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    Paulo André critica clubes e diz que vaidade atrapalhou Bom Senso FC

    CAMILA MATTOSO
    DE SÃO PAULO

    15/07/2016 02h00

    Reprodução/Instagram
    Futebol: o jogador Paulo André posta foto para campanha do Bom Senso F.C. #DemocracianaCBF Já, em protesto pedindo mais adesão de outros atletas. (Foto Reprodução/Instagram)) ***DIREITOS RESERVADOS. NÃO PUBLICAR SEM AUTORIZAÇÃO DO DETENTOR DOS DIREITOS AUTORAIS E DE IMAGEM***
    Paulo André postou foto pedindo democracia na CBF

    Criado há quase três anos, o Bom Senso FC chegou ao fim, tal qual conhecemos o movimento.

    Sua principal liderança, o zagueiro Paulo André, 32, atualmente no Atlético-PR, se desligou do grupo no início desta semana.

    Dois diretores, Ricardo Borges e Enrico Ambrogini, ficarão à frente do grupo, agora um centro de pesquisas, levando a marca que antes fora carregada por 73 atletas, quando da sua criação.

    À Folha, o atleta faz balanço do movimento, que ficou marcado pelas manifestações por melhores condições de trabalho para os jogadores.

    Para ele, a principal conquista foi a aprovação do Profut, lei sancionada para ajudar os clubes a quitar suas dívidas com a União, por meio de refinanciamento, mas com contrapartidas a serem cumpridas, como o pagamento em dia dos funcionários.

    Perguntado sobre o que achou de Tite, que havia pedido a renúncia do presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, em 2015, ter aceitado ser técnico da seleção em junho, Paulo André elogiou o técnico, mas não respondeu se ficou decepcionado com a decisão do técnico gaúcho.

    *

    Folha - O Bom Senso acabou?
    Paulo André - O Bom Senso passa por reformulação de equipe e liderança. Cumprimos nosso dever e alcançamos conquistas improváveis em ambiente extremamente desleal e desfavorável. Foi o maior movimento da história do futebol brasileiro. Depois de três anos, é hora de renovar.

    Como vai ser daqui pra frente?
    Boa parte dos atletas e ex-atletas que participaram do movimento continuarão trabalhando no futebol, cada um em sua função específica. Seguiremos por outros caminhos, mas não deixaremos de participar das principais discussões do esporte. Enquanto isso, o Bom Senso seguirá com novas lideranças, novas ideias, será um centro de pesquisa, de projetos e de articulação entre os entes do esporte.

    Qual foi a maior vitória?
    O Profut é, na prática, o maior legado do Bom Senso. Mas para nós, sem dúvida, são as manifestações em campo que ficarão na memória.

    Quais foram as dificuldades?
    Mobilizar novos e importantes atletas é, sem dúvida, o maior problema. O país não prepara jovens para pensar, e essa falta de liderança se reflete até mesmo na seleção. No último ano, também pesou a questão financeira. Muitos dizem apoiar, inclusive presidentes de clubes, mas quando se fala em financiar ou apoiar publicamente, não sobra um.

    Por que o grupo perdeu força?
    A estratégia de guerra dos velhos coronéis de evitar o diálogo e pressionar nos bastidores nos sufocou. Com a aposentadoria dos jogadores mais velhos, que costumavam dar a cara pelo movimento, não conseguimos renovar ou atrair outros principais jogadores do país. Lamento essa falta de interesse dos "nossos" ídolos.

    Qual foi sua maior decepção?
    O movimento só me deu orgulho. Foi um grande prazer participar dele e conviver com ídolos como Alex, Dida, Juan, Gilberto Silva, Fernando Prass, Lúcio Flávio, Paulo Autuori, a Universidade do Futebol e tantos outros. Esses caras são geniais e precisam estar nos cargos de decisão do futebol nos próximos anos.

    Você teria feito algo diferente?
    Teria parado o Campeonato Brasileiro de 2013 quando tivemos a chance.

    Acha que jogadores tiveram medo de se engajar mais?
    Se há um segmento que tentou mudar as coisas, foi o dos atletas. Medo tem os presidentes que, em geral, vivem pelo jogo de domingo. Medo tem os patrocinadores que, exceto os que saíram por causa dos escândalos, corroboram com o cenário atual, assim como a TV que paga mixaria e lucra fortunas. Uma única estatal patrocina 12 clubes, onde já se viu isso? O futebol nacional é tão desregulado e obscuro que afastou investimento de quase todas as outras grandes empresas.

    No que o Bom Senso falhou?
    Tentou reunir a comunidade do futebol, mas não conseguiu consenso entre os entes [refere-se aos diferentes setores do esporte, como dirigentes e atletas]. Alguns foram vaidosos; além de não contribuir, atrapalharam. Muitos acharam que atuávamos em causa própria, o que sempre rebatemos. A reformulação mostra ainda mais quão genuíno e grandioso foi o Bom Senso. Ninguém quer palanque, ninguém quer se beneficiar disso.

