• Esporte

    Friday, 19-Apr-2024 12:52:13 -03

    Após arrecadar R$ 1,2 bi, Rio-2016 não reembolsa ingresso a 140 mil pessoas

    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    19/10/2016 20h52 - Atualizado às 00h30
    Erramos: esse conteúdo foi alterado

    Charlie Riedel/Associated Press
    A crowd watches the closing ceremony in the Maracana stadium at the 2016 Summer Olympics in Rio de Janeiro, Brazil, Sunday, Aug. 21, 2016. (AP Photo/Charlie Riedel) ORG XMIT: OLCC315
    Torcedores acompanham a cerimônia de encerramento da Rio-2016, em 21 de agosto

    O Comitê Organizador Rio 2016 descumpriu a promessa de reembolsar, até esta quarta-feira (19), 140 mil consumidores que solicitaram o estorno dos ingressos que compraram para o evento.

    A entidade havia se comprometido, em seu portal de ingressos, a transferir automaticamente o valor até 30 dias após o fim dos Jogos do Rio –sem detalhar se os Olímpicos ou Paraolímpicos.

    A Paraolimpíada terminou no dia 18 de setembro.

    Os torcedores que, por qualquer motivo, desistissem de sua entrada, poderiam disponibilizá-las em uma plataforma online de responsabilidade do próprio comitê.

    Os organizadores repassariam a quantia desde que houvesse revenda.

    Entre os milhares que até agora tomaram calote está o advogado mineiro Marcus Castro, 41. Ele conseguiu revender, por meio da plataforma, R$ 30 mil, mas só recebeu R$ 12 mil. "Não tem o que fazer, é entrar na Justiça. Eles pegaram o dinheiro que deveria vir para a gente."

    A mulher dele, Ana Carolina, também tem um valor a receber: R$ 2 mil. A maior queixa do advogado é a falta de satisfação do comitê.

    "A central telefônica para dúvidas e reclamações não existe mais. Pedem apenas para enviar e-mail, mas nunca respondem", argumentou.

    O Procon-RJ disse à Folha que tem, até agora, 43 reclamações relativas ao reembolso dos tíquetes revendidos.

    A paulistana Erika Dobelin, 33, criou grupo no aplicativo de mensagens Whatsapp com consumidores que tomaram calote nos ingressos.

    Eles estudam entrar com uma ação coletiva. "O pior é que estamos de mãos atadas, nem temos como cobrar, porque todos os canais foram desativados. Ninguém consegue dar uma satisfação segura", disse a gerente de vendas.

    Erika, que tem direito a R$ 1.000 de reembolso, chegou a contatar o escritório de advocacia do comitê organizador, mas teve um retorno burocrático. "Só me pediram para enviar um e-mail."

    Os consumidores que disponibilizaram seus ingressos na revenda oficial podiam ter atualização do status no próprio site. Outros afirmaram ter recebido comunicação assim que houve a revenda.

    O paulista Rubens Eduardo dos Santos, 39, teme que o atraso tenha a ver com a má condição financeira do comitê. "O que deixa mais temeroso é que a gente vê a situação dos fornecedores", disse ele, que tem R$ 2,6 mil a ver.

    Em setembro, a Justiça bloqueou R$ 9,8 milhões da conta bancária do Rio-2016 por dívidas com empresa ucraniana. A entidade também deve R$ 10 milhões à Light.

    O administrador Felipe Zago, 32, contou que para acelerar seu estorno enviou ao comitê os ingressos originais de tênis e vôlei que adquirira –essa possibilidade de "via rápida" foi estabelecida pela própria organização.

    "Eu recebi a confirmação, registrada, dos Correios. Eu deveria ter recebido o reembolso no dia 18 de agosto. Ganharam dinheiro duas vezes em nossas costas", concluiu.

    ARRECADAÇÃO DE R$ 1,2 BILHÃO

    Em balanço divulgado três dias depois da conclusão dos Jogos, em agosto, o Comitê Rio 2016 afirmou que 95% da carga de 6,5 milhões de ingressos disponíveis para o evento foram comercializados.

    Na ocasião, a entidade disse que somente 350 mil tíquetes encalharam.

    A procura, considerada um sucesso pela organização, gerou uma arrecadação de R$ 1,2 bilhão, que era a meta de venda estabelecida antes do evento.

    A comercialização de entradas para os Jogos Olímpicos em janeiro de 2015, com uma fase de cadastramento que perdurou até março.

    Depois, seguiram-se dois sorteios, com resultados anunciados em junho e agosto do ano passado.

    Entre outubro de 2015 e o final dos Jogos, foram realizadas vendas online de ingressos que sobraram. Houve também venda em bilheterias.

    Neste período foi lançada a plataforma virtual que dava a chance aos torcedores de repassarem os ingressos que não queriam.

    Por meio do sistema, ficou estabelecido que o comitê organizador revenderia o tíquete e devolveria ao comprador inicial o valor integral.

    A procura nem sempre foi grande. Antes do início do evento, a porcentagem total de bilhetes comprados não chegava a 80%.

    Durante a competição, aí sim, houve maior interesse as vendas diárias chegaram a atingir a marca de 100 mil por dia.

    Na edição anterior dos Jogos Olímpicos, em Londres (em 2012), 263 mil entradas sobraram nas bilheterias –de um total de 8,2 milhões disponibilizado. Na capital britânica, 97% das entradas foram comercializadas.

    OUTRO LADO

    O Comitê Organizador Rio 2016 afirmou que, do total de pessoas com direito a reembolso, 57% foram pagas. Pelas contas da entidade, 140 mil torcedores ainda têm valores a receber por revenda.

    A promessa de quitar tudo até esta quarta-feira (19), porém, não pôde ser cumprida.

    Segundo o diretor de comunicação, Mario Andrada, ainda nesta quarta os consumidores que não foram ressarcidos receberiam e-mail para providenciar informações sobre contas bancárias para receber o dinheiro, por meio de depósito.

    De acordo com o dirigente, o problema de não pagamento ocorreu com ingressos adquiridos em 2015, por meio de dois sorteios.

    A operadora de cartão não conseguiu processar estornos automáticos por problemas técnicos. Compras feitas com cartão de débito também não puderam ser reembolsadas. Repasses a compradores que adquiriram tíquetes em 2016 teriam sido feitos normalmente.

    Andrada disse que o comitê organizador não tinha informação de que esses fatores poderiam se tornar um entrave para o ressarcimento.

    "Não há a menor chance no universo de [os consumidores] não receberem o reembolso", afirmou o diretor.

    Além disso, ele disse que nesta quinta-feira um novo serviço de atendimento telefônico estará em funcionamento para atender questionamentos dos torcedores.

    "Assim que recebermos as informações das pessoas vamos pagar. Nós estávamos tentando uma solução."

    Edição impressa

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024