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    Leandrinho promove na NBA remédio para cavalos que o ajudou após lesão

    SCOTT CACCIOLA
    DO 'NEW YORK TIMES', EM OAKLAND, CALIFÓRNIA

    05/05/2016 17h00

    Shaun Livingston viajou ao Brasil no terceiro trimestre do ano passado para visitar Leandro Barbosa, seu colega de equipe no Golden State Warriors. Livinsgton foi para conhecer o país e visitar o amigo, mas também aproveitou a oportunidade para aprender mais sobre os segredos da durabilidade de Leandrinho nas quadras.

    Leandrinho provou ser um guia entusiástico, apresentando a Livingston métodos de treinamento que incluíam correr na areia e manobrar entre cones de trânsito. Mas em seguida Leandrinho mostrou ao amigo sua bebida favorita de recuperação, um líquido verde e viscoso que ele serviu de uma grande jarra, e disse ao amigo que aquilo sim era a coisa –o remédio para cavalos que servia como seu elixir especial.

    Livinsgton aceitou quase tudo que seu amigo lhe mostrou no Campo Barbosa de treinamento. Mas se recusou a beber a poção mágica de Leandrinho.

    "Não tentei tudo que ele propôs", disse Livinsgton. "Mas tentei muita coisa".

    Barbosa, 33, continua a ser produtivo como reserva do Warriors, que venceu o Portland Trail Blazers na noite de terça-feira (3) e está à frente por dois jogos a zero na semifinal da conferência oeste da NBA. Barbosa, um dos jogadores mais velhos do time, ainda gosta de ser chamado de "Brazilian Blur" [borrão brasileiro], o apelido que ele ganhou anos atrás como um dos armadores mais difíceis de marcar da NBA.

    Que Leandrinho tenha conseguido recuperar tanto de sua rapidez depois de passar por uma cirurgia de joelho três anos atrás continua a ser um mistério médico - mistério para todos exceto o jogador, que menciona sua vida saudável, trabalho duro e um extrato líquido verde feito das folhas de um arbusto sul-americano chamado arnica do mato.

    "Queima a garganta quando você bebe", disse Leandrinho, que marcou sete pontos nos 13 minutos em que esteve em quadra na vitória da noite de terça. "Você fica meio tonto se não está acostumado à bebida. Eu me acostumei".

    Leandrinho diz que recebe sua arnica diretamente do Brasil em forma de extrato. Ele a bebe pura, duas vezes por dia –de manhã e de noite. Não é especialmente delicioso, ele diz. Mas o extrato não é algo que fosse pretendido originalmente para consumo humano.

    "É um remédio que você dá a cavalos", disse Leandrinho. "Quando eles se machucam, a arnica os ajuda a recuperar rapidamente a forma. Porque eles precisam correr".

    A arnica do mato não é uma substância familiar no esporte –ou em qualquer outra área– dos Estados Unidos. Diversos especialistas em ciência das plantas disseram nunca ter ouvido falar dela. Leandrinho, porém, garante seu valor. Ele diz que não sofreu lesões graves desde que começou a consumir sua poção amazônica. E não acha que seja coincidência.

    "Toda minha família bebe arnica agora", disse Barbosa.

    Mas ele não conseguiu convencer seus colegas de equipe a entrar para a igreja da arnica do mato.

    "Tem gosto de ácido", disse Harisson Barnes.

    "Quase vomitei", disse Festus Ezeli.

    Leandrinho conta que procurou a equipe médica do Warriors na temporada passada a fim de obter permissão para continuar bebendo o extrato. O produto se tornou parte essencial daquilo que ele descreveu como um estilo de vida disciplinado. Ele dorme cedo, faz condicionamento muscular adicional depois dos treinos, leva o cachorro a passear.

    "Tento evitar problemas", disse Barbosa, que na temporada regular teve média de 6,4 pontos e 15,9 minutos por jogo.

    Vale notar que a arnica do mato, também conhecida como lychnophora ericoides, não é a mesma coisa que a arnica montana, planta que cresce nas regiões montanhesas da Europa, e é comumente vendida em drogarias como remédio homeopático para dores, machucados e inchações. As duas variedades são primas distantes.

    "As plantas são da mesma família e, o mais importante, contêm substâncias semelhantes, de modo que seus usos são comparáveis", disse Christophe Merville, diretor de educação e desenvolvimento farmacêutico na Boiron USA, uma empresa que fabrica uma linha de produtos de arnica montana.

    As substâncias semelhantes incluem flavonoides, um grupo de matabólitos de plantas que têm efeitos antioxidantes, e sesquipeterne lactones, um conjunto de compostos químicos conhecidos por suas propriedades anti-inflamatórias, de acordo com Merville.

