol pentacampeão mundial, cada vez mais distante de poder obter o hexa.

    Infantino, que é Gianni mas foi chamado de Gianini pelo presidente interino da CBF, o coronel Nunes, ao substituir seu compatriota Blatter e ocupar o lugar que estava destinado ao seu ex-chefe Platini, terá de romper com aliados e ir muito além do discurso fácil e habitual da transparência, da democracia e do governar para todos.

    Ele sabe que poderosos patrocinadores exigirão mudanças além da fachada e que o FBI está na iminência de declarar a Fifa uma organização criminosa, o que, se de fato ocorrer, soará como sentença de morte exatamente porque a Uefa que secretariou até ontem não esconde seu desejo de romper com a entidade.

    Se a Copa do Mundo é ainda o creme do creme dos torneios de futebol, olhar para os interesses dos grandes clubes europeus se impõe, porque no mundo globalizado o negócio do esporte há muito supera o interesse pelas seleções nacionais, cada vez menos capazes de montar times melhores que os Barcelonas, Bayerns e que tais.

    Infantino terá de ser maduro e ter muita, muita coragem.

    Apostar que terá soa ingênuo.

    Melhor dar tempo ao tempo, por mais que a ruptura com os velhos métodos seja urgente.

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