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    Arena Corinthians, ao final, custará ao menos R$ 1,64 bilhão ao clube

    CAMILA MATTOSO
    DE SÃO PAULO

    09/07/2016 02h00

    O Corinthians terá desembolsado ao menos R$ 1,64 bilhão ao final do prazo para quitar a dívida assumida para a construção do seu estádio, em Itaquera.

    Essa é a previsão indicada em uma planilha da Odebrecht, construtora da arena, à qual a Folha teve acesso. Os pagamentos terminam daqui a 12 anos, em 2028.

    O valor projetado considera que o planejamento feito seja seguido à risca. Poderá ser maior com a inflação e mudança de taxas de juros.

    Se houver adiantamento no pagamento, o gasto final pode cair, mas essa opção é tratada como improvável por praticamente todas as pessoas envolvidas no projeto.

    Por outro lado, caso o clube atrase pagamentos mensais, que iniciaram em julho de 2015, o valor aumentará.

    A quantia de R$ 1,64 bilhão considera os juros de todos os empréstimos angariados para a realização das obras até hoje. A soma deles ao longo dos anos, segundo a planilha da Odebrecht, será de R$ 463 milhões.

    O estádio mais caro da Copa, o Mané Garrincha, em Brasília, teve preço estimado há dois meses em R$ 1,7 bilhão, segundo o Tribunal de Contas do Distrito Federal.

    Quando decidiu construir sua arena em Itaquera, o Corinthians pretendia que a obra fosse feita pela Odebrecht pelo valor de R$ 820 milhões (R$ 1 bilhão, em valor corrigido).

    Na época, Luiz Inácio Lula da Silva, então presidente, pediu ajuda à construtora para que o Corinthians construísse o seu estádio. "Quem fez o estádio fui eu e o Lula. Garanto que vai custar mais de R$ 1 bilhão. Ponto. A parte financeira ninguém mexeu. Só eu, o Lula e o Emílio Odebrecht [presidente do conselho de Administração da empresa]", afirmou Andres Sanchez, presidente do clube no período, à revista "Época", em 2011. Hoje, Andres é deputado federal pelo PT-SP.

    Os R$ 820 milhões, previstos inicialmente, seriam pagos com empréstimo do BNDES, de R$ 400 milhões, além dos incentivos fiscais da Prefeitura de São Paulo, os CIDs, no valor de R$ 420 milhões. Esses teriam que ser postos à venda no mercado.

    O BNDES seria pago com a venda dos naming rights, segundo previsão de Andrés Sanchez, ex-presidente do alvinegro e responsável pela gestão do estádio.

    No entanto, os dois recursos —o empréstimo do BNDES e a emissão de CIDs— demoraram a ser liberados. Enquanto isso, as obras já estavam em andamento às custas da construtora, que não conseguiu arcar o custo sozinha e teve de fazer empréstimos com o Banco do Brasil e o Santander, submetendo-se a juros do mercado.

    Essas primeiras dívidas ainda serviram para pagar a estrutura temporária da Copa do Mundo, ao custo de quase R$ 100 milhões.

    Outra mudança encareceu o estádio: um aditivo feito pela Odebrecht com o fundo (criado para administrar o estádio) e o Corinthians para aumentar em R$ 165 milhões o preço da obra.

    O motivo foram gastos extras, como retirada de um duto subterrâneo, impostos não previstos, entre outros.

    O custo foi elevado para cerca de R$ 1,2 bilhão por alguns fatores: o preço inicial do estádio mais o montante gasto com as instalações provisórias para o Mundial acrescido dos juros dos empréstimos tomados junto ao Banco do Brasil e Santander.

    Aquela estrutura original pensada para quitar a construção já não era mais suficiente. Os CIDs e o BNDES davam conta de dois quartos do total. Mas eles ainda não tinham sido liberados.

    Para evitar os juros correntes dos empréstimos do Banco do Brasil e do Santander, o fundo e o Corinthians foram em busca de ajudas avaliadas como menos impactantes.

    Eles optaram por emitir debêntures, títulos de crédito lançados para captar recursos. Foram feitas duas emissões, no valor de R$ 400 milhões, somadas, não pagas até hoje, com previsão de quitação em 2028.

    De acordo com a planilha, os juros somados das debêntures e do financiamento do BNDES resultam em cerca R$ 463 milhões, o que leva o estádio a custa R$ 1,64 bilhão.

    INADIMPLENTE

    O Corinthians paga atualmente parcelas de cerca de R$ 5 milhões ao mês para quitar o financiamento que fez com o BNDES.

    Neste momento, está inadimplente, com a permissão da Caixa, que repassa o dinheiro, pois estão em negociações para a extensão do prazo de pagamento.

    Há no contrato ainda uma previsão de "aceleração" do pagamento, que prevê parcelas maiores uma vez por ano nos próximos 12 anos para diminuir a incidência de juros e como para mostrar ao BNDES que há caixa para honrar os compromissos.

    OUTRO LADO

    Procurada pela reportagem, a construtora Odebrecht disse que não comentaria o valor alcançado pelo estádio.

    O Corinthians, por sua vez, afirmou que responderia, mas não se manifestou até o fechamento desta edição.

    A Caixa Econômica Federal afirmou que as operações da Arena Corinthians "são protegidas por sigilo bancário, conforme prevê a Lei Complementar nº 105/2001, motivo pelo qual não irá se manifestar".

    Por e-mail, o BNDES também não comentou as afirmações da reportagem.

    Em conversa com a Folha, alguns dirigentes do clube paulista, que não quiseram dar entrevista, afirmaram não saber exatamente a previsão do custo total da construção do estádio, mas disseram que o valor de R$ 1,64 bilhão é factível com os juros envolvidos em todas as operações.

    Do final das obras à inauguração, o ex-presidente do Corinthians Andrés Sanchez disse algumas vezes que seria possível pagar a construção da arena até de forma antecipada, em sete anos, e não nos 12 que são previstos por contrato.

    Hoje, no entanto, considerando também o cenário de crise econômica, essa possibilidade é tratada como improvável.

    A reportagem também tentou falar com o dirigente e deputado federal (PT-SP), mas ele não respondeu a nenhuma mensagem, nem atendeu às ligações.

    A diretoria do time, ao lado do fundo que administra o estádio, tem trabalhado "pesado", como dizem os dirigentes, para reduzir as despesas de manutenção e de dias de jogos. Alguns cortes já foram realizados, em áreas como energia.

    *

    GLOSSÁRIO

    Debêntures: é um título que garante ao comprador uma renda fixa. O portador de uma debênture é um credor da empresa que a emitiu, em busca de recursos;

    BNDES: Banco Nacional do Desenvolvimento;

    Naming rights: o direito comprado por uma empresa para colocar a sua marca como nome do estádio;

    CIDs: Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento emitidos pela prefeitura de São Paulo. São papeis que valem impostos, que são vendidos pelo Corinthians no mercado para empresas;

    Aceleração: está previsto no contrato de pagamento do BNDES que a Arena faça uma espécie de caixa para quitar uma parcela maior por ano, como forma de não gastar o dinheiro que vai arrecadando;

    Banco repassador: a Caixa Econômica Federal é quem recebe o dinheiro do BNDES e repassa para uma empresa que faz parte do fundo que administra o estádio.

    Editoria de Arte/Folhapress
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