    A arnica montana tipicamente é usada como gel tópico ou em forma de pílula e é quase sempre diluída. Alissa Gould, a gerente de relações públicas da Boiron USA, disse que os produtos de arnica montana da empresa são regulamentados pela Food and Drug Administration (FDA, a agência federal norte-americana que regulamenta e fiscaliza alimentos e remédios), para comercialização como medicamentos vendidos sem receita.

    E ao contrário da variedade equina do extrato usada por Barbosa, disse Gould, "nossos produtos não causam queimação ao serem ingeridos".

    Mas Leandrinho não podia ser mais efusivo (ou abrangente) em sua lista das supostas virtudes da arnica do mato.

    "Ela limpa todas as coisas ruins que você tiver em seu corpo", disse o jogador, movendo os braços em um amplo arco. "Tudo natural".

    Barbosa passou suas primeiras sete temporadas na NBA jogando pelo Phoenix Suns, cujo estilo acelerado de jogo era ideal para ele. Livingston recorda como era difícil tentar marcá-lo.

    "Eles corriam quadra acima e quadra abaixo, e era preciso atenção constante a ele", disse Livingston. "Porque senão ele sumia de vista. Onde esse cara foi parar? Mas os freios... ele não tinha freios. Decolava e era difícil parar. Mas era um jogador muito rápido".

    Leandrinho diz ter aprendido muito com Steve Nash, antigo colega de time no Suns e hoje consultor do Warriors –sobre a importância de comer legumes e verduras crus, proteínas magras e fazer muitos abdominais. Uma base forte é vital, especialmente por conta da maneira dinâmica pela qual ele se movimenta em quadra.

    "Ele sempre toma conta de seu corpo", disse Anderson Varejão, pivô reserva do Warriors, que conhece Leandrinho desde que os dois eram adolescentes, no Brasil. "Ele não se dá muita folga".

    Em fevereiro de 2013, quando defendia o Boston Celtics, Leandrinho rompeu o ligamento cruzado anterior de seu joelho esquerdo –uma lesão devastadora para um armador de 30 anos de idade que sempre havia dependido de sua aceleração rápida. Quando ele começou sua recuperação, Alex Evangelista, o personal trainer de Barbosa, recomendou que começasse a beber o extrato de arnica do mato.

    O raciocínio de Evangelista pareceu convincente para Leandrinho: se cavalos de corrida caríssimos bebiam arnica do mato até cansar, a substância só poderia fazer bem a ele. O jogador logo se tornou adepto, e compra grandes quantidades do extrato, para beber e até para tomar banho nele.

    "Sempre que eu tomava um banho gelado, Alex colocava um pouco de extrato na banheira para ajudar a cura", diz Leandrinho.

    Evangelista, que trabalha para um time profissional de futebol no Brasil, visitou Barbosa por dois dias na semana passada. No vestiário do time da casa, depois que o Warriors derrotou o Houston Rockets para fechar com vitória a primeira rodada de playoffs. Barbosa lembrou a Evangelista de que precisava de um novo lote do extrato. Suas reservas estão baixas.

    "Não se encontra o extrato aqui nos Estados Unidos", disse Leandrinho.

    Ezeli, pivô reserva do Warriors, disse que o que quer que Leandrinho esteja fazendo parece estar funcionando, porque ele continua a jogar bem. Como Barbosa, Ezeli enfrentou lesões nas pernas. Depois de uma cirurgia no joelho, ele buscou o conselho e estímulo do brasileiro. Mas Ezeli tem seus limites. Não conseguia engolir a beberagem brasileira.

    "É uma daquelas coisas que preciso saber cientificamente que funciona para continuar fazendo", ele disse. "Porque é repulsiva".

    Mas e quanto à promoção entusiástica de Barbosa sobre o extrato?

    "Eu acredito", disse Ezeli. "Mas em lugar disso você pode só comer frutas e verduras".

    O Dr. James Gladstone, codiretor de medicina esportiva na Escola Icahn de Medicina, no Hospital Mount Sinai, disse que não conhecia a arnica do mato.

    "Os atletas sempre estão em busca de algo que lhes dê vantagem –na recuperação, no alívio da fadiga muscular, em qualquer coisa", disse Gladstone, que estava falando em termos gerais e não estava informado sobre o apreço de Barbosa por extratos vegetais. "Desde que eles tenham certeza de que não se trata de substância que melhore ilegalmente o desempenho, por que não tentar?"

    Varejão disse que a arnica do mato era popular no Brasil como remédio caseiro. Ele explicou que pessoas de sua família deixavam as folhas da planta se dissolver em álcool, para extrair seus fatores curativos, e depois usavam a mistura para embeber ataduras.

    "Você coloca a atadura no local que está incomodando, e faz bem", disse Varejão.

    Em outras palavras, ele endossa o uso da arnica do mato como linimento.

    Mas e quanto ao hábito de Leandrinho de beber a mistura?

    "Oh", Varejão respondeu. "Isso eu não faço".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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