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    Não adianta pagar milhões a jogadores e não cobrar, diz secretário de futebol

    CAMILA MATTOSO
    DE BRASÍLIA

    19/09/2016 02h00

    Há três meses no cargo, o secretário Nacional de Futebol e de Defesa dos Direitos do Torcedor, Gustavo Perrella, 33, diz que não vê problema nos preços altos de ingressos praticados pelos clubes.

    "O futebol é caro", afirma à Folha. Segundo ele, "a conta tem de fechar".

    Ele é filho do senador e ex-presidente do Cruzeiro José Perrella (PDT-MG), e foi escolhido para o cargo no Ministério do Esporte durante o período de interinidade do presidente Michel Temer.

    Dono, junto com o pai, do helicóptero encontrado pela Polícia Federal no fim de 2013 com 445 kg de cocaína, o secretário se incomoda pelo episódio ser lembrado até hoje. Não foram achados indícios de participação dos dois no caso e, por isso, nunca responderam judicialmente.

    Perrella faz ainda um alerta ao defender a ajuda do governo aos clubes: "Eles estão indo à falência".

    Além disso, defende mudança do calendário do futebol brasileiro para deixá-lo semelhante ao europeu.

    Divulgação
    Gustavo Perrella, secretário Nacional de Futebol e de Defesa dos Direitos do Torcedor
    Gustavo Perrella, secretário Nacional de Futebol e de Defesa dos Direitos do Torcedor

    *

    Escolas nos clubes
    O meu sonho é implantar escolas dentro dos clubes brasileiros. O atleta que não sair como jogador vai sair com formação de vida. Não sabemos ainda como vai ser exatamente. Pode ser uma plataforma online, por exemplo.

    Calendário do futebol
    Tem de ser revisto. É uma briga antiga. Dentro de um grupo de trabalho, a gente vai poder dar sugestões [para a CBF]. Vamos ouvir os atletas também. Eu acho que uma saída é ajustar ao calendário europeu. Principalmente pela questão das transferências dos atletas. Você monta um time hoje sem saber se vai chegar com o mesmo ao fim do campeonato.

    Elitização dos estádios
    Houve uma modernização grande. Os estádios estão prontos para receber todo tipo de evento. O país está repleto de estádios. O futebol é um esporte muito caro. A gente vê os salários que os jogadores recebem, multimilionários. O clube tem de criar receitas. Vejo o futebol como um espetáculo. A conta tem de fechar. Não adianta você pagar milhões para jogadores e não cobrar nada de quem está lá assistindo a esse show. Eu não vejo como essa conta fecha.

    Salários dos jogadores
    Não é um problema do Brasil, é do mundo. O jogador é um artista. Quem sou eu para mensurar o que uma pessoa tem direito a ganhar? Tudo é um mercado. Não dá para ter salários minúsculos aqui se lá fora oferecem grandiosidades.

    Dirigentes "eternos"
    Isso eu não concordo. Eu defendo a profissionalização das federações, que é o que está na Lei Profut [de refinanciamento de dívidas de impostos]. As federações precisam modernizar as gestões. Se fizerem isso, vão somar.

    Del Nero sob investigação
    Afetou o futebol de forma geral, já que a Fifa também teve problemas. Defendo a transparência, que as investigações aconteçam para que os culpados sejam punidos.

    Campeonatos estaduais
    É uma das coisas que pesam no calendário. Temos de lembrar que o futebol é mais do que apenas os maiores clubes. A importância dos Estaduais é para os clubes menores.

    Interferência do governo
    Parece um jeito pesado de dizer, mas vejo como a salvação. Os clubes estão indo à falência. Se não tivessem a oportunidade que tiveram, com a Lei Profut, se o governo não tivesse estendido a mão, não haveria um caminho bom para o futebol no futuro.

    Episódio do helicóptero
    Me incomoda muito. A situação é que nunca houve nenhum processo. A polícia sabia desde o começo da nossa isenção. A quadrilha estava grampeada havia muito tempo. Eu fui falar por vontade própria, porque realmente nunca teve um processo sobre isso. Todo mundo que tem um motorista pode ter um dia ele sendo pego por alguma coisa. Fui penalizado pela imprensa, julgado. A imprensa fez de um jeito para prejudicar a nossa imagem. Como figura pública, estou sujeito a isso.

    Relação do pai com a "bancada da bola"
    Nunca vi o senador [José Perrella] defender os interesses da CBF. Ele defende os interesses do futebol. Mas sugiro que você pergunte isso a ele. A secretaria vai defender o futebol, não vai defender o interesse de ninguém especificamente.

    Impacto da crise política
    Eu não falo nem só por mim. Todo país que vive mudança de governo afeta a vida de todas as pessoas.

    Esporte universitário
    Tem um modelo que funciona muito bem nos Estados Unidos. O aluno recebe bolsa de estudos para jogar. Acho que temos de criar um grupo ministerial para que a gente possa pensar nisso. Vamos ver se é viável criar algo assim aqui no Brasil. Um dos nossos primeiros projetos é criar um grupo de trabalho para levantar dados do futebol.

    RAIO-X GUSTAVO PERRELLA

    Nome
    Gustavo Henrique Perrella Amaral Costa

    Nascimento
    12.mai.1983, em Belo Horizonte (33 anos)

    Formação
    Administração de empresas

    Cargos mais importantes
    Secretário Nacional de Futebol e de Defesa dos Direitos do Torcedor (desde junho deste ano)
    Deputado estadual em Minas Gerais (cumpriu um mandato, entre 2011 e 2015)
    Vice-presidente de futebol do Cruzeiro Esporte Clube (entre 2009 e 2010)

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