Técnico do sub-20 do Atlético Sorocaba na derrota por 9 a 0 para o Santo André em 2005, partida que está entre as investigadas pela operação Game Over, da Polícia Civil, Julimar Francisco, 48, confirmou que ter sido procurado para que sua equipe fosse derrotada por um placar específico em troca de dinheiro. Ele diz que a procura foi feita por um empresário chamado Francisco Gonçalves, à época diretor das categorias de base do clube, que teria encomendado um resultado para o jogo anterior, contra o São Bento.

"Contra o São Bento, vieram me perguntar se não podia fazer o resultado. 'Não temos mais chances de classificar e não temos dinheiro para pagar seu salário nem o dos jogadores', foi o que me disseram. Eu disse que não fazia esse tipo de coisa e me responderam que então eu continuaria duro", explica Julimar à Folha.

Ele diz ter também certeza de que aconteceram irregularidades nas derrotas sofridas por goleada para Santo André e São Paulo.

Julimar Francisco

"Contra o Santo André, o que aconteceu foi uma tremenda palhaçada, coisa errada. O Sorocaba afastou todos os jogadores do sub-20, então entramos com o pessoal do sub-17. No primeiro tempo, eu percebi o que estava acontecendo, então no intervalo eu pedi para os árbitros para ser expulso, porque não queria participar daquilo. Eles disseram que não poderiam fazer isso, então eu os xinguei logo no começo do intervalo para ser expulso", completa.

	Reprodução
	Súmula da partida entre Sorocaba e Santo André

A súmula da partida informa que Julimar foi expulso após dizer ao árbitro Carlos Eduardo Gomes: "apita direito essa bosta, seu safado."

Julimar não denunciou o caso na época. Não treinou a equipe no jogo seguinte, pois estava suspenso. Depois, seu contrato encerrou e ele deixou o Atlético Sorocaba.

Relatório elaborado pelo procurador-geral do STJD, Paulo Schmitt, aponta os fatores que geraram as suspeitas em torno da partida.

"Relatório informal de inteligência produzido por empresa de monitoramento de sites de apostas [Indexxdata] apresenta graves indícios de fraudes referentes à partida disputada entre Atlético Sorocaba e Santo André, pelo Campeonato Paulista Sub-20. A partida terminou com o placar de 0-9 em favor do Santo André sendo que praticamente todos os gols foram marcados no segundo tempo do jogo. Movimentos estranhos foram verificados nos mercados de apostas e também o fato de o Atlético Sorocaba ter atuado com uma equipe com atletas em idade Sub-17 chamou a atenção", diz o documento.

Procurado pela reportagem, o vice-presidente de futebol do Atlético Sorocaba, Benedito Sampaio, diz que o time não tem relação com as tentativas de manipulação.

"O Atlético Sorocaba não tem nada a ver com essa história. Tínhamos uma parceria com um grupo, que conduzia a nossa categoria de base. O grupo aprovava ou desaprovava os jogadores em avaliação. Ficamos surpresos com o placar da época e com essa história [manipulação], com esses indícios. Queremos que a investigação prossiga e a pessoas responsáveis sejam punidas", disse.

Nesta quarta-feira (6), a Polícia Civil expediu dez mandados de prisão temporária para suspeitos de participarem de esquema internacional de manipulação de resultados. Sete suspeitos foram presos, enquanto três não foram encontrados, na operação denominada Game Over.

A operação acontece nas cidades paulistas de São José do Rio Preto, Bauru, Sorocaba, além da capital. Ocorre também em cidades do Rio, Rio Grande do Norte e Ceará.

CERCO FECHADO - Polícia prendeu sete pessoas envolvidas no esquema

"Estamos investigando a existência de uma quadrilha que atuava mais precisamente nos Estados de São Paulo e do Rio e que, junto de uma quadrilha ainda desconhecida da Malásia, da China e da Indonésia, aliciava jogadores, técnicos e presidentes de clubes das Séries A2 e A3 do Paulista para que os resultados favorecessem apostadores nas bolsas da Ásia", disse a delegada Kelly Cristina de Andrade, que não descartou que os grupos tenham influenciado campeonatos de maior importância.

A operação foi iniciada no começo de 2015, após pedido do Ministério Público de São Paulo, ainda está em andamento e o inquérito está sob segredo de Justiça.