    Quem atrapalhou?
    Não vale a pena citar nomes, seria desgastar ainda mais as relações. O mundo dá voltas.

    Como você vê o futebol brasileiro hoje?
    O que há de ruim todo mundo já está careca de saber, não vale a pena citar. No aspecto econômico, nos últimos 4 anos a inflação foi maior que o aumento das receitas dos clubes, ou seja, não é que estejamos parados, estamos regredindo. Quem estuda o "negócio" futebol no Brasil sabe que ele vale pelo menos entre 2 e 3 vezes mais, mas precisa ser regulado, transparente e a figura jurídica dos clubes precisa mudar.

    Qual é o maior problema?
    O gap atual está nas gestões técnicas, ou seja, os presidentes dos clubes são "obrigados", por falta de opção e de conhecimento, a confiar seus investimentos a pessoas que talvez não tenham tanta capacidade assim. E quando a tem, não tem tanta autonomia por causa da paixão de seus dirigentes. É paradoxal.

    Você consegue destacar algum exemplo positivo?
    Vejo algumas boas práticas. A Federação Paulista em 2016 valorizou seu produto com boas iniciativas, alterou seu estatuto, aumentou em 125% o número mínimo de jogos da quarta divisão e tem demonstrado uma gestão profissional, assim como o Flamengo, que apesar de sofrer um pouco esportivamente num primeiro momento, faz o correto e coloca a casa em ordem. Bahia e Atlético-PR também são bons exemplos, apesar das realidades distintas.

    Pensa em se candidatar para algum cargo da CBF?
    Não. Preciso me capacitar nas áreas de gestão se um dia quiser chegar lá. Mas se você pensar que coronel Nunes, Marco Polo e Marin chegaram, qualquer Zé Mané poderia pleitear o cargo. A cláusula de barreira deveria evitar que esse tipo de gente chegasse lá, e não o contrário.

    Quem deveria ser o presidente da CBF?
    Gosto das visões de Leonardo e Alex, sei da participação do Zico, o Raí continua se capacitando no exterior. Torço para que eles se unam, criem um movimento transparente e entrem no jogo, mas para que isso aconteça, terão que encontrar e compor com 8 federações que estejam dispostas a caminhar no mesmo sentido. Elas existem? Acredito que sim. Essa é a grande questão para 2018.

    Aceitaria se a CBF te convidasse para um cargo?
    Não.

    Como você se vê no futuro? Fazendo o quê?
    Já são 19 anos como atleta de alto nível, uma vida regrada, assim como a de todos que são bem sucedidos em suas profissões. Sou jovem e não quero atropelar as coisas, preciso respirar um pouco de ar fresco antes de decidir o que fazer.

    O sindicato dos atletas atrapalhou alguma coisa?
    Não posso generalizar. Há pessoas competentes e pessoas incompetentes. Torço para que o novo presidente da Fenapaf tenha sucesso, é um cara sério e que já tem no currículo ter estirpado um câncer de lá.

    Você se decepcionou com Tite por ele ter aceitado o convite de Marco Polo Del Nero, após ter pedido sua renúncia?
    Tite é uma grande pessoa. Tenho orgulho de ter trabalhado com ele. Torcerei pelo seu sucesso.

    E com o Prass? (ele também pediu a renúncia de Del Nero)
    O Prass é um fenômeno. Chegar a seleção nessa idade não é para qualquer um. Só espero que ele traga o ouro para o Brasil.

    RAIO-X PAULO ANDRÉ

    NASCIMENTO
    20.ago.1983 (32 anos)

    ATUAL CLUBE
    Atlético-PR (emprestado pelo Cruzeiro)

    POSIÇÃO
    Zagueiro

    TÍTULOS
    Pelo Corinthians: Brasileiro de 2011, Libertadores de 2012, Paulista de 2013 e Recopa de 2013

    Reprodução/Facebook/Bom Senso F.C.
    Bom Senso F.C.Bom Senso FC se reúne e lamenta desinteresse da CBFO Bom Senso FC realizou uma nova reunião nesta segunda-feira. Os seguintes atletas representaram o movimento no encontro: Alessandro (Corinthians) Alex (Coritiba), Bruno (sem clube), Edu (sem clube), Fahel (Bahia), Edu Dracena (Santos), Fernando Prass (Palmeiras), Juan (Internacional), Júlio César (Corinthians), Lúcio Flávio (Paraná), Paulo André (Corinthians) e Paulo César (sem clube).Os jogadores lamentam o desinteresse da CBF sobre os seguintes pontos importantes que envolvem o futebol brasileiro: calendário para 2015, número de jogos dos clubes menores, datas FIFA concomitantes com jogos no país, causando prejuízo técnico nas competições, e Fair Play Financeiro.Bom Senso Futebol ClubePor um futebol melhorpara quem joga,para quem torce,para quem transmite,para quem patrocina.Por um futebol melhor para todos.
    Jogadores posam após reunião do movimento Bom Senso F.C. em novembro de 2013
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