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    'Precisamos evoluir taticamente', diz técnica da seleção feminina de futebol

    LUIZ COSENZO
    DE SÃO PAULO

    13/11/2016 02h00

    Personalidade forte, rigorosa e chata nas cobranças. É assim que Emily Lima, 36, primeira técnica da seleção feminina de futebol, se define.

    Após atingir uma das metas estabelecidas para a sua carreira, a treinadora espera agora abrir mais portas para as mulheres e ajudar no desenvolvimento da modalidade no país para buscar o inédito ouro olímpico e mundial.

    E ela diz ter a receita para levar o time ao topo do pódio.

    Zo Guimaraes/Folhapress
    Emily Lima, 36, posa para a foto na sede da CBF, no Rio de Janeiro
    Emily Lima, 36, posa para a foto na sede da CBF, no Rio de Janeiro

    "Vejo a nossa seleção no mesmo nível da Alemanha [atual campeã olímpica], dos EUA. No nível técnico, somos até superiores, mas essas seleções estão mais evoluídas na parte tática".

    Em entrevista à Folha, Emily afirmou também que ainda discutirá com Marco Polo Del Nero, presidente da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), como ficará a seleção permanente.

    Antes de assumir o comando do time principal, ela criticou o modelo adotado para o projeto visando os Jogos Olímpicos porque a maioria das atletas convocadas jogavam fora do país.

    "A seleção permanente teria que focar o conjunto, mas 90% da equipe atuava fora do país", disse a treinadora.

    Ela afirmou ainda que pretende se reunir com a meio-campista Formiga, 38, para tentar fazê-la desistir da ideia de se aposentar da seleção no final deste ano.

    *

    Folha - A maioria dos times femininos tem técnicos. Você já enfrentou algum problema com atletas que não estavam acostumadas a ter uma mulher no comando?
    Emily Lima - Nunca tive problema com treinadora mulher na minha carreira e nem quando assumi a função de técnica. Quando tive treinadora mulher, eu me sentia mais tranquila e com mais facilidade para trocar ideias.

    Você acha que é uma questão cultural a ausência de técnicas nas seleções brasileiras de outras modalidades?
    É uma questão cultural do brasileiro. Isso já melhorou muito. O preconceito diminuiu, mas as mulheres ainda enfrentam muitas barreiras em todas as áreas da sociedade. A minha chegada quebrou uma barreira e espero que abra mais portas.

    Na nossa comissão técnica terá mais uma mulher, que é uma coach [o nome ainda não foi divulgado].

    Como foi a negociação para assumir a seleção brasileira?
    Conversei por aproximadamente duas horas com o presidente [Del Nero] e fechamos o acordo. Ele me deu carta branca para fazer o que considero importante para a nossa modalidade.

    Os trabalhos foram bem-feitos até agora, mas faltou algo porque não conseguimos alcançar o resultado desejável. Temos que melhorar a modalidade no país. Melhorar federações, clubes, competições, atletas.

    Você não concordava com o modelo da seleção permanente. Como será agora?
    É um assunto que vamos definir após o torneio em Manaus [Copa Internacional de futebol feminino, em dezembro de 2016]. Como a maioria das jogadoras que fez parte da seleção estava fora do país, acredito que a seleção permanente deveria ser com jogadoras da base. Temos que criar uma estratégia e um planejamento para ver o que é melhor.

    Pretende contar com a Marta, Cristiane e Formiga para o próximo ciclo olímpico?
    Conto com a Marta e com a Cristiane para mais um ciclo olímpico. Ainda vou conversar com a Formiga, mas vejo ela com potencial para jogar por mais dois anos e apostamos que ela consiga jogar em alto nível até os Jogos de Tóquio-2020. Ela se cuida e será muito importante para o time.

    Você se define como uma técnica que cobra muito. Como será a Emily na seleção?
    A Emily vai continuar sendo a mesma. Se queremos chegar à medalha de ouro, temos que nos aperfeiçoar.

    Você diz ser admiradora do Tite. Pretende trocar informações com ele neste período?
    Já tivemos alguns contatos e quero aproveitar essa oportunidade para conversar e aprender muito mais com o Tite, que monta muito bem o taticamente o seu time, e com toda a comissão técnica da seleção masculina. Vejo que a comissão inteira do Tite pode ajudar muito a comissão da seleção feminina.

    Como você vê a seleção feminina atualmente? A equipe precisa de renovação?
    A renovação é natural. Tem que acontecer, mas não sei se já neste primeiro momento. Acredito que tem que ser com cautela. Vejo a nossa seleção no mesmo nível da Alemanha, dos EUA. No nível técnico, acredito que somos superiores, mas essas seleções estão mais evoluídas na parte tática, que é uma situação com a qual gosto de trabalhar.

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