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    Corrupção no futebol

    Polícia faz buscas na sede da Uefa por suspeita de gestão criminosa

    DE SÃO PAULO

    06/04/2016 13h34

    A Polícia Federal da Suíça realizou nesta quarta-feira (6) buscas na sede da Uefa (que controla o futebol europeu), em Nyon, para colher documentos dos contratos de direitos televisivos da entidade com a empresa Cross Trading.

    Na sequência, o Ministério Público da Suíça informou que há "suspeita de gestão criminosa" em negociações de venda de direitos de televisão de competições organizadas pela entidade europeia. o que motivou a ordem de busca e apreensão.

    "A suspeita está baseada no resultado das investigações de outros casos que surgiram, assim como da análise financeira realizada pela promotoria. As publicações recentes na imprensa revelaram outros elementos que tornaria possível completar as investigações de uma maneira decisiva", afirmaram os promotores.

    Na terça (5), o jornal "The Guardian" revelou que o atual presidente da Fifa e ex-dirigente da Uefa, o suíço Gianni Infantino, participou da venda dos direitos de transmissão das competições do órgão –Liga dos Campeões, Copa do Uefa e Supercopa– para a América do Sul e está na relação de pessoas envolvidas em transações com offshores, contas abertas em paraísos fiscais.

    Os direitos foram adquiridos pela companhia argentina Cross Trading, que imediatamente os repassou para o canal Teleamazonas, do Equador, por mais de três vezes o preço pago anteriormente. Os contratos cobrem o período entre 2003 e 2009.

    A Cross Trading é uma subsidiária da companhia Full Play, de propriedade de Hugo Jinkis. O empresário argentino foi um dos que recebeu propina em acordos de negociação de direitos de transmissão de torneios promovidos pela Conmebol.

    Em razão disso, Jinkis e seu filho Mariano estão sob prisão domiciliar na Argentina.

    Em um comunicado enviado à agência France Presse, a Uefa afirmou "ter recebido a visita da Polícia Federal suíça, que atuava em virtude de uma ordem e pediu para ver os contratos entre a Uefa e a Cross Trading/Teleamazonas".

    "Naturalmente, a Uefa entregou à Polícia Federal todos os documentos que tinha e vai cooperar plenamente", afirmou a entidade.

    De acordo com a reportagem do "The Guardian", os arquivos levantam dúvidas sobre a participação de Infantino em acordos realizados quando foi diretor jurídico da Uefa.

    Registros mostram que a entidade concluiu acordos em paraísos fiscais com dirigentes acusados de corrupção, apesar da entidade ter negado anteriormente qualquer ligação com o caso.

    Os documentos teriam sido coassinados por Infantino entre 2003 e 2006 e relacionam, pela primeira vez, a Uefa com uma das companhias envolvidas no caso de corrupção investigado pela Justiça dos EUA.

    A Uefa rejeita ter qualquer participação direta, de seus funcionários ou seus parceiros de marketing com o caso. Da mesma forma, a Fifa nega que o seu atual presidente tenha qualquer ligação com qualquer dirigente investigado, nem com as companhias envolvidas.

    Por meio de um comunicado, Infantino negou qualquer envolvimento nas transações offshores. "Estou consternado e não vou aceitar que minha integridade esteja sendo posta em dúvida por certas áreas da mídia, especialmente dado que a Uefa já tenha divulgado em detalhe todos os fatos em relação a esses contratos.

    NEGÓCIO SUSPEITO

    Os contratos revelam que a Cross Trading, registrada em Nieu, no sul do Pacífico, investigou US$ 111 mil para comprar com exclusividade os direitos da Liga dos Campeões para o Equador. A companhia então recebeu US$ 311 mil para revender para a Teleamazonas.

    A Uefa insistiu que não houve qualquer ilegalidade no acordo. O órgão ainda diz que, na época, não tinha qualquer indício de que Jinkis estaria envolvido em um escândalo de corrupção anos depois.

    A entidade diz que os direitos foram vendidos "em conformidade com um processo aberto e competitivo" e que a proposta da Cross Trading foi 20% superior ao concorrente mais próximo.

    "Não há sugestão, de forma alguma, de que qualquer dirigente da Uefa ou parceiro de marketing tenha recebido qualquer tipo de suborno ou propina, seja em relação a este pequeno acordo, ou qualquer outra transação comercial", afirmou em comunicado.

    "O contrato de TV em questão foi assinado por Gianni Infantino, já que ele era um dos vários diretores da Uefa encarregados de assinar contratos na época. Como vocês podem ter observado, o contrato foi também coassinado por outro diretor da Uefa. É a prática padrão", completou.

    A apuração internacional que revelou o caso que envolve Infantino começou quando o jornal alemão "Süddeustche Zeitung" obteve 11,5 milhões de documentos sobre o escritório do Panamá e compartilhou os papéis com 376 jornalistas de 109 veículos em 76 países, todos ligados ao ICIJ (Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos), uma entidade sem fins lucrativos com sede em Washington, nos Estados Unidos.

    No Brasil, a investigação foi conduzida pelo UOL, que faz parte do grupo Folha, pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e pela Rede TV!. A série de reportagens foi batizada internacionalmente de "Panama Papers".

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