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    Havelange completa 100º aniversário no ostracismo

    SÉRGIO RANGEL
    DE DO RIO

    08/05/2016 02h00

    Ele visitou 186 países, atravessou de carro a fronteira entre as duas Alemanhas na era da Guerra Fria e comandou a Fifa por mais de duas décadas (1974-98) durante a transformação do futebol em uma indústria bilionária.

    Nos últimos anos, não escondia de ninguém que pretendia comemorar o seu centenário na tribuna do Maracanã assistindo à abertura da Olimpíada. Mas seu desejo não irá virar realidade.

    Maior cartola da história do esporte brasileiro, João Havelange completa 100 anos neste domingo (8) bem longe dos holofotes, preferindo o isolamento. Sem aceitar convites para eventos públicos, ele passará o dia com familiares no seu apartamento em Ipanema, zona sul do Rio.

    "Ele não quer contato com ninguém. O mundo deu voltas. O doutor João quer ser esquecido", afirmou Irene Lima, secretária particular do dirigente há 56 anos.

    Com problemas de locomoção, o carioca filho de belgas passa os dias em casa, realiza sessões de fisioterapia e evita encontrar amigos.

    Desde 2011, Havelange optou por se afastar da vida pública após autoridades começarem a revelar oficialmente sua relação com o escândalo da ISL, antiga empresa de marketing da Fifa acusada de repassar propinas a cartolas.

    Na época, o ex-atleta de polo aquático (disputou os Jogos de 1936 e 1952) renunciou ao cargo de integrante do COI (Comitê Olímpico Internacional) temendo ser banido. A entidade queria analisar um relatório elaborado pelo Comitê de Ética sobre o caso ISL.

    Por consequência, deixou de ser membro do conselho executivo do Comitê Organizador da Rio-2016. Ainda é membro nato do COB (Comitê Olímpico do Brasil).

    Linha do Tempo João Havelange

    PRESTÍGIO EM QUEDA

    A partir daí, o prestígio do cartola despencou. No ano seguinte, a Justiça da Suíça concluiu que o assunto era de interesse público e revelou que ele e Ricardo Teixeira, seu ex-genro e então presidente da CBF, receberam propinas milionárias em vendas de direitos de mídia de torneios da Fifa –cerca de R$ 45 milhões.

    Em 2013, Havelange renunciou à presidência de honra da Fifa. Dias depois, relatório assinado por Hans-Joachim Eckert, presidente da câmara de adjudicação do Comitê de Ética da entidade, classificou de "reprovável" a conduta do cartola no caso ISL e disse que o dinheiro teria que ser devolvido aos cofres da entidade, o que não ocorreu.

    Após deixar COI e Fifa, o cartola praticamente desapareceu. Começou a enfrentar problemas de saúde, parou de nadar diariamente e passou a conviver com críticas.

    Em 2015, o Botafogo passou a chamar de Nilton Santos o estádio olímpico erguido para o Pan de 2007 que levava o nome do dirigente. Dona do espaço, a prefeitura aceitou, embora tenha mantido o decreto que nomeava o local.

    O nome do cartola na arena também é omitido pelos organizadores dos Jogos do Rio. No site do evento, eles chamam o Engenhão apenas de Estádio Olímpico.

    "João Havelange é um brasileiro que perdeu uma grande oportunidade de elevar positivamente o nome do Brasil. Isso porque o alcance que ele teve no mundo esportivo, infelizmente, foi usado apenas para corrupção e enriquecimento ilícito", disse o ex-jogador e senador Romário (PSB-RJ).

    "Seu sucesso foi anulado pelo vergonhoso esquema criminoso que montou dentro da Fifa e da CBF. Cem anos de vergonha, que não serão esquecidos", completou.

    O presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), não se pronunciaram sobre o dirigente. O COI se recusou a comentar o legado de Havelange. A Fifa disse que publicaria nota neste domingo sobre o centenário do cartola.

    Ex-jogador suíço e assessor de Havelange nos seus anos na Fifa, Walter Gagg disse que virá ao Brasil para representar a entidade no aniversário do cartola.

    MISSA

    Apesar da popularidade em baixa, Havelange será homenageado nesta segunda (9), quando familiares e amigos vão se reunir numa missa no Rio. O dirigente, porém, não confirmou presença.

    "Todos que tiveram e têm o prazer e a honra de conviver com João Havelange são unânimes em reconhecer suas notáveis qualidades, que fazem dele uma personalidade excepcional, um ser humano superior", disse o diretor jurídico da CBF, Carlos Eugênio Lopes, um dos organizadores da missa.

    "Sua liderança e influência foram relevantes e tornaram-se instrumentos na construção do estágio atual do futebol mundial", disse.

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