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    Campeonato Brasileiro 2016 - Série A

    Palmeirense que viu o clube nascer visita pela primeira vez o novo estádio

    EDUARDO RODRIGUES
    DE SÃO PAULO

    25/09/2016 02h00

    A pele sensível e o andar lento revelam a avançada idade de Francisco Leone. A emoção e a alegria ao subir as escadas de acesso ao gramado do Allianz Parque não escondem os seus 89 anos de amor pelo Palmeiras.

    O tempo o afastou do estádio que ele viu receber o recorde de público em 1976 na partida contra o XV de Piracicaba. "Chicão", como passou a ser chamado por amigos, era um entre os mais de 40 mil presentes no ainda chamado Parque Antarctica.

    Foi o tempo também que lhe reservou um dos momentos mais emocionantes da vida no ano em que seu time briga para levantar o troféu do Campeonato Brasileiro.

    Nascido no Bom Retiro, região central de São Paulo, em 8 de janeiro de 1927, o garoto de cabelos lisos poderia se tornar mais um corintiano no bairro que deu origem ao clube alvinegro, mas o seu sangue italiano foi mais forte.

    Filho de Gina Grazzini, natural da Calábria, e Luiz Leone, de Nápoles, Francisco foi influenciado desde cedo a seguir os passos do pai e adotou o Palestra Itália como o time do coração.

    Aos 10 anos se tornou o sócio número 515 do clube, e assistir aos jogos à beira do gramado ao lado da família virou sua diversão.

    Incontáveis partidas fizeram parte de sua vida. A memória, porém, lhe prega peças. Lembrar o primeiro jogo ou o primeiro gol que presenciou no estádio é tarefa árdua, mas uma escalação nunca lhe saiu da cabeça.

    "Gijo; Carnera e Junqueira; Garro, Oliveira e Del Nero; Luizinho Mesquita, Canhoto, Echevarrieta, Lima e Pipi", diz com seu sútil sotaque italiano, lembrando a escalação do time que em 1940 conquistou o último título do Paulista com o nome de Palestra Itália.

    Em 1942, o Palestra foi obrigado a mudar de nome devido à entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial.

    A Itália, junto com Alemanha e Japão, formavam as "Potências do Eixo", e os brasileiros se tornaram inimigos.

    Francisco ainda era um jovem de 15 anos, mas se recorda do que seu pai dizia: "É tudo culpa da guerra".

    O Palestra se foi e o Palmeiras nasceu. Mas para Chicão a idolatria só aumentou.

    Nem Ademir da Guia, muito menos Marcos. Para Francisco, Lima foi o melhor jogador da história do clube.

    "Não tem outro. Eduardo Lima foi o melhor jogador que eu já vi neste estádio", diz.

    O meia que defendeu a equipe entre 1938 e 1954 foi um símbolo daquela mudança histórica que poderia trazer consequências graves para a agremiação fundada pelos imigrantes italianos.

    Pai de três meninas, Chicão mudou-se para a Barra Funda, bairro sede do Palmeiras, e a proximidade do estádio só aumentou sua devoção.

    Frequentava o clube diariamente para nadar, jogar sinuca e conversar sobre futebol. Suas filhas seguiam a mesma rotina, e tinham destino certo ao saírem do colégio.

    AÇÃO DO TEMPO

    Os anos se passaram e Francisco sentiu na pele a força do tempo. Os problemas de saúde o afastaram dos jogos e o sofá substituiu as arquibancadas do estádio.

    A perda da mulher em 2014 foi um duro golpe. A fala e o sorriso no rosto já não eram tão espontâneos. As idas ao hospital, tão corriqueiras como ir aos jogos no passado.

    Nos leitos, sua maior companheira se tornou a carteirinha de sócio, aquela de número 515 de quando tinha dez anos. Uma amiga inseparável que dá sentido à sua vida rodeada de cuidados. Por onde passa a mostra com orgulho.

    Foi ela inclusive que deu a Chicão motivos para sorrir e chorar de alegria outra vez.

    Diante da dificuldade de garantir ingressos para os jogos devido ao sucesso do programa de sócio-torcedor do Palmeiras, Francisco tinha uma nova barreira para frequentar o estádio. Porém, nada o impedia de ficar o lado de fora do portão, reavivando as memórias do passado.

    Em uma dessas incursões à beira do estádio e após muito insistir, finalmente conseguiu pisar no clube onde cresceu. Mas não era o bastante. Chicão queria ver de perto a bola rolar no gramado do novo Allianz Parque.

    Em 7 de setembro de 2016, dia em que o Brasil comemorou 194 anos de independência, o sonho do filho de italianos se realizou.

    Vestindo a camisa branca do Palmeiras dada pelo clube com o número da sua carteirinha de sócio do antigo Palestra Itália às costas, Francisco comemorou a vitória da sua velha paixão. Em um novo estádio, mas sobre um antigo rival, o São Paulo.

    A próxima alegria ele espera sentir no dia 4 de dezembro, após a última rodada do Brasileiro, quando o Palmeiras poderá levantar a taça de campeão brasileiro.

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