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    Confederação afasta fiscais da Stock Car que ameaçaram prejudicar pilotos

    DE SÃO PAULO

    29/02/2016 15h06

    Márcia Ribeiro - 11.ago.2013/Folhapress
    RIBEIRAO PRETO, SP, BRASIL, 11-08-2013, 10h: Corrida de Stock Car em Ribeirão Preto. (Foto: Márcia Ribeiro/ Folhapress, REGIONAIS)
    Carros da Stock Car alinhados no grid para prova em Ribeirão Preto

    A CBA (Confederação Brasileira de Automobilismo) informou nesta segunda-feira (29) que afastou os oficiais de pista da Stock Car envolvidos em troca de mensagens onde ameaçavam prejudicar pilotos da principal categoria do automobilismo brasileiro.

    O caso foi revelado pela Folha. A reportagem teve acesso a uma troca de mensagens, por WhatsApp (serviço de comunicação eletrônica), de um grupo de comissários e auxiliares que atua no circuito.

    De acordo com o comunicado, a entidade abrirá inquérito administrativo para apurar supostas irregularidades. Além disso, encaminhará a reportagem para a Procuradoria do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) do automobilismo, "ante a gravidade do narrado".

    A Vicar Promoções Desportivas, empresa que organiza a Stock Car, disse em nota que "julga lamentável a atitude dos comissários técnicos".

    Segundo a empresa, os comissários são vinculados à CBA. Por esse motivo, não caberia à Vicar responsabilidade sobre qualquer tipo de ação por parte deles.

    AS MENSAGENS

    Entre piadas, brincadeiras e demonstrações de poder, uma conversa dos comissários levantou dúvidas sobre a precisão de relatórios e a isenção de decisões que podem interferir no resultado final do campeonato.

    Com funções equivalentes às do árbitro de um jogo de futebol, os comissários desportivos das corridas de Stock Car têm o poder de aplicar punições durante a prova, excluir ou desclassificar um piloto.

    A categoria é a mais antiga e a mais rica do automobilismo nacional. Criada em 1979, reúne os principais pilotos e tem hoje média de público de mais de 30 mil pessoas.

    Nas conversas, os comissários fazem ameaças e piadas.

    "Vamos desclassificar ele por alguma coisa na próxima etapa...", escreveu o auxiliar de comissário Paulo Ygor Dias em 7 de abril de 2015, referindo-se ao piloto Cacá Bueno.

    Dois dias antes, na corrida em Ribeirão Preto (SP), o piloto havia chamado os "caras da CBA" de "bando de imbecis", em conversa com a equipe que acabou vazando, depois que a bandeirada não foi dada por erro de uma comissária.

    A ameaça não se concretizou na corrida seguinte. O piloto foi suspenso por uma etapa e multado pelo STJD, perdendo a liderança do campeonato.

    Pouco depois, na mesma conversa, o veterano comissário Clóvis Matsumoto, hoje fora da Stock Car, vangloria-se de ter impedido o mesmo Bueno de ser campeão.

    "Bom, na minha época o Cacá foi 3 vezes vice pq eu não estava a fim de deixar ele ser campeão! Kkk", escreveu.

    Ygor confirma: "Eu presenciei essa época do matsu... E tbm não faz muito que ele não foi campeão por uns pontinhos que tiramos dele...". Seguiram-se vários "kkk".

    Para Cacá Bueno, hoje na equipe Red Bull, "é repugnante" o tom das conversas.

    "É um absurdo, porém, infelizmente, não me surpreende. Sempre tive suspeitas."

    OUTRO LADO

    Em resposta à reportagem, a CBA já havia argumentado que não é possível um comissário técnico inventar uma punição porque ele apenas fiscaliza se o regulamento é cumprido.

    Tanto comissários como a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) afirmaram que não é possível que os comissários técnicos influam deliberadamente no resultado das corridas.

    O engenheiro Clóvis Matsumoto disse que a conversa foi feita em tom de brincadeira. Foi uma "molecagem".

    Ele afirmou que hoje a Stock Car é muito profissional, que os regulamentos evoluíram e que "não tem pegação no pé, não dá para inventar punições", uma vez que as questões são técnicas.

    Informou que atua na função desde 2002 e que nunca viu "nenhum comissário punir piloto por implicância".

    Paulo Ygor Dias, auxiliar de comissário na Stock Car, também disse que a conversa tinha "tom de brincadeira". Para ele, o trabalho dos comissários é baseado em regulamentos técnicos e é acompanhado pelas equipes.

    Afirmou ainda que Cacá Bueno já teve problemas "com itens em desacordo com regulamentos" em outras categorias. Disse que alguns pilotos ficam questionando todo o tempo, inclusive sobre outros carros. "Assim como ele [Cacá Bueno] xingou a gente [de imbecis], eu posso achar que ele é chato."

    Existem dois tipos de comissários, os desportivos e os técnicos. Os desportivos são os que têm a responsabilidade de aplicar sanções e o fazem baseados também em relatórios preparados pelos comissários técnicos.

    STOCK CAR SOB SUSPEITA - Mensagens de comissários em grupo de Whatsapp indicam que pilotos teriam sido prejudicados

    VEJA A ÍNTEGRA DO COMUNICADO

    A Confederação Brasileira de Automobilismo - CBA - vem a público informar que tomou ciência da matéria, publicada na data de hoje, 29 de fevereiro de 2016, no jornal Folha de S. Paulo, pela jornalista Paula Cesarino Costa, intitulada: "Troca de mensagens põe em xeque isenção de fiscais da Stock Car".

    A matéria informa que a Folha de S. Paulo "teve acesso a uma troca de mensagens, por WhatsApp de um grupo de comissários e auxiliares que atua no circuito".

    Nas conversas, a que a Folha de S. Paulo diz ter tido acesso, os comissários supostamente fariam ameaças de desclassificar pilotos e se vangloriariam de já o terem feito.

    A matéria se refere especificamente ao auxiliar Ygor Dias, ao Comissário Técnico Clóvis Matsumoto e aos pilotos Cacá Bueno, Xandinho Negrão e Átila Nunes.

    A CBA informa que, provisória e preventivamente, resolveu afastar os oficiais de pista citados na matéria e abrir inquérito administrativo para apurar supostas irregularidades, além de encaminhar a matéria jornalística para a Procuradoria do STJD do Automobilismo, ante a gravidade do narrado.

    A CBA esclarece que os auxiliares e comissários técnicos não têm o poder de desclassificar ou de tirar pontos de qualquer piloto. Eles, os comissários técnicos, elaboram um relatório técnico, emprestando conformidade ou desconformidade ao veículo de competição diante do regulamento técnico da categoria.

    As vistorias técnicas são realizadas, de ofício, pelos comissários técnicos ou por reclamações de pilotos ou de equipes concorrentes, na forma do Código Desportivo do Automobilismo e, em qualquer hipótese, são acompanhadas, pessoalmente, no local em que os carros são vistoriados, por membros da equipe proprietária do veiculo, inclusive pelo piloto, se assim o desejar.

    Os regulamentos técnicos das categorias são objetivos, não se prestando, em regra, a interpretações divergentes.

    Os Comissários Desportivos, com base nos relatórios elaborados pelos Comissários Técnicos, na presença dos membros das equipes, têm o poder de punir os pilotos, inclusive com perda de pontos.

    A CBA, em levantamento realizado a partir de janeiro de 2009, pode afirmar, com toda certeza, que nenhum piloto veio a ser punido pelos comissários desportivos, com base em relatório dos comissários técnicos, e, portanto, nenhum piloto deixou de ser campeão em virtude de punições dos comissários da CBA.

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