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    Campeonato Paulista

    'Modelo europeu não fará nosso futebol melhor', diz Fernando Diniz

    LUIZ COSENZO
    DE SÃO PAULO

    01/05/2016 02h00

    Inovador, estrategista, audacioso louco... Finalista do Paulista, Fernando Diniz, 42, já foi taxado de várias formas desde que iniciou a carreira de treinador em 2009, dirigindo o extinto Votoraty.

    Neste domingo (1º), o seu Audax, de Osasco, a surpresa deste Estadual, enfrenta o Santos na primeira partida da decisão, às 16h. Na partida, o time deve, mais uma vez, apresentar as características que notabilizaram seu treinador, como um estilo de jogo de troca de passes e movimentação constante.

    À Folha ele disse que o futebol brasileiro precisa de mudança, mas evitou o discurso corrente de que o único caminho é a metodologia do Velho Continente. Para Diniz, "importar o modelo europeu não vai fazer nosso futebol melhor do que é hoje".

    Formado em psicologia, o líder da sensação da competição tem a convicção de que o nosso problema atual está mais relacionado a questões sociais do que táticas.

    *

    Folha - O treinador e o treinamento brasileiro estão defasados em relação à Europa?
    Fernando Diniz - A questão não é importar metodologia de treino. Evoluímos bastante nessa questão, principalmente na base. Isso não quer dizer que o futebol vai melhorar por isso. Importar modelo europeu não fará nosso futebol melhor do que é hoje.

    Por que os treinadores brasileiros não têm oportunidade no mercado europeu?
    Um motivo é o idioma. Outro é porque o momento do Brasil em conquistas internacionais não é dos mais promissores. O terceiro é o aspecto geográfico de Argentina, Uruguai e Chile, que são países mais frios. As características desses lugares favorecem a adaptação de seus profissionais na Europa.

    Qual time você vê na folga?
    Barcelona e Bayern de Munique são os times que mais gosto de ver jogar, mas não faço grande esforço para isso. Prefiro ver os jogos dos times que serão meus adversários.

    O 7 a 1 para a Alemanha é um retrato do futebol brasileiro?
    Não acho. O resultado macula muita coisa. Parece que está tudo errado, que não existe jogador, que nada presta. Acho que tem muita coisa para mudar, mas temos o essencial, que são bons jogadores. O 7 a 1 foi bom para dar uma chacoalhada, para mudar coisas que deveriam ser mudadas quando a gente estava ganhando.

    O talento individual ainda pode fazer a diferença?
    O diferencial do futebol brasileiro é a qualidade individual, o improviso. Tenho convicção de que temos talentos individuais demais.

    Precisamos elaborar um jeito de tirar o melhor dos jogadores e dar muito apoio para que joguem bem coletivamente. O problema está muito mais na questão humana e social que na questão tática e coletiva. A primeira coisa é dar suporte para os jogadores entenderem de onde vêm e, aí sim, se enquadrarem na coletividade. É o que fazemos.

    Quem tem mais escolaridade tem mais facilidade para entender o jogo coletivo. O cara que cresceu com liberdade na rua tem mais relutância para entender e aceitar.

    O principal problema, na minha opinião, está na maneira que o jogador é tratado, ele deve ser tratado como gente, para que chegue na seleção mais bem preparado emocionalmente.

    O estilo do Audax dá para ser implantado em time grande?
    Essa filosofia vem desde quando treinava time na Série A-3. Perguntavam se eu conseguiria implantar esse estilo na A-2. Depois, perguntavam se conseguiria na A-1 e hoje continuam perguntando. Provavelmente, daqui a pouco, podemos estar fazendo num time grande e vão indagar se conseguirei fazer na Europa.

    Não estou fazendo o negócio para ir para time grande. Faço porque tenho prazer. Se os jogadores estão felizes, evoluindo, obtendo resultados, isso é o que me realiza. Não fico projetando o futuro.

    Você se inspirou em algum treinador ou jogador?
    A minha inspiração são os grandes jogadores. Tudo o que faço é para que o jogador possa ser o Pelé que queria ser. Minha inspiração é ver o jogador atuando bem, de maneira alegre, com plasticidade e de maneira competitiva.

    Gosto das pessoas que tenham caráter. Os treinadores que me marcaram foram os que eram bons de campo e davam um pouco mais de si para os outros. Gosto do Oswaldo de Oliveira, do Márcio Araújo e do Vágner Mancini.

    Como você vê o Santos, seu adversário na final?
    O Santos tem muita coisa diferente. Tem um conjunto muito forte, tem grandes jogadores e um excelente técnico. É um time completo e que tem um menu de opções. Temos que saber o jogo, jogar dentro das nossas características.

    RAIO-X
    FERNANDO DINIZ

    Nome
    Fernando Diniz Silva

    Nascimento
    27/03/74, Patos de Minas (MG)

    Times como treinador
    Votoraty, Paulista, Botafogo-SP, Atlético Sorocaba, Audax, Guaratinguetá e Paraná

    Títulos como treinador
    Copa Paulista-2009, Série A-3 em 2009 (Votoraty) e Copa Paulista-2010 (Paulista)

    Editoria de Arte/Folhapress
    Audax x Santos
    Edição impressa
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