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    Só me candidataria para a CBB se eu fosse louca, diz Magic Paula

    PAULO ROBERTO CONDE
    DE SÃO PAULO

    19/11/2016 02h00

    A semana começou com um duro, porém previsível, golpe para o basquete brasileiro. Eliminado na primeira fase dos Jogos Olímpicos do Rio, em agosto, com as seleções masculina e feminina e com a sua confederação afundada em dívidas, que saltaram 1.000% em seis anos, o país foi suspenso pela Fiba (Federação Internacional de Basquete), na última segunda-feira (14).

    Para Paula, 54 –mais conhecida do público como "Magic Paula"–, a decisão "não foi uma surpresa". Uma das maiores jogadoras em todos os tempos, ela é taxativa ao dizer que a modalidade está em plena decadência no Brasil. Com a punição, nenhuma equipe do país pode disputar competições organizadas pela federação.

    "O basquete brasileiro não vai precisar de muitos anos para se reerguer, pois já chegou ao fundo do poço", afirma a ex-jogadora.

    Zanone Fraissat - 7.out.2013/Folhapress
    Ex-jogadora da seleção, Paula critica gestão da confederação
    Ex-jogadora da seleção, Paula critica gestão da confederação

    O Brasil já foi bicampeão mundial masculino e campeão mundial feminino –com Paula e Hortência como líderes, em 1994. Além disso, soma cinco medalhas olímpicas: três com os homens e duas com as mulheres.
    Paula, que já teve experiências em cargos públicos, no Ministério do Esporte e na gestão do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa, em São Paulo, lamentou a falta de envolvimento de atletas em confederações esportivas.

    Porém, descartou se candidatar para liderar uma virtual chapa para concorrer à administração da CBB, que terá eleições no próximo ano.
    "Só me candidataria se eu fosse louca. Jamais fui consultada para nada e não seria neste momento que iria me sujeitar a este papel", disse, nesta entrevista exclusiva concedida à Folha.

    *

    Folha - Como você encarou a suspensão da CBB imposta pela Fiba nesta semana? Como ex-jogadora, qual foi o seu sentimento?
    Paula - Não foi uma surpresa. É uma situação que não é novidade para quem acompanha a modalidade de perto. A sensação, por mais que possa ser estranha para quem está de fora, é de alivio por saber que ainda podemos ter esperança de um futuro melhor para o basquete brasileiro.

    A confederação, sob comando de Carlos Nunes desde 2009, está atolada em dívidas, tem deixado de organizar campeonatos e agora foi suspensa. É a pior situação do basquete brasileiro que você já presenciou em todos os tempos?
    Essa situação é consequência de uma série de gestões desastrosas e sem profissionalismo. É o reflexo de um sistema arcaico, no qual não sabemos qual o papel das federações e confederações esportivas neste país.

    Você tem experiência em gestão pública e comandou um projeto esportivo da Petrobras. Acredita que poderia se candidatar para a CBB?
    Só me candidataria se eu fosse louca. Jamais fui consultada para nada e não seria neste momento que iria me sujeitar a este papel.

    As mudanças necessárias só serão possíveis quando aqueles que têm o poder de retirar estas pessoas que colocaram o basquete brasileiro nesta situação resolverem tomarem uma atitude. Infelizmente, nós estamos com as mãos atadas.

    Os atletas e ex-atletas deveriam ter mais liderança na entidade, em cargos chave dentro da Confederação Brasileira de Basquete?
    Não acredito que quem tenha sido um bom atleta seja necessariamente um bom gestor. Os atletas podem participar de várias maneiras, alguns por terem uma imagem forte, outros por terem perfil de gestão e muitos pelo respeito pelo que já fizeram pela modalidade.

    Mas a abertura para essa participação jamais aconteceu, acho que talvez por medo dos dirigentes que soubéssemos do que acontece internamente.

    Patrícia Stavis
    A ex-jogadora de basquete Magic Paula
    A ex-jogadora de basquete Magic Paula

    No caso específico do basquete feminino, são pouquíssimas equipes que disputam o Campeonato Nacional [pelo segundo ano consecutivo terá apenas seis times]. Como você avalia a situação?
    Essa é uma situação dramática, mas que sempre existiu. Infelizmente, desde a nossa geração [com Hortência, Janeth e outras], o basquete feminino brasileiro sempre foi o patinho feio deste processo e hoje, talvez pela falta de ídolos, de posicionamento das jogadoras e de resultados pífios, o basquete feminino tenha chegado ao fundo do poço.

    É necessário um departamento feminino atuante, um país inteiro fazendo basquete, a formação de novos talentos, um planejamento de longo prazo e nos conscientizarmos de que não teremos resultados relevantes na próxima década.

    Você teme que o buraco seja tão fundo que o basquete brasileiro simplesmente não se recupere ou leve muitos anos para se reerguer?
    O basquete brasileiro não vai precisar de muitos anos para se reerguer pois já chegou ao fundo do poço.

    A CBB simplesmente "cuida", entre muitas aspas, das seleções e estamos vivendo há anos um desastre atrás do outro em relação aos resultados internacionais. Só mudamos pela dor ou pelo amor e, neste caso, vai ter que ser neste momento de dor.

    Após a suspensão da confederação, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) e o Ministério do Esporte pouco se pronunciaram. Não acha que eles deveriam ser mais atuantes?
    Não vou comentar sobre o papel de cada instituição, mas não posso aceitar que uma gestão desastrosa como a da CBB, que há pelo menos cinco anos tem um rombo que só aumenta, ainda tenha continuado a receber recursos [públicos] para sua sobrevivência, sem nenhuma intervenção.

    A Federação Internacional de Basquete chamou o basquete brasileiro de incompetente, precisou vir alguém de fora para dizer que o que a CBB faz há anos não é o correto e as instituições competentes não fizeram nada?

    RAIO-X MAGIC PAULA
    Nome completo:
    Maria Paula Gonçalves da Silva

    Nascimento:
    11.mar.1962 (54 anos), em Osvaldo Cruz (São Paulo)

    Conquistas:
    Medalha de prata na Olimpíada de Atlanta-1996; ouro no Mundial da Austrália-1994 e no Pan de Havana-1991

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