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    Especialistas criticam torcida única nos estádios em SP

    ADRIANO MANEO
    DE SÃO PAULO

    07/04/2016 02h00

    Reprodução/Twitter
    Torcedores depredam trem na estação Brás do metrô
    Torcedores depredam trem na estação Brás do metrô

    A decisão de realizar clássicos estaduais com torcida única, tomada nesta segunda-feira (4) pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, recebeu críticas de especialistas em violência no futebol ouvidos pela Folha. Para eles, a medida é paliativa e não resolve o problema real.

    A decisão foi tomada logo depois de uma série de confrontos entre integrantes de torcidas organizadas de Palmeiras e Corinthians, antes e depois do clássico do último domingo. Um homem ainda não identificado e que não estava envolvido nos confrontos morreu com um tiro no peito, em frente à estação de trem de São Miguel Paulista, na zona leste de São Paulo.

    Marco Aurélio Klein, autor do relatório da "Comissão Paz no Esporte", foi enfático ao analisar a medida. "A ideia de torcida única é um absurdo. É a antítese do futebol".

    Mauricio Murad, professor de sociologia da Universidade Salgado de Oliveira e autor do livro "Para Entender a Violência no Futebol", segue a mesma linha.

    "Já que não conseguimos coibir, controlar, prevenir e reprimir, vamos proibir. É uma declaração de incompetência, é a derrota do futebol, a derrota da cidadania e da civilização", afirmou.

    Segundo Klein, brigas ocorrem até entre torcidas do mesmo time e a extensão da medida adotada mostra o quanto é equivocada.

    "Na hora em que tiver briga entre a torcida única faremos o que? A meia torcida, depois um quarto de torcida, depois torcida nenhuma e depois ninguém na rua num dia de futebol. O fato extensivo do conceito que leva à torcida única é chegar ao toque de recolher", vislumbra.

    Divulgação
    Imagem divulgada pela polícia para tentar encontrar familiares
    Imagem divulgada pela polícia para tentar encontrar familiares

    Em seu relatório, Klein chama a atenção para a necessidade de um "Sistema Nacional de Prevenção da Violência no Futebol".

    Murad também acredita que o plano para combater a violência deve ser nacional. Segundo o professor, a responsabilidade é do governo federal. Para ele, nenhuma medida isolada é capaz de solucionar o problema.

    "O importante não é aplicar uma medida pontual aqui e ali. O governo tem que chamar para si a responsabilidade, considerar a questão da paz no futebol uma prioridade e, a partir daí, articular um plano estratégico nacional. Tem que dar conta do país todo e não de um Estado só. Um plano que se aprofunde, que se renove, baseado em pesquisas científicas", afirma.

    Estudos desenvolvidos pelo professor apontam que 80% dos conflitos graves entre torcidas acontecem nas imediações do estádio e em locais distantes do jogo, o que mostraria a ineficácia da medida adotada em São Paulo.

    Outro ponto destacado pelos dois estudiosos é a questão da impunidade. Segundo estudo de Murad, apenas 3% dos delitos no futebol (agressões, homicídios, depredações, racismo) foram apurados e devidamente punidos.

    "As pessoas que são soltas, assinam um termo circunstanciado de que não vão mais ao estádio, mas vão mesmo assim", afirma o professor, que prevê um ano trágico

    "Em 2016, já temos cinco mortes comprovadas por conflitos de torcida organizada. Isso projeta uma estimativa gravíssima porque, historicamente, as agressões mais agudas acontecem no Campeonato Brasileiro, especialmente nos jogos finais, quando os clubes de maior torcida estão em disputa acirrada e acontecem muitas viagens."

    A REAÇÃO
    Estado anuncia pacote para conter violência

    Torcida única nos clássicos disputados em São Paulo

    Veto a adereços que identifiquem as organizadas (camisas, faixas, bandeiras etc)

    Ingressos apenas online, que obrigam o torcedor a se identificar antes da compra

    Central de polícia para receber denúncias e consolidar as ocorrências

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