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    Campeonato Paulista

    Coberto pelos volantes, Egídio vira referência no Palmeiras e mira seleção

    GUILHERME SETO
    DE SÃO PAULO

    24/04/2016 02h00

    "Sai daí que você vai atrapalhar a foto do melhor lateral esquerdo do mundo". Egídio ri, mas é assim que a garotada das categorias de base se refere ao jogador que se tornou uma das peças mais importantes do Palmeiras de Cuca, que vem em série de seis jogos de invencibilidade. Neste domingo (24) ele e seus companheiros enfrentarão o Santos pela semifinal do Paulista.

    Reserva na maior parte da última temporada, o lateral de 29 anos é protagonista da equipe no Estadual em diferentes critérios: é o líder em cruzamentos (78); é o segundo colocado em número de passes (512), de assistências (2) e de desarmes certos (27), segundo números do site Footstats.

    Para Gidão, como é conhecido entre os jogadores, sua evolução está relacionada a aspectos psicológicos e táticos.

    "Já tinha falado para a minha família que 2016 seria diferente e que eu seria titular. Fui bicampeão brasileiro [pelo Cruzeiro] e eleito melhor lateral-esquerdo em 2014, e estava precisando mostrar isso no Palmeiras. E então chegou o Cuca e disse que queria me ver como ele conheceu quando era técnico do Atlético-MG. Ganhei a confiança do treinador desde que ele chegou e também retomei a minha", explica.

    Em campo, ele acredita que a organização do time em campo também tem favorecido seu desempenho.

    "O Cuca tem o esquema dele, que ele vira e mexe modifica e os jogadores assimilam bem. Eu converso o tempo todo com os meus volantes para que eles me cubram quando eu partir para o ataque, o que não estava acontecendo e a bola estava estourando nas minhas costas nos contra-ataques. Temos um time mais sólido agora", analisa.

    O retorno de um volante em particular, Gabriel, coincide com a ascensão de Egídio.

    "Quando ele saiu [lesionado, em agosto de 2015], o pessoal começou a reclamar das bolas que eu levava nas costas quando eu ia para o ataque. Agora ele voltou e eu melhorei. Que nem quando falaram do meu cabelo, que se eu cortasse eu voltaria a jogar bem. São coincidências que estão dando certo", explicou.

    Em 2015, ele foi um dos mais vaiados pela torcida. No entanto, ele diz que não foi algo que o abalou.

    "Fui criado no Flamengo, joguei partidas com o Maracanã lotado. Então, estou acostumado com o fervo. Eu sabia que seria vitorioso também no Palmeiras."

    Hoje, as ambições de Egídio, cujo nome é o mesmo de seu pai, que era português, não estão mais na Europa —ele já jogou no Dnipro, da Ucrânia.

    "Meu sonho é conquistar a Libertadores, que infelizmente não deu desta vez. Outro sonho é a seleção brasileira. Passei por todas as categorias de base da seleção e já fui cogitado para a principal, ficaram falando, mas nunca fui. É isso que eu quero neste ano, e tenho certeza de que posso chegar lá se der o meu melhor", diz.

    Sobre o confronto com o Santos, clube que o Palmeiras enfrentou em duas finais em 2015 —Paulista e Copa do Brasil —, ele explica que a ansiedade já começa a bater.

    "Você já começa a mentalizar o time do Santos, que é bom e com o qual se criou uma grande rivalidade. Temos totais condições de ir na Vila e ganhar. Estamos treinando muito forte para isso, com atenção redobrada."

    Em relação as provocações dos santistas, especialmente de Lucas Lima nas redes sociais, ele diz que prefere não "entrar em pilha". Mas não deixa de dar uma cutucada de leve.

    "Dá mais motivação para a gente. A gente não deve entrar em provocação, que é o que eles querem. No ano passado eles provocaram e fomos campeões em cima deles. Não adianta falar e não fazer nada em campo. Faz e depois fala, se tiver alguma coisa para falar."

    CRUZAMENTOS

    "Olha só como eu pego na bola!", diz Egídio jocosamente aos companheiros nos treinos, e ela sai bela, sem recato e no ar. Os cruzamentos do lateral percorrem um traçado em arco que raros jogadores conseguem executar e acertar com precisão na área. Com "veneno", como diz a gíria boleira. Foi assim contra o São Bernardo, quando o centroavante Alecsandro desviou de cabeça para abrir o placar na vitória por 2 a 0 nas quartas de final do Paulista.

    Ele diz que aprendeu isso em sua passagem pelo Flamengo desde as categorias de base.

    "Minha esposa diz que eu tenho facilidade em aprender. Então eu perguntava muito para o [volante] Jônatas e o [lateral] Schneider, que pegavam muito bem na bola, e fui entendendo como fazer", relembra, explicando que também se inspira nas grandes referências do clube do Rio: Júnior, Leandro, Zico.

    Para além deles, Egídio conta que tem apenas um "super ídolo" no futebol, o ex-lateral esquerdo e meia Felipe, que jogou em Vasco, Fluminense, Flamengo e no próprio Palmeiras.

    "Sempre procurei me espelhar no estilo dele de dribles curtos, batidas na bola..."

    Inspiração maior que a do "maestro", como Felipe era conhecido, Egídio retira de sua mãe, Ana Maria, que morreu em 2012.

    "A gente morava em Inhaúma, no subúrbio do Rio, do lado da favela do Alemão, e ela vendia 'sacolés' e 'quentinhas' para pagar a passagem de ônibus para eu, com seis anos, pegar o ônibus e treinar no Flamengo. Sempre que entro em campo eu penso 'vou fazer esse jogo para ela', e todos os meus títulos também são para ela", lembra, com a voz embargada.

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