• Esporte

    Sunday, 05-May-2024 08:39:58 -03

    Risco de despejo e salários atrasados viram rotina para jogadores da Lusa

    LUIZ COSENZO
    DE SÃO PAULO

    23/05/2016 06h08 - Atualizado às 18h16

    Salário e direitos de imagem atrasados, jogadores sob o risco de serem despejados de apartamentos, falta de convênio médico e até de medicamentos para os atletas. Esse é o cenário da Portuguesa, que estreou na Série C do Campeonato Brasileiro nesta segunda-feira (23), com derrota por 2 a 1 para o Macaé, no Canindé.

    É o pior momento que o clube atravessa em seus quase 96 anos. O ponto que acelerou a queda acentuada começou em 2013 após a equipe ser punida com a perda de quatro pontos pela escalação irregular do meia Héverton na última rodada do Nacional e ser rebaixada para a Série B.

    Em 2014 e 2015 novos rebaixamentos para a Série C do Brasileiro e para a A2 do Campeonato Paulista, respectivamente. Nesta temporada, salvou de novo descenso no Estadual na última rodada.

    A situação de penúria é relatada pelos próprios jogadores, que preferem não se identificar temendo represálias. Na última semana, o zagueiro Luan Peres, 21, acionou o clube na Justiça cobrando salários atrasados, direitos de imagem, 13º e fundo de garantia para conseguir sua liberação. Outros podem tomar o mesmo caminho.

    Titular na Copa do Brasil e no Campeonato Paulista, o goleiro Luís Carlos não quis renovar o seu contrato e deixou o clube após o jogo contra o Vitória, realizado na quinta-feira (19).

    "Tenho minhas contas para pagar e não posso só jogar por amor ao clube. A situação na Portuguesa está crítica. A equipe nem questionou minha saída na Justiça segundo o meu advogado", disse Luan, revelado nas categorias de base da Lusa.

    O clube também não efetua o pagamento do auxílio moradia, que consta no contrato de alguns jogadores, no valor de aproximadamente R$ 1.500. Sem o dinheiro, os atletas foram notificados pelos proprietários dos imóveis e correram risco de serem despejados.

    "A solução foi pedir para as esposas irem embora e mudar para o alojamento", contou um jogador, que pediu para não ser identificado. O zagueiro Rafael Zuchi e o lateral Digão, que também deixaram o clube recentemente, estavam morando no CT após saírem dos locais onde moravam.

    O volante Boquita, ex-Corinthians, optou por morar com a mãe e o irmão.

    A Folha ainda apurou que dois jogadores do elenco pagaram do próprio bolso uma cirurgia de hérnia.

    Quem também tira dinheiro do próprio bolso e corre até atrás de receita para o clube é o treinador Anderson Beraldo, 36, ex- zagueiro de Cruzeiro, São Paulo, Benfica, Lyon e Corinthians, onde foi revelado e obteve o título do Mundial de Clubes de 2000.

    "Quando posso, ajudo na parte financeira. Conseguimos viabilizar algumas coisas no jogo contra o Parnahyba-PI [primeira fase da Copa do Brasil] para pagar uma premiação porque a equipe merecia. Fizemos agora no jogo contra o Vitória [partida de ida da segunda fase da Copa do Brasil] mesmo com o empate. Corremos atrás e ainda bem que tenho muitos amigos que ajudam. O que eu puder fazer pelos atletas eu faço. Sei muito bem o que passa na cabeça dos jogadores, sei como é o vestiário", disse Anderson, que chegou a emprestar dinheiro para jogador fazer exame de ressonância e colocar combustível para ir treinar.

    Ele é o terceiro treinador da Portuguesa no ano. Antes, o clube foi comandado pelo pentacampeão Ricardinho e por Estevam Soares.

    PRESIDENTE CONFIRMA PROBLEMAS FINANCEIROS

    Se a mudança de treinadores é algo rotineiro no futebol brasileiro, a troca de presidentes não. Na Portuguesa, porém, a situação é diferente. Em 2016, o clube já teve três mandatários: Jorge Manuel Marques, que ficou um ano no cargo e renunciou em março, Leandro Teixeira Duarte, neto de Oswaldo Teixeira Duarte, histórico presidente da Lusa e que dá nome oficial ao estádio do Canindé, que assumiu interinamente, e José Luiz Ferreira de Almeida, que completa 24 dias no cargo nesta segunda-feira.

    "Estamos tomando providência para quitar os atrasados deste ano. A Portuguesa deve aos jogadores um mês de salário e dois de direitos de imagem. Meus objetivos são quitar as pendências mais recentes e manter a folha de pagamento em dia", disse José Luiz, 60, alertando que a situação do clube é caótica.

    "A situação da Portuguesa é de terra arrasada. Já passamos do fundo do poço. Se não sairmos dessa situação, a Portuguesa vai acabar".

    O dirigente afirmou que a Portuguesa deverá passar por uma reformulação no elenco nas duas próximas semanas. A ideia é contratar oito jogadores e dispensar outros que estão no grupo.

    "Estamos conversando com vários clubes e queremos contratar jogadores a custo zero. Queremos trazer jogadores que estão esquecidos ou que estão encostados em seus clubes. Vamos usar a imagem de visibilidade da Portuguesa para contratar", explicou.

    O primeiro a chegar foi o goleiro Raphael Alemão, que pertence ao Palmeiras.

    De acordo com José Luiz, o time do Canindé vai trabalhar com uma folha mensal de R$ 180 mil na Série C do Brasileiro.

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024