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    Na Folha, Cruyff pediu Muller e admitiu torcer para Brasil na Copa-94

    DE SÃO PAULO

    24/03/2016 19h10

    Em 1994, por ocasião da Copa do Mundo nos Estados Unidos, o holandês Johan Cruyff, morto nesta quinta-feira (24) aos 68 anos, escreveu colunas para o caderno "Copa 94" da Folha.

    Seu primeiro texto para o jornal, "Medo do fracasso caracteriza Mundial", foi publicado em 8 de maio daquele ano, e o derradeiro, "Uma final sem gol é o pior para o espetáculo", em 18 de julho, um dia após a final entre Brasil e Itália que deu o tetracampeonato à seleção nacional.

    Ao todo, 47 textos foram escritos por Cruyff para a Folha em pouco mais de dois meses.

    Nas colunas, que passaram a ter publicação diária desde o primeiro dia do torneio, 17 de junho, saltam aos olhos características que o então técnico do Barcelona sempre revelou em entrevistas: o tom ácido; a leitura tática apurada; a defesa do futebol ofensivo e do "espetáculo"; comentários incisivos e muitas vezes surpreendentes; e o encantamento com jogadores que, como ele, esbanjavam categoria.

    Antes ainda das estreias de Romário, Maradona e Stoichkov, ele tece loas aos três.

    "Que fará Maradona? Ele é um gênio e pode fazer coisas maravilhosas até andando em campo", inicia.

    "O atacante do Brasil tem tudo para desequilibrar. É daqueles jogadores que parecem não estar em campo e, de repente, aparecem e não perdoam. Eu o classifico de genial e, se estiver inspirado, pode levar a seleção brasileira ao título. Stoichkov, por sua vez, é um jogador de instinto assassino", analisa.

    Mais adiante, ele lamenta a sina do argentino, entendida como "estupidez" –Maradona recebeu resultado positivo para cocaína em exame antidoping. "Creio que o mundo do futebol estendeu a Maradona uma mão para tentar recuperar o mito, mas todo o esforço não serviu absolutamente para nada. É uma pena", lamenta.

    Sobre o brasileiro, o enaltecimento apenas cresce.

    "Romário inventa ele mesmo as suas. E é capaz de transformar em realidade a imaginação de um gol. Ele não pode ser criticado nunca". Mas para o ataque da seleção, ele não consegue evitar seu pitaco a Carlos Alberto Parreira.

    "Mas devo dizer que a minha dupla de atacantes para jogar a reta final desta Copa seria Romário e Muller, que são jogadores muito diferentes e é disso que precisa o conjunto", arriscou.

    Por fim, um dia antes da decisão entre Brasil e Itália, Cruyff quebrou o protocolo e revelou sua torcida. Aos leitores da Folha, ele afirmou que torceria para quem praticava o "futebol-espetáculo" como ele via.

    "Que ganhe o Brasil. De forma clara e sem qualquer dúvida. Nunca mostrei tão abertamente minhas preferências, mas agora é diferente. Acho que a seleção brasileira jogou esta Copa contra todos [...] O futebol não é só conservar a bola ou escondê-la. O futebol é manter o controle da bola para buscar o gol. Só o Brasil fez isso. E, por isso, agora que o título está em jogo, quero que ganhe esta opção pelo futebol-espetáculo", escreveu.

    No dia seguinte, a preferência do holandês viraria realidade, com a vitória da seleção brasileira nos pênaltis. Em sua coluna de despedida do jornal, ele concluiria em nota crítica, como tipicamente se apresentava.

    "Uma final que acaba em cobrança de penâltis depois que nenhuma das seleções foi capaz de marcar um só gol já é por si só o pior dos castigos para o espetáculo."

    LEIA AS PRINCIPAIS COLUNAS DE CRUYFF NA FOLHA

    23.jun.1994 - Maradona será gênio e um 'peso' para time

    26.jun.1994 - Contratar jogadores na Copa é um equívoco

    30.jun.1994 - Eu escalaria Muller e Romário no ataque

    2.jul.1994 - Não dá pra entender a estupidez de Maradona

    3.jul.1994 - Itália e Holanda são as decepções até agora

    6.jul.1994 - A Itália não é nada, mas é sempre a Itália

    7.jul.1994 - Romário deve ter marcação individual

    9.jul.1994 - Lembranças de um jogo, 20 anos depois

    15.jul.1994 - Brasil fez sua melhor partida nesta Copa

    17.jul.1994 - Agradeçam ao Barça a recuperação de Romário

    18.jul.1994 - Uma final sem gol é o pior para o espetáculo

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