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    Arenas da Copa do Mundo se revelam 'elefantes brancos'

    ADRIANO MANEO
    EDUARDO RODRIGUES
    LUIZ COSENZO
    DE SÃO PAULO

    12/06/2016 02h00

    Passados exatamente dois anos da abertura da Copa do Mundo, as sedes do evento sofrem com falta de público.

    Se havia dúvida sobre a criação de "elefantes brancos", o levantamento realizado pela Folha mostra que, sim, eles existem. E o peso deles cai, como se previa, sobre os ombros do poder público.

    Dos 12 estádios que receberam partidas no Mundial, apenas a Arena Corinthians, em São Paulo, registra taxa de ocupação superior a 50%.

    No outro extremo, o negativo, o Mané Garrincha, em Brasília, e a Arena Pantanal, em Cuiabá, se destacam. O primeiro tem apenas 20% de ocupação, em média, e o segundo, 13%.

    Para efeito de comparação, os estádios das principais ligas europeias, como a inglesa e a espanhola, superam a taxa de 70%. A alemã vai além dos 90%.

    Esses percentuais europeus significam, de modo geral, futebol rentável.

    O fracasso da obra de Brasília se explica muito por conta da grandiosidade da reforma. Com 72 mil lugares, o estádio, o mais caro da Copa (mais de R$ 1,4 bilhão), foi erguido como plano B caso o Itaquerão não fosse entregue a tempo da abertura.

    A Fifa exige que na abertura, semifinal e final os estádios tenham ao menos 60 mil assentos. Como o Mané Garrincha não diminuiu sua capacidade após o Mundial, vive um drama atualmente.

    "É inegável que o estádio é grande. Fomos críticos na época da construção [gestão Agnelo Queiroz, do PT]. Acho que capacidade para 45 mil pessoas estava de bom tamanho", afirmou o secretário de Turismo do Distrito Federal, Jaime Recena (PSB-DF).

    Segundo ele, a arena, que está nas mãos do governo e tem custo mensal de manutenção de R$ 700 mil, tem registrado prejuízo.

    A reportagem não conseguiu falar com representantes do governo anterior.

    Arte

    NA LANTERNA

    Situada no Mato Grosso, Estado com pouca expressão no futebol nacional, a Arena Pantanal tem apenas 13% de ocupação, ocupando a posição de lanterna do ranking.

    Além disso, recebeu só 47 partidas ao longo de dois anos, o que resulta em um jogo a cada 15 dias.

    "Precisamos agora captar eventos", disse o tenente-coronel da Defesa Civil do Estado, Abadio Cunha, que administrou a arena entre julho de 2015 e março deste ano.

    Para que fosse mais bem aproveitado, o estádio de Cuiabá passou a abrigar órgãos públicos desde o fim da Copa, como o Gabinete de Assuntos Estratégicos.

    Em Manaus, a taxa de ocupação da Arena Amazônia é maior (31%). Porém, recebeu só 18 jogos desde o fim da Copa, média de um jogo a cada dois meses.

    O estádio também é administrado pelo governo estadual. "Se não buscarmos atividades para a arena, ela fica subutilizada", afirmou o secretário de esportes do Amazonas, Fabrício Lima.

    "Nosso futebol não é tão forte, mas, se Deus quiser, vai ficar, com um trabalho que começa na base", completou.

    A Arena da Amazônia tem recebido jogos do futebol de base do Estado sem custo.

    O GOVERNO SALVA

    O Mineirão atrai público razoável, dado seu tamanho. Com capacidade para 62 mil pessoas, tem média de 27 mil torcedores por jogo, o que representa 44% de ocupação.

    É o segundo dos que sediaram a Copa com maior percentual –só atrás do Itaquerão, que chega a quase 68%.

    "Os gestores das arenas já entenderam que elas vão ter que se adaptar. A própria economia brasileira não é pujante como antes", disse Samuel Lloyd, diretor comercial da Minas Arena, consórcio que administra o estádio.

    A média do estádio nos dois anos posteriores à Copa do Mundo foi a maior desde 2003, quando passou a ser obrigatória a divulgação dos borderôs no site da CBF.

    Lloyd, que trabalhou no projeto de legado dos Jogos Olímpicos de Londres, realizados em 2012, afirma que nem sempre é possível obter lucro na operação.

    "Se a gente pergunta: o que entra de receita de exploração comercial é capaz de pagar as contas do mês? Não. Estamos longe disso. Isso nós chamamos de margem operacional e no momento ela é negativa", completou Lloyd.

    No entanto, o arena mineira tem uma parceria público-privada com o governo do Estado. Assim, com o dinheiro público, as contas fecham. Mas, do ponto de vista operacional, há deficit.

    SHOWS E FEIRAS

    Se as partidas não dão conta de cobrir os gastos elevados dos estádios, o jeito é investir em eventos com outras características, como shows.

    Somadas, a Arena das Dunas (25% de taxa de ocupação), em Natal, e a Fonte Nova (30%), em Salvador, já receberam mais de 170 eventos sem relação com o futebol, de feirão de automóveis a circos.

    Mesmo assim, a Fonte Nova não consegue fechar as contas.

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