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    Rio-2016 deve pelo menos R$ 20 mi a fornecedores e negocia desconto

    CAMILA MATTOSO
    DE BRASÍLIA
    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    22/10/2016 02h00

    Afundado em dívidas, o Comitê Organizador da Rio-2016 tem pedido a fornecedores desconto de 30% para poder honrar compromissos.

    A Folha apurou que a entidade deve pelo menos R$ 20 milhões a empresas que prestaram serviços para os Jogos.

    A entidade chamou credores para negociações e alegou estar sem dinheiro em caixa.

    O abatimento nos valores acertados em contrato foi a opção apresentada para haver uma quitação em futuro próximo, segundo contaram à Folha algumas empresas.

    A tentativa de acordo nem sempre tem sido bem aceita.

    Inúmeros fornecedores que tentavam até há pouco obter seus pagamentos sem acionar a Justiça se irritaram com o pedido de desconto.

    Em consequência disso, os organizadores da Olimpíada já sofreram uma enxurrada de processos judiciais.

    A reportagem contabilizou pelo menos 25 ações que hoje tramitam em tribunais do Rio e de São Paulo, nas esferas estadual e federal.

    As reclamações não envolvem apenas inadimplência.

    Entre elas está a da empresa ucraniana Euromedia, que forneceu material visual ao megaevento, mas cujo contrato foi rompido. Em setembro, a Justiça determinou bloqueio de R$ 9,8 milhões na conta dos organizadores, que pediram reconsideração.

    Em outro processo, a chinesa Honav, que tem filial no Rio e confeccionava broches e mascotes para a Olimpíada, também pediu bloqueio de bens do comitê à Justiça.

    Procurada pela Folha, a empresa, que também cuidou de produtos licenciados nos Jogos de Pequim-2008 e Londres-2012, disse que não fará comentário sobre o processo.

    INGRESSOS

    Além de prestadores de serviços, como a Manpower Staffing (agência de empregos), que disse não ter recebido R$ 2 milhões, o comitê confirmou que até quarta (19) 140 mil torcedores que puseram ingressos para revenda na plataforma oficial não haviam sido reembolsados.

    A entidade havia prometido fazer os estornos até um mês depois do final dos Jogos -os Paraolímpicos se encerraram em 18 de setembro-, mas descumpriu o trato.

    O não pagamento gerou queixas de consumidores em redes sociais e no Procon.

    A organização dos Jogos atribuiu o atraso a problemas técnicos com uma operadora de cartão de crédito e, desde quarta, tem pedido via e-mail dados aos reclamantes para ressarci-los por meio de depósito bancário.

    Ainda assim, nesta sexta-feira (21) o Procon-RJ autuou a entidade pelo atraso na devolução do dinheiro aos torcedores. Deu 15 dias, a contar da notificação, para o comitê explicar-lhe os motivos da demora e dar prazos para efetuar todos os estornos.

    Se não der argumentos plausíveis ou responder a tempo, o órgão pode aplicar multa que vai de R$ 600 a R$ 9 milhões, com base no Código de Defesa do Consumidor.

    Dotado de um orçamento de US$ 2,8 bilhões (R$ 8,8 bilhões, em valores atuais), composto em sua maioria por verbas de patrocínio, aportes do Comitê Olímpico Internacional e verbas obtidas com venda de produtos licenciados e de ingressos, o comitê

    Rio-2016 teve de cortar despesas para garantir a realização da Olimpíada e da Paraolimpíada.

    Também precisou pedir socorro a patrocinadores estatais antes dos Jogos Paraolímpicos. O BNDES, a Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimento e a Caixa Econômica Federal foram patrocinadoras. Ele também recebeu R$ 150 milhões da Prefeitura do Rio.

    OUTRO LADO

    O Comitê Organizador dos Jogos do Rio, por meio de sua assessoria de imprensa, confirmou que realiza negociação com alguns dos fornecedores. Porém, disse que não instituiu um valor fixo para pedido de desconto.

    Ele enfatizou, contudo, que a concessão do desconto não está não atrelada a um pagamento imediato.

    A entidade afirmou que a negociação se trata de praxe de mercado e que não tem a intenção de não pagar os fornecedores.

    A organização confirmou que está sendo acionada na Justiça por diversos reclamantes, e que tenta abater ao menos R$ 20 milhões nessas rodadas de conversa.

    Na quarta-feira (19), o diretor de comunicação do comitê, Mario Andrada, afirmou que não havia a menor chance de os consumidores que puseram seus ingressos para revenda, e que até o momento não foram reembolsados, saírem de mãos vazias.

    O Rio-2016 se comprometeu a não utilizar dinheiro público em seu orçamento bilionário para realizar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos.

    Na reta final, entretanto, ele firmou convênio com a Prefeitura do Rio (de R$ 150 milhões) para ajudar na organização do segundo evento.

    O comitê também teve de recorrer a estatais patrocinar a Paraolimpíada, após reunião com o presidente Michel Temer.

    PERGUNTAS E RESPOSTAS

    O que é o Comitê Organizador dos Jogos Rio-2016?
    É uma associação civil privada, sem fins lucrativos, aberta em 2010 para organizar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos do Rio (a cidade foi eleita em 2009). De acordo com seu estatuto, o prazo de duração da entidade se encerra em 31 de dezembro de 2023.

    Quem chefia o comitê?
    Desde sua constituição, o presidente é Carlos Arthur Nuzman, também mandatário do COB (Comitê Olímpico do Brasil). Seus dois principais imediatos são Sidney Levy (diretor-geral) e Leonardo Gryner (vice-diretor-geral).

    Como o comitê se sustenta?
    Ele tem um orçamento de R$ 7,4 bilhões, segundo a entidade totalmente privado. 40% são provenientes de patrocinadores locais, 25% de aportes do COI (Comitê Olímpico Internacional), 16% (ou R$ 1,2 bilhão) da venda de ingressos, 12% de patrocinadores internacionais e 7% de licenciamento e outras receitas.

    NÚMEROS

    R$ 150 milhões
    Foi o valor do socorro dado pela Prefeitura do Rio por meio de convênio para realizar os Jogos.

    140 mil
    É o número de torcedores que puseram seus ingressos na plataforma de revenda oficial da entidade e não receberam reembolso.

    R$ 10 milhões
    É o valor bloqueado na Justiça na conta do comitê pelo não pagamento a fornecedores que prestaram serviços ao evento.

    R$ 20 milhões
    É quanto o comitê deve para empresas que prestaram serviços para a realização dos Jogos.

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