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Esporte
Sunday, 24-Nov-2024 16:00:04 -03'Nós vamos propor sugestões de mudanças à CBF', diz Edmilson
MARCEL RIZZO
DO PAINEL FC
NAIEF HADDAD
EDITOR DE "ESPORTE"13/03/2016 02h00
José Edmílson Gomes de Moraes, ou apenas Edmilson, se tornou um dos porta-vozes do comitê de reformas criado pela CBF para propor mudanças na governança do futebol.
Mas o ex-zagueiro da seleção brasileira avisa: "Para deixar claro, esse comitê presta consultoria à CBF, nós não somos funcionários. O comitê não interfere na política da CBF, então não se pode falar 'você está na CBF e é farinha do mesmo saco'. Estamos tentando ajudar, apresentar projeto para melhorar o futebol", disse Edmilson em entrevista à "TV Folha".
Aos 39 anos, ele é um dos três ex-jogadores que fazem parte do comitê –Ricardo Rocha e Carlos Alberto Torres compõem também a equipe de 17 pessoas, entre juristas, presidentes de federações e de clubes, e diretores da CBF.
Edmilson foi campeão do mundo com a seleção em 2002, na Copa do Japão e da Coreia do Sul. No Brasil, teve passagens por São Paulo e Palmeiras; na Europa, por Barcelona e o francês Lyon, entre outros. Hoje ele é embaixador do clube espanhol no Brasil.
Na visita à CBF, Edmilson falou sobre a fundação que mantém e que leva seu nome. O objetivo da entidade, localizada em Taquaritinga, no interior paulista, é atender crianças carentes.
Na ocasião, o ex-zagueiro também comentou sobre as clínicas que promove pelo país em que tenta ensinar a garotada a cultivar o improviso no futebol.
"Meu trabalho no comitê é tentar criar um projeto para o calendário nacional. Temos que integrar o calendário da categoria de base ao profissional e buscar um modo de deixar as janelas de transferência na mesma época", afirma Edmilson.
"Quando a janela está aberta no Brasil e os times daqui têm dinheiro para contratar, eles não podem trazer atletas da Europa porque lá está fechado", lembra ele.
Veja a seguir os principais trechos da entrevista.
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Comitê de reformas
Criado em fevereiro de 2016, o comitê de reformas da CBF pretende atualizar o estatuto da CBF e fixar um código de ética. Para Edmilson, é importante que a entidade se torne mais transparente. O estatuto da CBF, segundo o ex-zagueiro, deve ser aperfeiçoado.
"Temos que saber o que acontece dentro da CBF", diz.
Edmilson garante que ele e seus colegas de comitê terão autonomia para propor mudanças. "A CBF não vai nos trazer ideias prontas, nós vamos propor sugestões de mudanças e discutir se elas são viáveis ou não. Caso contrário, não teria sentido a criação desse comitê".Seleção brasileira
Edmilson foi convidado por Gilmar Rinaldi, coordenador de seleções da CBF, e pelo técnico Dunga para integrar a comissão técnica da seleção brasileira nos amistosos contra Costa Rica e EUA, em setembro de 2015.
Àquela altura, ele atuou como "auxiliar pontual", por meio da qual ex-jogadores importantes integram a delegação do país em amistosos e torneios oficiais.
Edmilson critica o fato de que a CBF sempre convide dirigentes para a função de chefe de delegação.
"Por que um presidente de federação que nunca pintou nada na seleção é o chefe de delegação? É um cargo importante, que representa ao país. Por que não um jogador, que fale o idioma do país [onde a seleção está]?", questiona.
Para ele, Dunga deve priorizar agora a recuperação emocional dos jogadores após o 7 a 1 sofrido para a Alemanha na semifinal da Copa-2014.
