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    Jovem tenista americano foi até a Argentina para aprimorar técnicas

    DAVID WALDSTEIN
    DO "NEW YORK TIMES"

    04/09/2016 02h00 - Atualizado às 15h16

    Andy Lyons/AFP
    Jared Donaldson devolve bola na vitória sobre o tenista sérvio Viktor Troicki
    Jared Donaldson devolve bola na vitória sobre o tenista sérvio Viktor Troicki

    Quando Courtney Donaldson chegou pela primeira vez ao aeroporto de Buenos Aires, em janeiro de 2012, ele não falava o idioma e não conhecia os costumes da Argentina, e tampouco conhecia pessoa alguma por lá.

    Ao se aproximar da área na qual familiares e motoristas aguardam os passageiros, ele começou a procurar a pessoa que deveria estar lá para apanhá-lo, imaginando se algo de errado havia acontecido. Mas enquanto olhava de um lado para outro, ele avistou um sujeito de uniforme de tênis e com a característica coloração avermelhada do saibro manchando suas meias.

    Era o homem que ele estava procurando.

    O saibro avermelhado da Argentina, que se acumula como uma medalha de honra nos tênis e meias de qualquer pessoa que jogue nele, era exatamente o motivo para que Courtney estivesse levando seu filho, Jared Donaldson, a Buenos Aires.

    Alguns norte-americanos vão à Argentina para aprender tango, e outros para estudar a refinada arte dos vinicultores locais ou para aprender o idioma em cursos de imersão.

    Jared Donaldson, 19, foi de Rhode Island para a Argentina quando tinha 15 anos e passou quase 30 meses lá para aprender tênis nas quadras de saibro argentinas e absorver a fina arte do topspin.

    O que Donaldson adquiriu lá o ajudou a derrotar David Goffin, o cabeça de chave número 12 do torneio, na primeira rodada do Aberto de Tênis dos Estados Unidos e em seguida superar Viktor Troicki, o 32º colocado no ranking mundial do esporte, por 7/5, 6/3 e 6/3, na quinta-feira.

    No sábado (3), o jovem americano foi derrotado pelo croata Ivo Karlovic por 3 sets a 0, com parciais de 6-4, 7-6 (3), 6-3 e eliminado do torneio na terceira rodada.

    "Aprendi a rebater com efeito, a dar formato à bola e a desenvolver uma construção mais longa de pontos", disse Donaldson, que ocupa a 122ª posição no ranking mundial, antes do jogo de quinta.

    A ideia nada ortodoxa de levar Donaldson à Argentina surgiu basicamente de seu pai, dono de uma construtora em Rhode Island e um sujeito que nunca jogou muito tênis. Mas seu filho começou a mostrar talento e a falar de sua ambição de se tornar tenista profissional, e Courtney Donaldson decidiu que acompanharia o processo com toda a atenção.

    Ele via como seu filho costumava rebater as bolas com rapidez, em trajetória plana e sempre muito rente à rede. Nas quadras duras de Rhode Island –e de boa parte dos Estados Unidos–, seu jogo de força terminava por recompensá-lo com pontos rápidos.

    Mas não era aquele o tênis a que Courtney Donaldson vinha assistindo na televisão; os profissionais usavam rebatidas de trajetória mais alta por sobre a rede, com efeito considerável. Ao assistir a uma partida de exibição entre Roger Federer e Andre Agassi, Donaldson viu Agassi rebatendo uma bola reta, rápida e forte, para ganhar o ponto. Donaldson conta que ouviu o conselho de Federer a Agassi: "Agora o que importa no jogo são as bolas de efeito, você não sabia?"

    Donaldson diz ter lido um livro de Federer e se recordado de uma linha sobre treinamento em piso duro quando a quadra é coberta e no saibro quando é descoberta. Por acaso, um amigo dele conhecia Pablo Bianchi, antigo tenista profissional que se tornou treinador de tenistas argentinos.
    Quando Donaldson o contatou, Bianchi convidou o jovem para uma visita.

    "Todos os outros garotos e treinadores receberam Jared tão bem", disse Courtney Donaldson.

    Jared poderia ter treinado nos Estados Unidos, mas seu pai acreditava que ele precisasse de treinamento extensivo no saibro, algo que pode não ser fácil de encontrar em seu país de origem.

    Os Donaldson alugaram uma casinha em um bairro operário de Buenos Aires, Nuñez, e seu assoalho não demorou a viver coberto de traços de saibro vermelho. Jared usualmente fazia duas sessões de treino por dia e à noite assistia online às suas aulas de segundo grau, conta o tenista.

    Eles jantavam fora, atacando os espessos filés e as saborosas empanadas argentinas, e com o tempo aprenderam o espanhol necessário a se acomodarem melhor.

    A intervalos de alguns meses, Rebecca, a mãe de Jared, fazia visitas, e o pai dele voltava a Rhode Island para curtir a filha.

    Quando Courtney estava na Argentina, os dois iam assistir a competições de vários esportes, como jogos de futebol do Boca Juniors, partidas de polo e torneios de tênis. Já quando era a vez de a mãe dele visitá-lo, eles passeavam pela cidade conhecendo os lugares famosos e históricos e iam a museus, especialmente o Museu de Arte Latino-Americana de Buenos Aires.

    Ele voltou aos Estados Unidos por períodos mais longos no segundo e terceiro trimestres de sua primeira passagem pela Argentina, mas nos dois anos seguintes retornou ao país para mais duas estadias prolongadas.

    "Na Argentina, você precisa aprender a rebater a bola com efeito e a jogar tênis de quadra inteira", disse Taylor Dent, tenista aposentado e hoje treinador.

    Quando Donaldson voltou aos EUA de vez, ele precisou de ajuda com seu saque e contratou Dent e seu pai, Phil Dent, especialista em treinamento de saque. Ninguém pode declarar com segurança que sua experiência na Argentina fez de Donaldson um jogador de tênis melhor, mas a família a vê como grande sucesso por outros motivos.

    "Se Jared parasse de jogar tênis hoje, ele dentro de dez anos poderia recordar esse período como uma ótima experiência de vida", disse seu pai. "Esqueça o tênis; foi uma experiência muito recompensadora. Acho que ele realmente cresceu lá".

    Tradução de PAULO MIGLIACCI

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