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    Caixa socorreu Odebrecht no estádio do Corinthians com R$ 350 milhões

    CAMILA MATTOSO
    JULIO WIZIACK
    DE BRASÍLIA

    09/10/2016 02h00

    A Odebrecht fez uma transação sigilosa com a Caixa Econômica Federal em 2014 para cobrir um buraco milionário para construção da Arena do Corinthians, palco da abertura da Copa no Brasil.

    O dinheiro, gasto pela empreiteira no estádio, não tem prazo para retorno. Para ajudar a Odebrecht a recuperá-lo, o banco estatal comprou debêntures emitidas pela empreiteira no valor de ao menos R$ 350 milhões.

    Debêntures são títulos de crédito lançados ao mercado para captar recursos. Na prática, funciona como um empréstimo. A Odebrecht terá que devolver esse recurso à Caixa com juros.

    O ex-presidente do Corinthians e atual deputado federal Andrés Sanchez (PT-SP), que participou do projeto de construção da arena, confirmou à Folha a transação, mas disse que não comentaria o negócio porque o acerto foi feito entre a Caixa e a Odebrecht, sem envolver o clube.

    Em 2014, a Odebrecht fez uma única emissão de debêntures, com valor próximo do socorro da Caixa, com vencimento em 2021, segundo pesquisa feita pela reportagem.

    A empreiteira foi contratada pelo Corinthians em 2011 para erguer o estádio. Pelo plano original, um financiamento do BNDES no valor de R$ 400 milhões seria utilizado para bancar parte da obra.

    O restante seria quitado com R$ 420 milhões em créditos cedidos pela Prefeitura de São Paulo –os Certificados de Incentivo ao Desenvolvimento (CIDs).

    O financiamento do BNDES, feito via Caixa, só saiu em março de 2014 e um impasse surgiu em relação aos CIDs: uma ação judicial questionou a validade do benefício municipal. Isso espantou os poucos empresários interessados em comprar os certificados, mesmo com o atrativo de descontá-los do pagamento de impostos.

    PRESSÃO

    A Odebrecht, mesmo sem os recursos, concluiu a obra a tempo da abertura da Copa. Ou seja, com o estádio entregue e em uso, já com o dinheiro recebido do BNDES, havia ainda um buraco de R$ 420 milhões decorrente do impasse em torno das CIDs.

    Foi aí que a Caixa decidiu comprar os papéis da Odebrecht. Segundo a Folha apurou, a operação foi estruturada porque a arena não tinha garantias suficientes para recorrer a outro banco.

    Marcelo Odebrecht, então presidente da companhia, atuou diretamente para agilizar os empréstimos e pressionou a Caixa para que o dinheiro fosse liberado com poucas garantias.

    O executivo está preso em Curitiba há um ano e quatro meses e foi condenado a 19 anos de prisão por crimes como corrupção e lavagem de dinheiro descobertos pela Operação Lava Jato.

    INADIMPLÊNCIA

    Antes de comprar as debêntures que ajudaram no financiamento da obra do Itaquerão, a Caixa Econômica Federal aceitou ser o banco repassador do empréstimo de R$ 420 milhões feitos pelo BNDES ao fundo de investimento imobiliário criado por Corinthians e Odebrecht.

    O clube começou a pagar as parcelas do financiamento em julho de 2015. As mensalidades de cerca de R$ 5 milhões deixaram de ser quitadas no último mês de março.

    Neste momento, o clube está inadimplente, com a permissão do banco público. O Corinthians tenta ampliar a carência acertada de 17 meses que venceu em 2015.

    O clube argumenta que outras arenas da Copa do Mundo de 2014 tiveram um período maior, de 36 meses. A Caixa pede mais garantias para conceder tempo ampliado para o pagamento das parcelas.

    Considerando o aumento do preço da obra e despesas com instalações temporárias para o Mundial, o estádio custou R$ 1,2 bilhão.

    Se mantiver o pagamento da dívida no prazo estipulado, o Corinthians terá desembolsado ao menos R$ 1,64 bilhão, em valores atuais, considerando os juros, como revelou a Folha em julho.

    PADRINHO

    Desde início do plano para a execução da obra que levantaria o estádio do Corinthians, o ex-presidente Lula e o ex-presidente da Caixa Jorge Hereda foram entusiastas do projeto.

    Em uma das fases da investigação da Lava Jato, a Polícia Federal encontrou menção a um pagamento da Odebrecht para um vice-presidente do Corinthians.

    Desde então, o Itaquerão entrou na mira da PF.

    OUTRO LADO

    A reportagem procurou a Odebrecht e a Caixa Econômica Federal e enviou perguntas específicas sobre a emissão e compra das debêntures. Por meio de sua assessoria, a instituição financeira pública informou que as operações envolvendo a Arena Corinthians são protegidas por sigilo bancário. Por isso, afirmou que não iria se manifestar sobre o caso.

    A assessoria de imprensa da construtora Odebrecht informou que, neste momento, não iria se pronunciar sobre a operação no estádio.

    A empresa e seus executivos negociam um acordo de leniência e de colaboração com a força-tarefa da Lava Jato, que prendeu diretores e o ex-presidente da companhia.

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