"Em qualquer área, depois de uma demissão, de um divórcio, a primeira missão é se reerguer emocionalmente. São necessários alguns ajustes no time, mas o Dunga já tem conseguido mostrar para os jogadores que eles têm a chance de ganhar uma Copa, de realizar o sonho após a pancada", disse.O 7 a 1 e o "torcedor"
Para o zagueiro, que trabalhou com Luiz Felipe Scolari na Copa de 2002, houve falha na preparação da seleção na Copa de 2014. "Falo como torcedor", esclarece Edmilson.
Para ele, a comissão técnica e os jogadores deveriam ter admitido que estavam jogando mal e se "trancado" para trabalhar com mais tranquilidade. Ou seja, era preciso reduzir a exposição ao público.
"Não é culpa só do Felipão ou do Neymar. É do grupo. Acho que houve uma pressão muito grande sobre o grupo depois de entrevistas dizendo que o time seria campeão."
Durante o Mundial, o então coordenador Carlos Alberto Parreira disse algumas vezes que o Brasil era o favorito a levantar a taça.
Além disso, avalia o ex-zagueiro, não foi adequada a preparação tática para enfrentar a Alemanha, "um time que era muito forte no meio. E quando os gols vão saindo, não há o que fazer".Seleção olímpica
Edmilson também atuou como "auxiliar pontual" do time olímpico. Na Rio-2016, a equipe será dirigida por Dunga. Neste momento, contudo, essa seleção é preparada por Rogério Micale, técnico do sub-20, devido à coincidência de datas dos jogos preparatórios do time principal e da equipe sub-23.
Em tom bem-humorado, o ex-zagueiro diz esperar que Dunga "não fique bravo" com ele ao defender que Micale seja o comandante no banco de reservas da seleção nos Jogos Olímpicos.
"Eu deixaria o Rogério, que me impressionou muito. Sempre fazem isso: o técnico principal assume o time olímpico um mês antes. Foi assim com o [Vanderlei] Luxemburgo, o Mano [Menezes]. A integração no dia-a-dia é importante para a conquista. Acho que por isso o Brasil nunca teve o ouro."
Ele levaria como três jogadores acima de 23 anos (limite para a Olimpíada) Neymar, um atleta de meio de campo e um zagueiro. Na opinião do ex-zagueiro, Ederson, que tem idade olímpica e joga pelo Benfica, deve ser o goleiro.Raízes do futebol brasileiro
Edmilson acredita que, com algumas exceções, o jogador brasileiro perdeu a capacidade de improvisar, característica que o diferenciava de atletas de outros países, como a Alemanha.
"Víamos os garotos na praia, na rua, no terrão, jogando com tijolos como gol, com chinelo como luva para goleiros. Hoje no futebol, há meninos com 13, 14 anos que já bancam o pai, já têm empresário e precisam se adaptar a jogar dessa ou daquela maneira. Precisamos resgatar nossas raízes, trazer de volta o improviso. Quando eu jogava, morria de medo de levar uma caneta do Romário. E hoje?".
Nas clínicas que ministra, Edmilson incentiva as jogadas individuais.
"Hoje as escolinhas de futebol são apenas "merchan". Jogam a bola lá, colocam os moleques para correr atrás dela. Em 20 minutos, um menino vai pegar uma vez na bola. Vai ficar desestimulado, voltar pra casa e jogar videogame", afirma.
"Outro problema é que muitos garotos, sem uma edução séria, acabam se perdendo e estragam suas carreiras. Quantos casos não tivemos de atletas talentosos que se perderam?"Marcelo Justo - 04.mar.2016/Folhapress Campeão mundial com a seleção brasileira em 2002, o ex-jogador Edmílson concede entrevista à TV Folha RAIO X
NOME
José Edmilson Gomes de MoraesNASCIMENTO
10.jul.1976 (39 anos), em Taquaritinga (SP)CLUBES
XV de Jaú, São Paulo, Lyon, Barcelona, Villareal, Palmeiras, Zaragoza e CearáNA SELEÇÃO
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