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    Por ano, homens ganham R$ 400 mil a mais que mulheres na elite do tênis

    BEN ROTHENBERG
    DO NEW YORK TIMES, EM DANIEL ISLAND, CAROLINA DO SUL

    13/04/2016 17h00

    Com a atenção renovada à disparidade entre os salários dos homens e mulheres no esporte, depois de um processo por discriminação salarial aberto pela seleção de futebol feminino dos Estados Unidos, o tênis costumava ser citado como um líder em termos de igualdade entre os sexos, no conjunto de esportes mais importantes.

    Mas mesmo no tênis, onde homens e mulheres competem juntos, nas mesmas quadras, em todo o mundo, as mulheres continuam a ganhar significativamente menos do que os homens.

    Os torneios do Grand Slam e os poucos eventos de primeira linha mistos que pagam quantias semelhantes para os homens e mulheres continuam a ser exceções.

    Raymond Moore, diretor do torneio BNP Paribas Open, em Indian Wells, Califórnia, um daqueles em que as premiações são iguais para os dois sexos, renunciou no mês passado depois de dizer que as tenistas da WTA, a associação das tenistas profissionais, tinham "sorte" por poderem "pegar carona com os homens", Os comentários dele conduziram a conversações, em torneios subsequentes, sobre as realidades financeiras dos homens e das mulheres no tênis.

    No Volvo Car Open, em Charleston, Carolina do Sul, uma semana atrás, diversos dos principais jogadores apontaram que a discussão sobre a igualdade no pagamento muitas vezes distorce as distintas vantagens que os homens continuam a ter em termos de faturamento anual.

    "Os fatos não foram colocados na mesa; o fato é que não recebemos premiações iguais", disse Andrea Petkovic, jogadora alemã que ocupa o 30º posto no ranking mundial. "Não é verdade que as recebamos. Isso só acontece nos torneios do Grand Slam e alguns mais, mas os homens ganham mais do que nós. Creio que o assunto tenha sido discutido da maneira errada, e foi muito triste acompanhar o que aconteceu".

    Ainda que homens e mulheres tenham remunerações mais parecidas no tênis do que em qualquer outro dos principais esportes, a premiação anual aos 100 tenistas mais bem pagos da WTA e da ATP, a organização do tênis profissional masculino, se equipara à disparidade geral de remuneração nos locais de trabalho norte-americanos, com as tenistas ganhando em média 80% daquilo que os homens faturam. A disparidade média de faturamento entre uma mulher classificada entre as 100 primeiras do ranking do tênis e um homem na mesma situação é de US$ 120.624 ao ano.

    "Acredito que em alguns momentos nós simplesmente temos a esperança de que esses problemas tenham ficado no passado, e que os avanços tenham sido maiores", disse Petkovic. "Mas é bom quando nos deparamos com os pensamentos dos homens que ainda pensam daquela maneira, e talvez seja bom para nós discutir com eles e explicar o nosso ponto de vista".

    "Eu gostaria que fôssemos líderes, que a popularidade não importasse e que a posição de um ou de outro não fizesse diferença. Nós, como esporte, poderíamos defender algo mais que a igualdade na premiação. Poderíamos defender o espírito esportivo e de comunidade", ela afirmou.

    Billie Jean King, que lutou pela igualdade das mulheres quanto o tênis profissional feminino estava se desenvolvendo, continua a defender causas feministas no esporte e fora dele, muito depois de ter deixado as quadras.

    "Temos a chance de continuar na liderança", disse King sobre o tênis. "Ter premiação igual nos grandes torneios envia uma mensagem. Não se trata do dinheiro, mas da mensagem".

    A mensagem reluz de maneira especialmente intensa nos maiores momentos do circuito de tênis, os quatro torneios do Grande Slam, que oferecem premiação igual para homens e mulheres. O Aberto dos Estados Unidos se tornou o primeiro torneio do Grand Slam a oferecer igualdade na premiação, em 1973, e Wimbledon foi o último, em 2007.

    Mas em outros grandes torneios combinados da ATP e WTA, nos quais ingressos para partidas masculinas e femininas são vendidos em forma de um só pacote, a disparidade na premiação pode ser brutal. O Western & Southern Open, em Mason, Ohio, o maior torneio nas semanas que precedem o Aberto dos Estados Unidos, atrai deslumbrantes constelações dos maiores astros e estrelas do tênis a cada ano, e é o quarto maior torneio no calendário do tênis dos Estados Unidos.

    O torneio, do qual a United States Tennis Association detém parcela controladora, paga às mulheres 63% do que paga aos homens. No ano passado, Roger Federer levou US$ 731 mil ao manter seu título no torneio, e Serena Williams recebeu US$ 495 mil por fazer o mesmo, horas mais tarde.

    Os organizadores mencionam uma questão técnica na estrutura da WTA para justificar o diferencial de pagamento. O torneio é um dos nove torneios do circuito Masters 1.000, os principais eventos no calendário da ATP.

    Mas os principais eventos da WTA são os quatro torneios Premier Mandatory, entre os quais os de Miami, Madri e Indian Wells, Califórnia, nos quais as mulheres recebem premiação igual à dos homens. O torneio do Ohio faz parte do segundo escalão, o Premier 5.

    As mulheres também recebem menos que os homens nos torneios Premier 5 do Canadá e Roma, que acontecem em paralelo com torneios masculinos. (Em todos os torneios exceto os do Grand Slam, tanto homens quanto mulheres disputam partidas de três sets, ainda que esse fato seja em muitos casos desconsiderado no debate sobre premiações.)

    Muitos eventos exclusivos da WTA, entre os quais aquele que hoje é conhecido como Volvo Car Open, floresceram. A presença de público na Carolina do Sul supera regularmente a de torneios menores da ATP em cidades próximas como Atlanta e Winston-Salem, na Carolina do Norte, e apresenta públicos semelhantes ou até maiores que o do torneio comparável da ATP em Washington, que em 2012 passou a incluir um torneio feminino de escalão mais baixo da WTA. Mas a premiação masculina total em Washington era de US$ 1.877.705, enquanto a do torneio de Charleston era de US$ 753 mil.

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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