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    Corrupção no futebol

    Presidente da CBF diz que comanda entidade como 'unidade militar'

    SÉRGIO RANGEL
    ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

    16/03/2016 15h48

    Divulgação/CBF
    Coronel Antonio Carlos Nunes, atual presidente da CBF
    Coronel Antonio Carlos Nunes, atual presidente da CBF

    O presidente interino da CBF, o coronel Antonio Carlos Nunes, disse nesta quarta (16) que administra a entidade "como uma unidade militar".

    A declaração do cartola foi dada após o presidente da CPI do Futebol, o senador Romário (PSB-RJ), questioná-lo sobre quem manda atualmente na confederação.

    "Administro a CBF como militar. Durante a carreira que fiz na gloriosa Polícia Militar do do Pará, aprendi a comandar e a mandar. Administro como se administra as unidade militares", afirmou o coronel Nunes, como gosta de ser chamado.

    Nunes foi convocado pelos senadores da CPI para prestar esclarecimentos em Brasília. Ele substitui Marco Polo Del Nero em janeiro após uma manobra da cúpula da entidade.

    Em dezembro, o paraense de 77 anos foi eleito vice da CBF para entrar na vaga de José Maria Marin, que está preso nos EUA.

    A manobra, classificada de "golpe" por Romário, evitou a posse do presidente da Federação Catarinense de Futebol, Delfim Peixoto, 75, vice da CBF e opositor de Del Nero.

    Pelo estatuto da entidade, o vice mais velho assume o poder em caso de renúncia.

    Del Nero está afastado da CBF desde dezembro após ser denunciado de se beneficiar de um esquema de recebimento de propina na venda de direitos de torneios no país e no exterior.

    DEVOLUÇÃO

    Nesta quarta, em comunicado para a Justiça dos EUA, a Fifa declarou-se vítima do escândalo de corrupção que levou para a cadeia dezenas de cartolas da Conmebol e da Concacaf. A Fifa pede para receber uma parte — não especificada — dos US$ 190 (R$ 725 milhões) milhões recuperados pelas autoridades americanas nesta investigação.

    A entidade quer que Del Nero, Ricardo Teixeira e José Maria Marin e Marco Polo Del Nero devolvam US$ 5,3 milhões (quase R$ 20 milhões).

    No seu depoimento, o coronel se recusou a responder a maioria das perguntas feitas pelo senador. Em uma deles, o senador perguntou se o cartola era "ladrão".

    "Essa papel não é digno de um presidente. Vou encerrar as minhas perguntas. É lamentável e triste. O senhor não tem capacidade pra comandar a CBF e envergonha os coronéis que conheço", afirmou Romário.

    *

    Leia os principais trechos da sessão:

    Romário - Esta CPI tem poderes de investigação própria de autoridades judiciais. Na condição de coronel, o senhor ainda não aprendeu a obedecer às autoridades judiciais ou deve mais obediência aos homens fortes da CBF? O senhor não tem vergonha de estar protegendo bandidos em vez de prendê-los? Não acha que isso desonra a farda que vestiu?

    Coronel Nunes - Senador, eu me reservo o direito de não me manifestar com relação à pergunta.

    Na imprensa, temos visto o Secretário-Geral Walter Feldman e o diretor de gestão Rogério Caboclo, homem de inteira confiança de Marco Polo Del Nero, falando em nome do senhor e da CBF. Há inúmeros relatos de que o senhor, embora seja formalmente presidente, não participa das decisões administrativas da entidade. Dizem que o senhor até dorme durante as reuniões. Marco Polo Del Nero continua dando as cartas em sua gestão? E o que senhor está fazendo lá?

    Digo a V. Exª que nós administramos a CBF. V. Exª acabou de falar como militar, e digo que, durante a carreira que fiz na gloriosa Polícia Militar do Pará, eu aprendi a ...do Pará, eu aprendi a comandar e a mandar. Hoje, qualquer empresa que tenha seu presidente... Nós comparamos, já que o assunto foi comentado aqui por eu ser militar... Então, nós administramos como se administram também as nossas unidades militares, que têm um comandante e tem o seu estado-maior.

    Na CBF, o presidente, que sou eu... Eu mando, aprendi a mandar como coronel da Polícia Militar do meu Estado do Pará, e ninguém vai mandar mais do que o presidente. As minhas decisões, sim... Temos que trabalhar em decisões colegiadas. Talvez por isso, por eu ser de uma federação pequena do norte do País, muitos comentários surgem no sentido de que eu não sei mandar. Mas eu aprendi, Senador, a mandar e a comandar ao longo da minha vida, depois de 42 anos dedicados ao esporte.

    Sua resposta foi muito bonita, Coronel. Parabéns.

    A Fifa divulgou hoje em seu site que o novo presidente da Fifa, Gianni Infantino, está processando Del Nero, Marín e Ricardo Teixeira nos Estados Unidos. A Fifa afirma que os três ex-presidentes da CBF mancharam a imagem da instituição e está cobrando o ressarcimento de valores que eles desviaram da Fifa no total de R$20 milhões. O presidente da Fifa está afirmando que os três ex-presidentes roubaram a entidade. O senhor concorda com o presidente da Fifa ou acha que ele está mentindo?

    Excelência, eu assumi a presidência interina da nossa CBF no dia 8 de janeiro. Então, estou a 60 dias no cargo. Estou aqui em Brasília desde segunda-feira atendendo o chamado desta Comissão. Então, não me situei ainda em relação ao que a Fifa decidiu. E outra: nós esperamos que a Fifa faça o comunicado oficial à nossa Confederação Brasileira de Futebol.

    O senhor é sabedor de que a CBF é uma entidade corrupta, hoje mais do que nunca, principalmente por essa declaração da Fifa? O que o senhor pensa em fazer em relação a isso?

    Excelência, eu me reservo o direito de não responder pergunta que faz referência a "entidade corrupta".

    Presidente, antes de passar a palavra para os Senadores, quero dizer que Ricardo Teixeira é ladrão e corrupto, José Maria Marin é ladrão e corrupto, Marco Polo Del Nero é ladrão e corrupto. O senhor é ladrão e corrupto?

    Excelência, eu não lhe vou responder, porque eu vou me dar o direito de...

    É engraçado, o senhor acabou de responder cinco perguntas. Eu lhe faço uma, e o senhor não pode responder?

    Excelência, isso não é pergunta, isso é ofensa.

    Esse é um direito seu. Não, não o estou ofendendo. Estou perguntando ao senhor. Já que só há ladrão, quero saber se o senhor também faz parte disso.

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