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    Muhammad Ali

    Ali se tornou a voz da discordância, diz autor da biografia do boxeador

    RAUL JUSTE LORES
    DE SÃO PAULO

    05/06/2016 02h00

    Divulgação
    Capa do livro Muhammad Ali: His life and times" [sua vida e sua época], lançada em 1991.
    Capa do livro Muhammad Ali: His life and times" [sua vida e sua época], lançada em 1991.

    A militância política de Muhammad Ali fez o atleta "sair das páginas esportivas e ir para as primeiras páginas de todos os jornais", relata o jornalista Thomas Hauser, 70, autor da mais completa biografia autorizada do boxeador, "Muhammad Ali: His life and times" [sua vida e sua época], lançada em 1991.

    Historiador do boxe, também autor do livro "Missing", que deu origem ao filme homônimo de Costa Gavras, ele conversou com a Folha no final de 2014 sobre o ativismo e as polêmicas do atleta fora dos ringues.

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    Folha - Muhammad Ali costumava traçar um paralelo entre a luta contra a guerra com o movimento pelos direitos civis de Martin Luther King. O sr. poderia explicar melhor?
    Thomas Hauser - Seu crescimento no Kentucky, ainda nos anos da segregação racial, o informou muito dessas injustiças. Criança, ele não pôde beber água em uma lojinha em Louisville, onde nasceu, por causa da cor de sua pele. A mãe lhe disse que o levaria para outro lugar, mas não adiantou. Ele ficou chorando muito por ter sido recusado ali.

    Mas os anos 60 foram turbulentos e ele se tornou a voz da discordância. O impacto dele era enorme com quem tinha algo "contra o sistema". Seu discurso de orgulho negro estava na vanguarda.

    Ele declarou no final dos anos 60 que "pessoas estão morrendo no Vietnã por nada" e se recusou a se alistar nas Forças Armadas, dizendo que "não participaria em guerras cristãs". Como era sua visão política de mundo?
    Ali não era muito informado em assuntos geopolíticos. Mas ele tinha um senso muito forte de certo e errado. Ele dizia que "a menos que você tenha uma razão de sobrevivência para matar, fazer guerra é errado".

    Sua decisão de não se alistar nas Forças Armadas americanas foi baseada em suas crenças religiosas então. Nem tudo que ele pregava era inteligente –como ter se relacionado com ditadores como Mobutu, no Congo, e Ferdinando Marcos, nas Filipinas, e ele rejeitou depois várias crenças e declarações dessa época. Aos poucos, as pessoas foram se esquecendo dos lados mais ásperos de sua personalidade, que o faziam um homem mais interessante, e só lembram dele sem as contradições. Mas o que ele fez de certo supera, em muito, seus erros.

    Veja o vídeo

    Atletas e artistas que hoje se manifestam contra guerras são muito atacados nos país como não sendo patriotas. Como foi a reação a ele?
    Ali pagou um preço. Foi condenado por não se alistar em 1967, sentenciado a cinco anos de prisão. Mas quatro anos depois, sua condenação foi derrubada unanimemente pela Corte Suprema. No meio tempo, ele perdeu seu título de campeão mundial e foi proibido de competir por três anos e meio. Mas temos que lembrar que nos anos 60, não faltavam debates e polêmicas, e Ali estava no vortex de muitas delas. Ele passou rapidamente das páginas esportivas dos jornais para as capas, falando de qualquer assunto.

    Ele tentava influenciar outros atletas?
    Ali foi o mais importante atleta de elite a tomar uma atitude significativa contra a guerra no Vietnã. Ele não tentou recrutar outros atletas para a causa. Ali deu numerosas entrevistas e falou em um muitos eventos públicos sobre suas crenças políticas. O que o preocupava mais era a dignidade e o tratamento justo para mulheres e homens negros. Sua negativa em se alistar nas Forças Armadas era um reflexo disso.

    Ele se via como um líder religioso?
    Ali não era um líder da Nação do Islã, mas foi um símbolo importante e uma voz. Ele dizia "não sou líder, apenas um humilde seguidor".

    *

    RAIO X
    Thomas Hauser

    NASCIMENTO:
    27.fev.1946 (70 anos), em Nova York

    PROFISSÃO:
    Jornalista, biógrafo e historiador de boxe

    LIVROS DE DESTAQUE
    Muhammad Ali: His Life and Times (1992)
    The Execution of Charles Horman: An American Sacrifice (1978)

    Edição impressa
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