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    Muhammad Ali

    Boxe pode ter causado a doença de Parkinson em Ali, diz neurologista

    CLÁUDIA COLLUCCI
    DE SÃO PAULO

    05/06/2016 02h00

    Muhammad Ali não tinha completado 40 anos quando começou a apresentar sinais da doença de Parkinson. Apresentava tremores nas mãos, a voz passou a ficar arrastada e os movimentos corporais, mais lentos.

    O diagnóstico da doença veio um pouco depois, em 1984, aos 42 anos. A precocidade logo despertou suspeitas de que os repetidos golpes na cabeça pudessem ter causado o mal, cuja prevalência é maior acima de 60 anos.

    Mas até hoje essa relação entre o boxe e o Parkinson gera controvérsias e não existe uma prova definitiva de que o impacto repetitivo de socos na cabeça cause o mal.

    A doença é resultante da degeneração de células cerebrais que produzem a dopamina, um neurotransmissor que, entre outras funções, controla os movimentos. A causa desse desgaste é desconhecida. Fala-se em fatores genéticos e ambientais (agrotóxicos, por exemplo).

    Porém, existem alguns estudos mostrando que doenças degenerativas são mais recorrentes e mais precoces entre lutadores. Um desses trabalhos, realizado em 2008 pela Universidade de Heidelberg (Alemanha), escaneou cérebros de 42 boxeadores e de 37 não-boxeadores.

    Veja o vídeo

    Foram encontradas "micro-hemorragias" nos cérebros de três dos pugilistas –provavelmente resultado do forte impacto dos golpes nos ringues, que danificaram o tecido cerebral. Para os autores, essas alterações são prováveis precursoras de danos cerebrais mais graves, como a doença de Parkinson.

    Em livro sobre o impacto dos golpes no boxe, o neurologista francês Jean-François Chermann é categórico em afirmar que, no caso de Muhammad Ali, há uma conexão direta entre as lesões e a doença de Parkinson.

    Segundo Chermann, no final das suas sessões de treinamento, Ali "baixava a guarda e pedia ao seu parceiro de luta que lhe golpeasse na cabeça, para mostrar que ele era o mais forte".

    No mundo do boxe, a atitude é tida como irresponsável e, por isso, seu caso não poderia ser tomado como exemplo típico da relação entre o boxe e a doença.

    Embora hoje existam remédios capazes de aliviar os sintomas, o Parkinson progride de forma imprevisível e leva a outros problemas, como dificuldade de locomoção e equilíbrio e rigidez muscular.

    Por três décadas, Ali travou uma batalha pública contra a doença, o que deu visibilidade internacional a esse mal neurológico ainda incurável.

    Usou sua fama para conseguir recursos e ajudar nas pesquisas sobre a doença e chegou a fazer tratamento com células-tronco.

    Em 1996, foi homenageado e acendeu a pira dos Jogos Olímpicos de Atlanta. O braço esquerdo e o corpo tremiam. Sua obstinação comoveu o mundo.

    Há dois meses, Ali participou de um jantar de gala para arrecadar fundos à causa do Parkinson. Usava óculos escuros, o corpo estava curvado na cadeira de rodas. Não disse uma palavra. Mas foi ovacionado pela plateia.

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