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    Documentário fala da elitização do futebol nos estádios modernos

    RAPHAEL HERNANDES
    DE SÃO PAULO

    23/07/2016 12h00

    Iniciado como um projeto escolar, o documentário "Adeus, Geral" vai muito além das salas de aulas para tratar de um tema atual do futebol brasileiro: o fim dos setores populares nos estádios, a chamada "geral".

    A obra, produzida por cinco adolescentes entre 16 e 17 anos, ganhou popularidade nas redes sociais –o trailer na página oficial do filme tinha mais de 130 mil visualizações na última sexta (22)– e chegou às telas de cinema.

    Após a estreia no MIS (Museu da Imagem e do Som) – com sessão lotada– os adolescentes passaram a receber convites para exibir o documentário em outros lugares. Já aconteceram exibições no Museu do Futebol, no Espaço Itaú da Frei Caneca e até em um teatro em Amsterdã, na Holanda –administrado por um brasileiro.

    Neste sábado (23) o filme seria exibido em mais uma sessão, gratuita, no espaço da Frei Caneca.

    "Estava abarrotado. Eu me emocionei", disse à Folha o estudante Gustavo Altman, agora com 18 anos, um dos produtores do filme, sobre a estreia no MIS.

    No documentário, os adolescentes conversam com torcedores e especialistas sobre a elitização do futebol nos estádios modernos.

    Entre os entrevistados estão o técnico da seleção brasileira, Tite, o presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, e o colunista da Folha Juca Kfouri.

    "A elitização faz com que palmeirenses fanáticos não consigam entrar no Allianz Parque. Da mesma forma, há corintianos que nunca foram ao estádio de Itaquera. O preço dos ingressos selecionou quem faz parte do espetáculo", afirma o colunista numa das cenas do filme.

    Reprodução/Página oficial no Facebook
    Documentário "Adeus, Geral", feito por adolescentes, teve sessões lotadas no MIS em São Paulo
    Documentário "Adeus, Geral", feito por adolescentes, teve sessões lotadas no MIS em São Paulo

    ESCOLA

    "Adeus, Geral" começou a ser realizado em setembro de 2015 como um trabalho de escola para alunos do 2º ano do Ensino Médio no Colégio Santa Cruz, na zona oeste de São Paulo.

    Para a disciplina de Geografia, os estudantes teriam que fazer um trabalho com o tema "muros sociais".

    Eles poderiam falar sobre muros concretos, como o Muro de Berlim, na Alemanha - derrubado em 1989 - ou muros não físicos, mas que estabelecessem algum tipo de segregação na sociedade.

    Apaixonados por futebol e frequentadores de estádio, tiveram a ideia de falar sobre a "geral".

    "A gente fez um vídeo de pouco mais de 20 minutos. Apresentamos o trabalho e tiramos nota máxima. Depois nos reunimos e decidimos continuar", disse o estudante Gustavo Altman.

    "A gente realmente acredita que o futebol está perdendo a sua essência, e isso é um problema. Fizemos isso porque pelo menos conseguimos incluir o debate sobre o assunto nas pessoas", refletiu Gustavo.

    Sem experiência na área, o estudante conta que a maior dificuldade dos amigos foi na parte técnica.

    "A gente não tinha material para filmar. Filmamos com uma câmera fotográfica. A parte técnica não é das melhores, mas acho que pode até ser um charme."

    Outro produtor do filme, Matheus Bosco, agora com 18 anos, resolveu estudar fazer faculdade de audiovisual.

    Ele faz cursinho pré-vestibular e contou à Folha que já tinha intenção de estudar na área. O filme ajudou a sacramentar a opção.

    "Antes de começar a fazer o filme, eu tinha acabado de fazer um teste vocacional. Me ajudou a ver que era isso mesmo."

    A única menina do grupo, Martina Alzugaray, 17, disse que gostaria de seguir carreira ligada ao futebol —ainda não decidiu se com jornalismo ou se com marketing.

    Ela afirma que pode ter alguma dificuldade nisso, porque o futebol é uma área em que o machismo ainda está "impregnado".

    "O que fica em mim é a dúvida se vou conseguir no meio do futebol tão bem quanto os meninos".

    Ela afirma que ter trabalhado no filme pode ajudá-la.

    "Eu me inseri muito mais no meio. Conheci muita gente. Li muito mais sobre futebol. Sinto que já estou muito mais encaminhada a trabalhar com futebol."

    RAIO X - "Adeus, geral"
    Filme

    Ano
    2016

    Duração
    42 minutos

    Produção
    Gustavo Altman, Matheus Bosco, Martina Alzugaray, Pedro Arakaki, Pedro Junqueira

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