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    Impasse entre Grêmio e empreiteira deixa estádio Olímpico em ruínas

    MARCEL RIZZO
    DO PAINEL FC, EM PORTO ALEGRE
    PAULO PASSOS
    EDITOR-ASSISTENTE DE 'ESPORTE'

    26/04/2016 02h00

    Do pórtico de entrada ainda é possível avistar, a dez metros de distância, e reconhecer o que era a casa do Grêmio. O estádio Olímpico, no bairro Azenha, em Porto Alegre, já está bem diferente do que foi um dia.

    Em ruínas, aguarda o fim de um imbróglio entre o clube e a OAS, que construiu o novo estádio, no bairro Humaitá, para ser demolido. A empresa entrou em recuperação judicial após ser alvo da operação Lava Jato.

    Construído em 1954 numa área de 8,5 hectares, o que restou do Olímpico ainda atrai gremistas saudosistas, que param em frente para tirar fotos e pedem para tentar entrar no local, que recebeu a última partida em 2013 e foi completamente desativado um ano depois.

    A direção da equipe gaúcha, porém, não deixa ninguém espiar como o estádio está por dentro.

    "Não é interessante para a imagem do clube divulgar imagens", diz Luiz Moreira, diretor de patrimônio do Grêmio.

    "Aquilo virou uma sucata, é triste", admite à Folha o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan Júnior.

    Um dos 12 seguranças que cuidam do local, Tiago Correa conta que em média dez pessoas por dia aparecem no portão pedindo para entrar e tirar fotos. Recebem um "não" como resposta. Há os mais ousados, e são esses que dão trabalho para a segurança.

    "Eles pulam as grades e tentam levar algum pedaço, para guardar de recordação. E tem aqueles que pulam para tentar roubar", conta o segurança.

    O objetivo de desejo dos ladrões são peças de alumínio que faziam parte da fachada do estádio e podem ser vendidas. Áreas pouco iluminadas ao redor do local são abrigo para usuários de drogas.

    "Já tivemos casos de consumidores de crack que ficam ao redor e até já tentaram invadir a área do antigo estádio", informa o tenente-coronel Cleber Goulart, responsável pelo policiamento na região, que relata aumento no número de roubos.

    "Minha filha já foi assaltada. Está perigoso, porque o policiamento era maior quando o estádio funcionava e porque hoje o comércio que havia aqui desapareceu", diz Gladis de Deus, 70, aposentada que é vizinha ao estádio.

    Há, entretanto, quem comemore o fim do Olímpico.

    "Acabou buzinaço, gente bêbada nas ruas, dá pra chegar tranquilo de noite. Eu prefiro assim", celebra Neide Roberta Lorenzi, 47, dona de casa.

    IMBRÓGLIO

    O acordo acertado entre Grêmio e OAS para a construção do novo estádio do clube previa a cessão do terreno do Olímpico para a empreiteira, que iria subir um condomínio de prédios no local.

    "No contrato original, estava acertado que isso [troca das propriedades] ocorreria em março de 2013", afirma Eduardo Antonini, ex-presidente da Grêmio Empreendimentos.

    Antes da entrega, porém, houve mudança de gestão no clube. Paulo Odone deu lugar ao seu rival político Fábio Koff. O ex-presidente do Clube dos 13 propôs a revisão de alguns pontos do acordo entre o Grêmio e a empreiteira.

    No meio do caminho das negociações, a OAS caiu na operação Lava Jato, da Polícia Federal, que desvendou esquema de pagamento de propinas em obras da Petrobras.

    Sem crédito, a empresa entrou em recuperação judicial. Ela tem dívidas com bancos como Banco do Brasil, Santander e Banrisul.

    "Para que houvesse a troca, os dois patrimônios [Olímpico e Arena] precisam estar desonerados, sem dívidas, o que não acontece com a Arena", afirma Bolsan, atual presidente do Grêmio.

    O clube ainda tenta assumir a gestão do novo estádio, o que hoje é da empreiteira.

    À Folha a OAS afirma que "está empreendendo todos os esforços para superar as dificuldades deste momento e confia que chegará, em curto espaço de tempo, a um acordo para garantir a continuidade da operação da Arena do Grêmio. É importante destacar ainda que a Arena do Grêmio está em operação normal e cumpre rigorosamente todos os seus compromissos com colaboradores, fornecedores e clientes'.

    "Hoje somos simplesmente locatários. Estamos trabalhando para comprar o direito de propriedade, mas o fato da OAS estar nessa situação atrasa tudo", diz o dirigente gaúcho.

    O clube já previu que o negócio seria acertado até o ano passado. Hoje, crê em acordo, mas evita estipular prazos. Enquanto isso, o Olímpico agoniza antes do seu fim.

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