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    Corrupção no futebol

    Entre sul-americanos, só Del Nero mantém poder um ano após Fifagate

    MARCEL RIZZO
    DO PAINEL FC
    SÉRGIO RANGEL
    DO RIO

    27/05/2016 02h00

    Há exatamente um ano, a cúpula do futebol mundial sofreu um abalo jamais visto, com as prisões de seis cartolas durante o Congresso da Fifa, em Zurique, na Suíça.

    A operação do FBI que surpreendeu o mundo tinha como base principal a acusação de que o mercado financeiro norte-americano havia sido usado para a movimentação de dinheiro recebido de propina pelos dirigentes esportivos das Américas do Sul, do Norte e Central para venda de direitos de competições a empresas de marketing.

    Entre os presos, estava o brasileiro José Maria Marin, que deixara para Marco Polo Del Nero a presidência da CBF pouco mais de um mês antes. Hoje, Marin está em prisão domiciliar em Nova York.

    A revelação do maior escândalo de corrupção do futebol mudou o retrato da cartolagem na América do Sul.

    Entre todos os dirigentes do subcontinente denunciados pela Justiça dos EUA por receber propinas para vender direitos de competições como a Copa América, apenas o brasileiro Marco Polo Del Nero, presidente da CBF, mantém o cargo que ocupava em 27 de maio de 2015.

    Além de preservar seu poder no esporte, não foi penalizado pela Justiça.

    Editoria de Arte/Folhapress
    terremoto no futebol
    Terremoto no futebol

    Dos outros cinco presidentes das confederações sul-americanas que estavam no cargo em maio de 2015 e que foram denunciados pelos EUA, três estão presos e dois se declararam culpados, fizeram acordo e acertaram pagamento de multas.

    José Roberto Batochio, advogado do dirigente, afirma que Del Nero é inocente.

    O presidente da CBF chegou a se licenciar duas vezes do cargo para se defender das acusações. Ao todo, ficou pouco mais de quatro meses afastado oficialmente, mas, na prática, coordenando as ações na entidade.

    Orientado por seus advogados, ele evita deixar o país e não vai, por exemplo, aos EUA em junho ver a seleção na Copa América —corre o risco de ser preso fora do país.

    Dos cartolas sul-americanos presos, alguns estão em prisão domiciliar nos EUA, como o brasileiro José Maria Marin, antecessor de Del Nero no comando da CBF.

    Mas outros foram detidos em seus países. Na Bolívia, por exemplo, o ex-presidente da federação local Carlos Chávez está na cadeia.

    No Brasil, a Procuradoria-Geral da República (PGR) deu parecer favorável, em abril de 2016, a colaboração na investigação entre Brasil e EUA. A pedido da Justiça norte-americana, bens de empresas acusadas de participar do esquema de pagamento de propinas, como a Klefer, de marketing esportivo, foram bloqueados pela Justiça Federal.

    A investigação da PGR corre sob sigilo.

    Del Nero também é investigado pelo Comitê de Ética da Fifa por corrupção. Ele já apresentou a defesa, mas, por ora, não há novidades.

    A ESTRUTURA DO COMANDO NO BRASIL

    A mudanças nos bastidores do futebol internacional tampouco afetou, de modo substancial, a estrutura do comando do esporte no Brasil.

    "O que posso dizer nesta data é que o esquema de corrupção da CBF também se mantém pela corrupção da política. Infelizmente, não temos muito o que comemorar", afirmou o senador Romário (PSB-RJ), que preside a CPI do Futebol.

    Responsável pela abertura da comissão, o ex-jogador da seleção teve o seu trabalho comprometido pela bancada da bola, que foi contrária a convocação de Teixeira e Del Nero para depor. Os senadores também não aprovaram o pedido para investigar os contratos da CBF com seus patrocinadores.

    Relator da CPI, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) apresentou neste mês um documento final com 400 páginas, "propositivo", sem que seja pedida a punição dos investigados.

    No próximo mês, Romário vai apresentar o seu relatório. Ele deve acusar Del Nero, Marin e Teixeira por corrupção.

    Apesar das denúncias no exterior e no país, a própria CBF não abriu nenhuma investigação.

    Diretor de Ética e Transparência da entidade, o deputado federal Marcelo Aro (PHS-MG), não se pronunciou sobre o trabalho do FBI ou da própria CPI.

    EFEITO DOMINÓ

    A queda da cartolagem se deu em efeito dominó, e não só na América do Sul.

    Três dos últimos quatro presidentes da Conmebol estão presos: os paraguaios Nicolás Leoz e Juan Ángel Napout e o uruguaio Eugenio Figueredo.

    Na Fifa, Joseph Blatter, reeleito à presidência naquele maio de 2015, não suportou a pressão por ter comandado por anos uma instituição acusada de corrupção. Novas eleições foram convocadas para fevereiro de 2016.

    Blatter, porém, acabou suspenso antes, em outubro de 2015, acusado de pagamento ilícito de 2 milhões de francos suíços (R$ 10 milhões) a Michel Platini, que comandava o futebol na Europa.

    Platini, também suspenso, era o favorito a suceder Blatter na Fifa, que desde fevereiro tem como novo presidente o suíço Gianni Infantino, por anos braço-direito de Platini na Uefa.

    OUTRO LADO

    "Marco Polo não fez nada [de ilegal]", afirma seu advogado, José Roberto Batochio.

    De acordo com Batochio, apenas um apartamento no Rio comprado pelo cartola de um empresário que é parceiro comercial da CBF, como revelado pela Folha, foi alvo de uma investigação.

    O caso, contudo, foi arquivado pela Justiça Federal de São Paulo, em março deste ano. "Fizemos até um levantamento de preços para a defesa, mas não foi necessário. Foi arquivado antes", disse o advogado. O pedido de investigação foi feito por iniciativa do senador Romário (PSB-RJ), presidente da CPI que investiga supostos desvios na CBF.

    Já a CBF afirmou, em nota, que "vem trabalhando de forma incessante para a modernização de sua gestão, obedecendo os princípios de transparência, ética e participação".

    O texto cita que a entidade "conta com a consultoria da Ernst & Young na implementação dos mais avançados conceitos em governança, riscos e conformidades (GRC)".

    Na nota, a entidade diz investir R$ 335 milhões (75% de sua despesa) no futebol brasileiro. "É uma convicção que esse investimento deva ser cada vez maior, com foco na Copa do Mundo de 2018 e na organização de torneios mais rentáveis e atraentes aos clubes e torcedores", diz a confederação.

    A CBF afirma ainda que criou um comitê de reformas e que, "após ampla discussão e centenas de contribuições, brevemente estarão concluídas a atualização do Estatuto e a implantação do Código de Ética do Futebol Brasileiro".

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