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    Lava Jato

    Braço direito de Andres Sanchez, vice preso sonha comandar o Corinthians

    MARCEL RIZZO
    DO PAINEL FC

    22/03/2016 18h21

    Reprodução/Instagram/torcidaandres
    torcidaandres. Andrés Sánchez. Décima Quarta campanha Sangue Corinthiano
    André 'Negão' (à esq.) ao lado dos dirigentes corintianos Andres Sanchez, Roberto de Andrade e Jorge Kalil

    Dois dias antes de ser preso pela Polícia Federal por porte ilegal de armas, e de depor nesta terça (22) em investigação que o acusa de receber R$ 500 mil de propinas na obra do estádio do Corinthians, o vice do clube, André Luiz de Oliveira, mais conhecido como André Negão, esteve em Heliópolis.

    Na maior favela da capital paulista, na zona sul, ele foi a estrela de um programa de rádio.

    Oficialmente, sua presença ali fazia parte da representação do mandato do deputado federal Andres Sanchez (PT), de quem Oliveira é chefe de gabinete em São Paulo.

    Mas a visita significava um pouco mais: Oliveira monta, em Heliópolis, base para um segundo reduto eleitoral na capital paulista, onde pretende sair como candidato a vereador pelo PDT nas eleições de outubro –o reduto principal continua sendo no bairro no qual passou a maior parte de sua vida, a Vila Maria, na zona norte.

    Danilo Verpa/Folhapress
    SAO PAULO - SP - 22.03.2016 - Suspeito e levado para dentro da Policia Federal de Sao Paulo, na Lapa, durante a operacao Xepa. (Foto: Danilo Verpa/Folhapress, PODER) ORG XMIT: OPERACAO XEPA PF //////// O vice-presidente do Corinthians, André Luiz de Oliveira, o André Negão, chega à PF de São Paulo, na Lapa, para depor.
    O vice do Corinthians, André Luiz de Oliveira, o André Negão, chega à PF de São Paulo para depor

    INFLUÊNCIA

    Aos 55 anos, André Negão precisou trocar um sonho por outro. Ou melhor, atrasar um dos sonhos, costuma dizer a aliados.

    Com rejeição alta entre caciques do Corinthians, por um passado em que ele mesmo admite ter trabalhado no jogo do bicho (aposta ilegal no país), Oliveira preferiu trocar o projeto de se tornar o primeiro presidente negro corintiano, como gosta de falar, pelo de vereador.

    A avaliação é que teria muito mais chance de vencer a eleição em outubro deste ano do que a de abril de 2018, quando termina o mandato de Roberto de Andrade.

    No Corinthians, André Negão fez desafetos na mesma velocidade em que angariou aliados. É considerado um sujeito "boa-praça", que ouve os pedidos dos associados, e se esforça para resolver problemas desde os mais simples, como uma privada entupida em um dos banheiros.

    O bom relacionamento com associados o fez, no segundo mandato da gestão de Andres Sanchez como presidente, entre 2009 e 2012, o diretor administrativo do Corinthians, que seria algo como o prefeito do clube.

    O cargo influente de André Negão gerou reação de aliados de Sanchez, na primeira grande cisão do grupo "Renovação e Transparência", que em 2007 havia levado Sanchez à presidência após a renúncia de Alberto Dualib.

    As críticas a Oliveira eram duas: tomar decisões que, se não cumpridas, eram feitas "meio à força", sem diálogo. E, claro, o passado como bicheiro.

    O vice corintiano já admitiu que trabalhou com o jogo do bicho (uma das vezes, por exemplo, em entrevista ao jornalista Ricardo Perrone, no portal Uol, que pertence ao Grupo Folha, que edita a Folha). Quando mais novo, levou sete tiros, mas não acha que tenha ligação com a atuação com bicheiros. Acha que foi um assalto, mas por precaução evitar falar onde mora. Quase ninguém no clube sabe seu endereço.

    ENCONTRO

    André Negão foi levado ao Parque São Jorge por Jacinto Antônio Ribeiro, o Jaça, conselheiro vitalício do clube e que, no início dos anos 2000, tinha forte influência na categoria de base, mas também há suspeita de que manteria ligações com o jogo do bicho.

    Ele se conheciam do União dos Operários Futebol Clube, localizado próximo à ponte da Vila Maria, na zona norte.

    A história de Andres Sanchez e André Negão começou ali, pelas mãos de Jaça, que foi quem também apresentou Sanchez ao Corinthians.

    Primeiro, ambos atuaram na categoria de base. Depois, quando Andres Sanchez foi vice presidente de futebol do Corinthians, entre 2005 e 2006, na época que a empresa MSI injetou milhões no futebol do clube, André Negão sempre esteve como seu braço direito, ora com cargo de fato, ora informalmente.

    Um das acusações que até hoje André Negão precisa se defender é de que colocou seu filho, também André, na base do clube, e logo depois pegou porcentagem de seus direitos econômicos. Ele diz que os direitos pertencem a seu filho, e que somente o garoto ganharia o dinheiro em caso de venda.

    Na gestão Mário Gobbi na presidência corintiana, de 2012 a 2015, André Oliveira perdeu espaço, mas não deixou de frequentar o clube. Se tornou uma homem de situação na oposição, e, dizem no Parque São Jorge, foi um dos pivôs do desentendimento de Gobbi e Sanchez, que o final do mandato não se entendiam mais entre outros motivos pela condução das obras do estádio em Itaquera, hoje alvo da Polícia Federal.

    A acusação de recebimento de propina deve fazer André Negão perder influência no clube. Hoje, o sonho dele se tornar presidente nunca esteve tão longe.

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